Saúde
Foto: Antonio Valiente / Agencia RBS

Enquanto a vacina da Pfizer começa a ser enviada em maior quantidade para os Estados, um fenômeno passa a ser registrado em postos de saúde do Rio Grande do Sul. Pessoas incluídas nos grupos autorizados a receber a vacina contra a covid-19 têm manifestado preferência pelo novo imunizante e recusa àquele produzido pela Fiocruz, o de Oxford/AstraZeneca.

— A Pfizer virou a menina dos olhos de todo mundo. Muita gente procura nos postos de saúde, questiona quando vai ter, quando vamos abrir para o público em geral (já que a preferência é para gestantes e puérperas). Gera transtorno — admite o diretor da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter.

Conforme Ritter, o problema foi registrado em maior escala quando houve a notícia da morte de uma gestante que havia recebido a vacina da AstraZeneca — a relação entre o imunizante e o óbito não foi comprovada, mas a aplicação foi suspensa para grávidas e puérperas.

— A vacinação ficou praticamente parada naquela época, em que estavam sendo vacinados os doentes crônicos. A vacina estava disponível e ninguém ia se vacinar. Mas agora foi possível contornar com a liberação para pessoas sem comorbidades, que não estão preocupadas com isso. Agora tem gente que quer a vacina. Com essa flexibilidade, foi possível distensionar — relata.

No Rio Grande do Sul, esse comportamento não está restrito a Porto Alegre, conforme o Conselho das Secretarias Municipais da Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS). Segundo o secretário-executivo, Diego Espíndola, os trabalhadores dos postos de saúde tentam “desmistificar” este assunto todos os dias:

— Tem casos de pessoas que não se vacinaram (por este motivo) e, pior, de pessoas que tomaram a primeira dose e que não voltaram para tomar a segunda. Ou seja, não fecharam o seu ciclo de imunização. Nós não vamos ter vacinas para todos porque a Pfizer tem mandado quantitativos não tão altos, não chega perto do volume que a Fiocruz tem enviado. Então, no momento em que as doses estão disponíveis, precisamos que as pessoas façam a vacina.

As duas vacinas são seguras

Um dos principais temores de quem recusa a vacina da AstraZeneca são os efeitos colaterais, como o risco de trombose. O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e responsável pelo estudo da vacina no Estado, Eduardo Sprinz, reforça que a ocorrência desse problema é muito rara:

— A chance é de um para 250 mil para ocorrer a chamada trombocitopenia trombótica. É um efeito raro, que pode acontecer tanto na vacina da Janssen quanto na vacina de Oxford, que têm a mesma plataforma. Mas mulheres que usam contraceptivos orais têm muito mais chance de ter trombose, assim como quem fuma e assim como a própria covid-19. Entre os nossos voluntários (da pesquisa do imunizante), nós não tivemos nenhum caso — explica.

Conforme Sprinz, os efeitos colaterais mais comuns são dores musculares, febre, calafrio e mal-estar — que acontecem após a primeira dose em um percentual entre 20% a 25% das pessoas vacinadas.

Diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Cynthia Molina Bastos destaca que a reação adversa é apenas um sinal de que o corpo foi submetido à vacina e de que o sistema imune foi provocado. Assim, a população não deve ter receio:

— O evento adverso pós-vacinal, para todas as vacinas disponíveis, não é equiparável ao risco da doença avançada. Isso é importante. Por outro lado, sempre que houve vacinação em massa, a gente sabe que vai aparecer algum evento adverso porque são muitas pessoas.

Quais são os riscos para a campanha de vacinação?

Os municípios tentam reforçar o combate às notícias falsas e a necessidade de imunização para que todos estejam protegidos. O Estado projeta vacinar 70% da população até setembro, mas essa meta só poderá ser atingida se todos forem aos postos de saúde quando chegar sua vez de se vacinar.

Conforme Espíndola, a recusa à AstraZeneca vai fazer com que as prefeituras avancem nos grupos sem ter concluído, de fato, a imunização dos anteriores:

— A gente não vai ter o fechamento do grupo com 100% de imunização. Essas pessoas vão estar sempre procurando as unidades, gerando filas, e não haverá imunidade total do Estado porque elas vão estar procurando uma vacina que talvez não esteja sempre disponível (Pfizer). Nós precisávamos de vacinas, as vacinas estão aí e agora precisamos de conscientização das pessoas.

Sprinz ressalta o rigor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na aprovação das vacinas e a necessidade de imunização:

— Qualquer vacina que não for segura não vai ser aplicada. A gente tem uma coisa chamada vigilância, e a Anvisa está “em cima” em termos de vigilância para estudar eventos adversos associados às vacinas. Qualquer vacina é vacina, e a melhor é aquela quer for aplicada no braço da pessoa.

GZH