A 2ª Vara Federal de Pelotas, no Sul do RS, condenou uma ex-servidora do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) a ressarcir mais de R$ 2,6 milhões ao órgão. Quando trabalhava na autarquia, ela teria concedido benefícios previdenciários de forma irregular.
A sentença, publicada no dia 8 deste mês, é do juiz federal Cristiano Bauer Sica Diniz. Segundo informações divulgadas na segunda-feira (14), o INSS ingressou, em novembro de 2019, com uma ação contra a mulher narrando que ela, na condição de servidora, concedeu indevidamente pelo menos 12 benefícios previdenciários mediante inserção de dados falsos nos sistemas informatizados do órgão. Sustentou que estão presentes os requisitos para a responsabilidade pela prática de ato de improbidade administrativa.
Em sua defesa, a ré argumentou que ocorreu prazo de prescrição. Ela também solicitou a liberação dos valores e bens que ficaram indisponíveis por medida determinada pelo juízo durante a tramitação do processo.
Ao analisar o caso, o magistrado pontuou que os benefícios previdenciários foram concedidos entre 2000 e 2003, tendo o prazo de prescrição da pretensão punitiva ocorrido em janeiro de 2019. “Nesse contexto, implementado o prazo de prescrição na esfera penal, mostra-se inviável o reconhecimento da possibilidade de punição pelo ato de improbidade administrativa, tomando por termo inicial do prazo a data do conhecimento dos fatos pela autoridade administrativa. Essa compreensão, além de decorrer logicamente da interpretação das normas, tendo em conta todo o sistema jurídico, condiz com dispositivos introduzidos recentemente na LIA [Lei de Improbidade Administrativa]”, afirmou o juiz.
Ele destacou que há possibilidade de condenação da ré a devolver ao erário os valores concedidos irregularmente, já que o STF (Supremo Tribunal Federal) firmou o entendimento de que são imprescritíveis as ações de ressarcimento fundadas na prática de ato doloso tipificado na LIA.
“Compulsando os termos do processo administrativo que instrui a inicial, verifica-se que foram identificadas diversas irregularidades nos benefícios previdenciários concedidos pela parte ré, consistentes na inclusão de tempo de contribuição fictício sem a comprovação documental e em desacordo com a CTPS [Carteira de Trabalho e Previdência Social]; inserção de vínculos diretamente no sistema visando comprovar tempo de trabalho em condições especiais e sem correspondência com a CTPS; e utilização de períodos indevidos de atividade rural em regime de economia familiar, em desacordo com a legislação da época da concessão do benefício”, afirmou Diniz.
O magistrado concluiu “que a natureza das fraudes, a reiteração das mesmas e a prova de que a demandada solicitava vantagens ilícitas para o encaminhamento de benefícios são conclusivas quanto à efetiva prática de atos dolosos de improbidade administrativa, que justificam a condenação ao ressarcimento do dano causado ao erário”. Cabe recurso da decisão ao TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).
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O Sul