Se você gosta das festas de fim de ano — ou pelo menos esperava pelo Natal ansiosamente quando era criança — é possível que suas lembranças da infância marquem dezembro como o mais longo dos meses.
Os dias de verão, que para muitas crianças brasileiras eram marcados pelas férias escolares, pareciam ter muito mais do que 24 horas. Sem aulas e lições de casa para fazer, cada dia era repleto de horas livres. Mas às vezes parecia que o Papai Noel nunca viria.
Já passar pelo último mês do ano sendo um adulto é uma experiência completamente diferente, que por vezes faz com que os mais velhos tenham saudade do tédio.
Reuniões de fim ano, pagamentos, compras para as festas e uma lista enorme de pendências para resolver antes que o ano acabe — e ainda assim, como em um piscar de olhos, quando menos se espera, o dia de Natal está apenas a alguns dias.
Se essas descrições parecem reais para você, saiba que não está sozinho.
A percepção do tempo é muito estudada e hoje já se sabe que, para adultos, o tempo parece passar muito mais rapidamente. É o que indica, entre outras pesquisas, um estudo feito por pesquisadores alemães, que aponta que a sensação do “passar do tempo mais rapidamente” fica ainda mais evidente quando se trata de períodos longos, como anos.
Mas as evidências científicas e interpretações de especialistas explicam que isso não está ligado apenas à idade, mas também a fatores como o estado emocional, a agenda social e contexto familiar.
Afinal, por que o tempo parece passar mais rapidamente para adultos?
“Quando você é criança, os estímulos que recebe são limitados e dentro de um certo controle. Conforme vai envelhecendo e se torna adulto, mais responsabilidades são adicionadas à rotina e você passa a ficar à mercê de muitas variáveis, o que acelera a percepção do tempo”, diz o psicólogo Cloves Amorim, professor do curso de Psicologia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e pesquisador do tema envelhecimento.
Como as atividades do dia a dia têm uma influência direta em como vivenciamos o tempo, ter um dia previsível e cheio de atividades ajuda o tempo a fluir de forma constante.
Mas o passar do tempo, aponta o especialista, é uma percepção subjetiva, e pode ser alterada para uma sensação de lentidão ou aceleração a depender de como você se sente ao fazer cada atividade.
“Uma variável muito interessante que foi adicionada nas últimas décadas é o uso intenso da internet. Quem nunca ficou olhando as redes sociais, e quando finalmente olhou o horário percebeu que muito tempo havia passado? O mesmo é quando adolescentes ficam horas jogando videogame e perdem a noção de tempo.”
Outro fator que interfere, aponta Amorim, é a questão da expectativa. Quando crianças, o desejo de finalmente receber um presente especial, ver os parentes ou tentar flagrar a chegada do Papai Noel torna a data algo a se esperar com ansiedade.
“Quando você sente que alguma coisa boa está para acontecer é possível que essa sensação faça com que o tempo pareça mais lento para finalmente chegar a esse tal evento. Já os adultos, no Natal, precisam se preocupar com as compras de presentes e comidas, organizar a festa… O tempo é mais tomado por tarefas do que pelos pensamentos de expectativa.”
O apelo comercial da data, com propagandas na TV e vitrines natalinas nas lojas desde outubro — ou até antes — é outra mudança que aumenta a sensação psicológica de que o Natal chega mais cedo.
Em geral, esses fatores podem contribuir para a sensação de que se passou menos tempo desde o último Natal do que esperaríamos em comparação ao período da infância.
Ainda assim, há também a possibilidade de que essa sensação mude a depender da sua percepção para a data a cada ano — afinal, mesmo adultos estão sujeitos a ter expectativas por fatores como uma viagem na época natalina ou para apresentar uma nova pessoa à família, por exemplo.
Correio Braziliense