Em breve, os brasileiros com sobrepeso ou obesidade terão uma nova alternativa de tratamento para redução de peso aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Trata-se da molécula semaglutida — inicialmente liberada no país para controle do diabetes, mas que mostrou importantes resultados para perda de quilos. O registro, como é chamado o aval da agência, foi dado nos últimos dias de 2022.
A aprovação foi dada para o medicamento Wegovy — mas usa a mesma droga ativa do Ozempic e do Rybelsus. A previsão da farmacêutica Novo Nordisk é que a droga chegue às farmácias brasileiras no segundo semestre deste ano. Não deve ocorrer, neste momento, um pedido de inclusão do fármaco no SUS.
O uso do medicamento é indicado para pessoas com sobrepeso somado a comorbidades ou para quem tem algum grau de obesidade. O Wegovy é aprovado para essa função nos Estados Unidos desde o ano passado. No Brasil, por outro lado, havia o uso da mesma molécula em metodologia off label — quando é preciso que o médico determine seu uso por conta própria, na bula a indicação de uso é para outra doença ou sintoma.
— Do ponto de vista do especialista em saúde é uma mudança muito importante. Quando a medicação é aprovada pela Anvisa nos dá uma segurança maior. Apesar de conhecermos os estudos e as aprovações internacionais, agora nossa segurança de uso é maior. Pois a formulação vem na dosagem exata e reduz o erro ou trabalho do paciente — explica Cynthia Valerio, médica endocrinologista e Diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).
A orientação da Anvisa é para que esse uso se dê em pacientes com mais 30 de IMC — quando o quadro começa a ser considerado obesidade ou em pessoas com o IMC acima de 27, o chamado sobrepeso, com doenças associadas, como pré-diabetes, diabetes tipo 2, hipertensão ou problemas cardiovasculares. Para se ter uma ideia, de acordo com o levantamento mais recente do Ministério da Saúde, uma a cada cinco pessoas no país têm obesidade. Uma taxa que está em crescimento.
Como funciona
O grande trunfo do medicamento é conseguir ampliar a resposta de um tratamento farmacológico à obesidade. Outras moléculas, explicam os especialistas, conseguem a perda de peso global de cerca de 6%. A resposta do novo fármaco é de 17%, em média, ao longo de um ano. Seu uso deverá ser prolongado, ou seja, o paciente precisará acompanhar junto ao médico o período em que será necessário fazer uso das aplicações. Ainda não há preço fechado para seu uso no Brasil, mas nos EUA o tratamento mensal é cotado a US$ 1.300 por mês, segundo a imprensa local.
— Recentemente, tivemos resultados de um estudo que mostrou a mesma eficiência do medicamento em adolescentes. A ideia é fazer a mesma solicitação (de registro) para a Anvisa, no Brasil — diz a diretora médica da Novo Nordisk, responsável pelo fármaco, Priscilla Mattar. — Há o desenvolvimento de estudos para um medicamento de semaglutida via oral (focada em pacientes com obesidade e sobrepeso). Mas ainda é preciso mais tempo, pois a absorção via oral pelo organismo é diferente, então precisamos determinar qual seria a dosagem correta.
O funcionamento da nova droga injetável aprovada no Brasil é imitar o funcionamento do GLP-1, um tipo de hormônio presente no intestino humano. A ideia é que essa molécula transmita a sensação de saciedade — o que consequentemente leva à perda de peso. Em geral, quando as pessoas têm algum grau de sobrepeso, obesidade ou até em casos de diabetes, essa balança da saciedade está desregulada: o que compromete o controle da gordura corporal, fator que pode estar associado à piora da saúde do individuo.
— O GLP-1 é uma substância produzida pelo intestino que atua como uma fonte de sinalização de que há alimento naquela parte do corpo. Com esse mecanismo, ele modula a velocidade na qual o estômago é esvaziado, reduzindo-a, e ainda induz a percepção de saciedade no hipotálamo, no nosso cérebro — afirma Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) — É uma medicação que tem eficácia e é segura. Soma-se às opções que temos para tratar os pacientes.
Entre os efeitos colaterais do medicamento, segundo a agência regulatória americana, Food and Drug Administration (FDA), estão: náusea, diarreia, vômito, dor de barriga, dor de cabeça e fadiga.
O Globo