Se já não é fácil viver em um apartamento com um cachorro adulto, mescla de golden com labrador, pense como seria rodar o mundo com esse cão. E dentro de uma Kombi. A resposta é mais impactante do que o imaginado: o pet chamado Galeto é o menor dos problemas.
— Ele é muito tranquilo. Perrengue mesmo é a Kombi, que fundiu o motor no primeiro dia — se diverte Vanessa Kapper, 31 anos, ao recordar do histórico assustador.
Vanessa e o namorado, Lorenzo Marques, 36, são os tutores de Galeto — e, porque não dizer, também do veículo de personalidade difícil, batizada de “Madalena”. O meio de transporte foi comprado e adaptado em 2018, em um investimento inicial de R$ 20 mil. Com os recursos modestos, foram feitos alguns consertos, a compra de um cooler e a colocação de armários. Atualmente, o carro já está na sua terceira versão: tem sofá-cama retrátil, fogão de duas bocas, pia com torneira, tomadas, chuveiro e frigobar, tudo sob medida. Os eletrônicos são alimentados por placas solares colocadas sobre o teto. Já uma mistura química manda embora os dejetos – sim, há uma privada, com tampa, no espaço de 3 m². Mas funciona sob regras.
— A gente só faz o “número um” na Kombi — se adianta Vanessa.
Madalena nasceu de um desejo do casal, fã de viagens. Ambos estavam cansados do dia a dia: ele era servidor público em Brasília, e ela tinha uma loja em Santo Ângelo, região das Missões, noroeste do Rio Grande do Sul. Ao pedir demissão, Lorenzo voltou a morar em Santo Ângelo, conheceu Vanessa, ela vendeu o comércio e, seis meses depois, juntaram as economias para tentar a vida sobre rodas e muitos pelos do mascote.
— Não me arrependi sequer um minuto, ou um dia. Foi a melhor decisão que tomei na minha vida — afirmou Lorenzo no programa Timeline Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (18) – ouça a entrevista no final desta reportagem.
Na primeira viagem mencionada, tiveram de ficar uma semana em São Borja, na Fronteira Oeste, à espera da retífica do motor. À época, jornais da cidade haviam noticiado a aventura prevista para superar os 20 mil quilômetros. Pararam na primeira centena, relembra o casal, às gargalhadas.
Em cinco anos, já foram 22 paradas para intervenção no “coração” do automóvel, um perrengue que ajudou a tornar as viagens mais interessantes aos seguidores do Instagram. A rotina, compartilhada pelo perfil Por Aí de Kombi, é acompanhada por 311 mil seguidores – marca da tarde desta quarta-feira (18) -, em vídeos editados pelos próprios viajantes. A partir de convites, posts patrocinados, venda de produtos estilizados com a iniciativa e parcerias, a dupla consegue bancar o objetivo de rodar o mundo sobre rodas.
Madalena ganhará um sucessor
Galeto passou a caroneiro ainda filhote, na segunda trip realizada.
— Só não esperava que crescesse tanto — mostra surpresa o tutor.
O bicho dorme embaixo da cama, e só causa algum tipo de inconveniência quando os locais visitados não aceitam animais. A preferência, por óbvio, é ficar sob o teto metálico junto do pet.
Após a virada do ano, a Kombi e seus moradores pararam em Capão da Canoa, no Litoral Norte, onde a mãe de Lorenzo tem casa de veraneio. O odômetro do painel já ultrapassou 100 mil quilômetros desde sua aquisição – soma-se a isso o que havia sido rodado desde 1994, em incontáveis voltas a partir do dia em que saiu da fábrica da Volkswagen.
A lataria, amarela na parte inferior e branca na altura dos vidros, é decorada com adesivos da bandeira de inúmeros locais. Em uma das laterais, há uma lista de cidades, que são riscadas logo que visitadas: Machu Picchu, La Paz, Quito e deserto do Atacama estão nos destinos internacionais da América do Sul, enquanto que outras três dezenas de cidades brasileiras completam a lista, de Cambará do Sul aos Lençóis Maranhenses.
Em Santa Catarina, repousa o sucessor de Madalena, que está com a aposentadoria marcada. “Madalenão” é um ônibus escolar, ano 1989, popularmente conhecido como “school bus”, utilizado para levar a criançada ao colégio nos Estados Unidos. Tem mais de três vezes o tamanho da Kombi, e aguarda a obra de adaptação dos móveis para abrir caminho. A aquisição do Madalenão contou com a ajuda dos seguidores da rede social.
— Fizemos uma campanha do “Pix de R$ 1”. Com isso juntamos os R$ 55 mil pra comprar o ônibus — explica Vanessa, com o celular em mãos, exibindo também os braços tatuados com homenagens à casa itinerante atualmente ativa.
O que acontecerá com a pioneira da família ainda é um mistério, mas ela não será abandona, garantem. Alguns passeios são feitos no irmão mais novo, o Del Rey “Amadeu”, comprado por R$ 2,5 mil no ano de 2021. O Jalapão, no Tocantins, é um dos exemplos, visitado a bordo do Amadeu.
— Esse é ano 1986, gostamos de veículos não convencionais — brinca mais uma vez a mochileira.
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Gaúcha ZH