Não é apenas a população geral e leiga que se assusta com o aumento crescente de casos de tumor de intestino entre pacientes mais jovens, fenômeno evidenciado pelos diagnósticos de personalidades como as cantoras Preta Gil e Simony e pela morte do ator americano Chadwick Boseman aos 43 anos. Alguns dos maiores especialistas em oncologia do mundo também veem o cenário com preocupação e tentam entender o que motiva a alta de casos nos últimos anos.
As causas exatas para o crescimento de tumores do tipo entre adultos com menos de 50 anos ainda não são conhecidas, mas os cientistas já têm evidências de que hábitos de vida não saudáveis, como consumo exagerado de alimentos ultraprocessados e sedentarismo, e práticas que se tornaram mais comuns nas últimas décadas, como uso indiscriminado de antibióticos e realização desnecessária de cesáreas, podem levar a mecanismos que favorecem o surgimento do câncer.
O assunto foi tema de ao menos três grandes painéis de discussão na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), principal congresso sobre câncer do mundo.
Os hábitos descritos acima podem causar uma inflamação crônica do órgão e provocar mudanças no microbioma do intestino, duas condições que parecem estar ligadas a um maior risco de mutações que causam o câncer, explicou ao Estadão Oliver Peacock, médico e professor no MD Anderson Cancer Center, hospital associado à Universidade do Texas (EUA), e um dos palestrantes.
“Ainda não temos a resposta exata, mas temos uma série de fatores ambientais que desempenham um papel nesse processo, seja a inatividade física, o consumo de comidas como carne vermelha e processada e outros fatores que desregulam o microbioma, como o uso de antibióticos”, afirma.
O microbioma intestinal é formado por milhares de espécies de micro-organismos e têm entre suas funções estimular o sistema imunológico, combater compostos alimentares potencialmente tóxicos e sintetizar vitaminas e outros nutrientes.
Em sua apresentação no congresso, Peacock trouxe uma revisão de trabalhos científicos que levantam fatores de exposição precoce que podem impactar o microbioma e elevar a inflamação das células intestinais. Entre esses fatores estão a alimentação desde a infância, a via de parto, a ocorrência de estresse, a prática de atividades físicas, consumo de álcool e cigarro, uso de medicamentos, entre outros.
Ele e outros pesquisadores também apresentaram análises que mostram que há mutações presentes em pacientes com câncer colorretal jovens diferentes das observadas com mais frequência nos pacientes com mais de 50 anos.
“Encontramos dois ou três genes específicos de interesse que tiveram diferenças entre os dois grupos. Agora, se conseguirmos estudar melhor esses genes, poderemos entender quais fatores de exposição fazem com que eles sofram mutações”, afirmou à reportagem Eric Lander, oncologista da Universidade Vanderbilt.
“Esses fatores ambientais parecem contribuir para o aparecimento das mutações. Mas o que exatamente faz com que elas sejam ativadas ainda precisa ser estudado”, disse o pesquisador do MD Anderson, que defende estudos mais robustos com pacientes jovens diagnosticados com câncer colorretal.
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O Sul