Solidariedade é a palavra que melhor define o cenário no Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Sentinela dos Sinos, no bairro Centro de Caraá, no Litoral Norte. No local, as pessoas que não puderam permanecer em casa recebem comida, colchões e muito acolhimento. Da noite de sexta (16) para sábado (17), 31 dormiram no lugar.
O município de pouco mais de 8 mil habitantes é um dos locais mais afetados pela passagem do ciclone extratropical. A situação vai além dos danos materiais: um homem foi localizado sem vida e 18 pessoas seguem desaparecidas.
Moises Pinto Bandeira, marceneiro, observa o interior de casa – sem luz e coberto de lama. Mateus Bruxel / Agencia RBS
Dezenas de pessoas se concentram no CTG Sentinela dos Sinos, onde recebem alimentação e camas para dormir. Mateus Bruxel / Agência RBS
Na manhã deste sábado, era intensa a movimentação no CTG, onde vários órgãos e secretarias do município se concentram para formar uma rede de auxílio à população. No lado de fora se escutava o barulho dos helicópteros do governo.
– Foram me retirar de casa, porque entrou muita água onde moro. Espero voltar assim que possível para ver meus gatos e cães – disse o autônomo Ademar Francisco dos Santos, de 52 anos, que passou a noite no abrigo e vive no bairro Centro, um dos mais afetados pela passagem do ciclone extratropical.
Vinda da localidade de Prainha, a aposentada Isaura Fernandes, 74, estava sentada em um dos tantos bancos de madeira conferindo mensagens no celular.
– Entrou água na casa, mas só perdi um botijão de gás. Passei uma noite no sobrado de um vizinho e a última aqui no CTG – conta, estimando que a água atingiu 1,5 metro dentro de sua residência.
No CTG, há muitas sacolas de roupas chegando, assim como alimentos e fardos de água. O vaivém de pessoas, bombeiros, policiais e integrantes de secretarias é constante.
Uma das ruas mais atingidas é a Inácio Rabelo dos Santos, onde muitas cercas foram derrubadas, assim como muros. Casas desapareceram e só restou o piso. Ao menos dois carros estavam destruídos e inclinados pela força da água.
Os animais também sofreram. A reportagem de GZH passou por dois cavalos e um carneiro mortos. Um sofá estava em um quintal quase no portão de entrada, após ter sido arrastado pela força do rio Caraá.
Às margens do rio, há algumas casas. Uma foi levada pela correnteza e sobraram talheres, tampas de panela e um chinelo.
– Era a casa de minha vizinha, que, por sorte não estava ali –, relata com o olhar perplexo Simone Machado, 38.
Poucos metros adiante, a moradora Claudete Weber, 47, mostrava alívio por estar viva.
– Graças a Deus, estamos bem e com saúde – desabafa, citando que trouxe seis vizinhos para sua própria casa quando o rio inundou e despejou sua fúria sobre o município.
Algumas pessoas passavam chorando pela rua. No CTG, pelo menos duas senhoras caíram em lágrimas e receberam o consolo dos presentes.
Uma casa na zona central da cidade onde funcionava um salão de beleza teve perda total. A água entrou e chegou a 1,5 metro de altura, destruindo computador, fogão e geladeira.
– A perda foi de 100%, mas vamos vencer – dizia a agricultora Rosimeri Costa Pinto, 55.
Ao lado do genro Moisés Pinto Bandeira e do amigo Alex Rosa de Fraga, os três colocavam os móveis no quintal da frente e se preparavam para uma pesada faxina.
– Quem mora aqui de aluguel é minha filha. Ela está desolada – lamenta a mãe Rosimeri.
Em outro ponto, um casal que está junto há 43 anos perdeu a casa inteira. Com a foto do casamento recuperada dos escombros, a esposa Angela Quaresma, 60, mostrava resiliência.
– Só temos que agradecer a Deus por estarmos vivos. Vimos a ponte do arroio Carvalho cair e nos atrasamos para voltar para casa. Foi nossa sorte – comentou ao lado do marido Celso Quaresma, 62.
Em torno do meio-dia, trilheiros e jipeiros conduziam mantimentos em um comboio para algumas localidades.
Busca por desaparecidos
A Defesa Civil do município informou que há um óbito em Caraá (um homem ainda não identificado). Há ainda 18 desaparecidos.
Uma senhora foi encontrada na manhã deste sábado no meio do rio dos Sinos, agarrada em um taquaral, onde conseguiu ser salva depois de 36 horas de espera e agonia.
– Temos alguns desaparecidos e uma equipe de motocross procurando pessoas em localidades onde o acesso está difícil – explica o coordenador da Defesa Civil do município, Antônio Augusto Borges.
Segundo Borges, mais de 50% do território está inacessível. Algumas das localidades mais atingidas pela força da água foram Sertão do Rio dos Sinos, Vila Nova, Fundo Quente, Arroio Guimarães, Linha Padre Vieira, entre outras.
O piloto Allan Bitencourt sobrevoou várias localidades com o helicóptero da Polícia Civil.
– Foi uma catástrofe – resume.
Quem puder levar donativos ao CTG, as maiores necessidades da população de Caraá são água, velas e lanternas.
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Gaúcha ZH