Saúde
Foto: Ilustração

Uma injeção para tratar diabetes tipo 2, aprovada em maio do ano passado pelo órgão regulador de medicamentos dos EUA, deve chegar ao Brasil nos próximos meses, após a liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), nesta segunda-feira (25). A tirzepatida, cujo nome comercial é Mounjaro, tornou-se muito popular no exterior também por quem deseja emagrecer.

“Tirzepatida destina-se a ser um tratamento adjuvante à dieta e exercícios para melhorar o controle glicêmico em adultos com diabetes mellitus tipo 2 (T2DM). A tirzepatida é o primeiro receptor dual de polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP) e agonista do receptor de peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1)”, descreve a Anvisa em seu site.

O GIP é um hormônio secretado pelo intestino em resposta à ingestão de alimentos, enquanto o GLP-1 é secretado pelo intestino e pelo pâncreas em resposta à glicose.

A tirzepatida se liga aos dois receptores, ativando-os e levando a uma série de efeitos benéficos no controle do diabetes tipo 2.

As apresentações incluem três doses: 5 mg, 10 mg e 15 mg, que devem ser tomadas por meio de injeção subcutânea uma vez na semana.

Segundo a FDA, a agência americana reguladora de medicamentos, em média, os pacientes que receberam a dose máxima recomendada de tirzepatida apresentaram uma redução significativa nos níveis de hemoglobina A1c (HbA1c), que é uma medida importante do controle do açúcar no sangue.

Essa redução foi observada tanto quando o Mounjaro foi usado sozinho como quando foi combinado com uma insulina de longa ação.

Além disso, quando comparado a outros medicamentos para diabetes, ele demonstrou ser mais eficaz na redução da HbA1c em relação à semaglutida (Ozempic), à insulina degludecae e à insulina glargina.

Apesar de não ser um fármaco desenvolvido especificamente para a perda de peso, esse pode ser um efeito do tratamento com o Mounjaro, razão pela qual ele passou a ser receitado por médicos nos EUA a outros pacientes, na modalidade off-label (sem indicação em bula).

“A obesidade é uma doença crônica que afeta a saúde e a qualidade de vida da população mundial, e o excesso de peso é o principal fator de risco modificável que leva ao diabetes tipo 2. Assim, medicações que tenham efeito no peso, em pacientes com diabetes tipo 2, como é o caso da tirzepatida, agregam ainda mais no tratamento, ajudando no controle não só da glicemia, mas de todas as outras complicações que o excesso de peso traz nesses indivíduos”, diz o médico Bruno Halpern, especialista em clínica médica, endocrinologia e metabologia pelo HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Os resultados, todavia, dependem de uma mudança no estilo de vida de pessoas com sobrepeso e obesidade, o que inclui uma alimentação balanceada e uma rotina de atividades físicas.

“Estive na Obesity Week 2022, em San Diego, na Califórnia, onde demonstraram que, durante os testes, uma pessoa típica com obesidade, que pesava cerca de 104 kg, eliminou 23 kg em um período aproximado de 17 meses. A grande diferença do Mounjaro para o que já temos no mercado, como o Ozempic (análogo do hormônio GLP-1), é que ele também traz o GIP na sua composição, tornando-o o primeiro quimérico do mundo com duas substâncias em uma molécula. Isso o faz muito mais potente e eficaz tanto no controle glicêmico quanto no emagrecimento”, explica a endocrinologista Elaine Dias.

Assim como a semaglutida, a tirzepatida promove diminuição da fome, aumento da saciedade e uma maior motilidade intestinal.

Em um estudo realizado com mais de 2.500 pessoas obesas ou com sobrepeso e alguma doença associada, 36,2% dos participantes que tomaram injeções semanais de tirzepatida conseguiram perder 25% ou mais do peso corporal após 72 semanas (um ano e meio).

“A cirurgia bariátrica resulta em uma redução de peso de aproximadamente 25% a 30% em um a dois anos”, ressaltaram os autores no documento, publicado no ano passado no jornal especializado The New England Journal of Medicine.

Restrições e efeitos colaterais

O fabricante do medicamento diz que “não se sabe” se ele pode ser utilizado por quem teve pancreatite (inflamação do pâncreas). Também ressalta que não pode ser aplicado em quem tem diabetes tipo 1. Tampouco há estudos que comprovem sua eficácia em menores de 18 anos.

“Os efeitos colaterais mais comuns de Mounjaro incluem náusea, diarreia, diminuição do apetite, vômito, prisão de ventre, indigestão e dor de estômago (abdominal)”, diz o laboratório.

Efeitos colaterais mais graves podem incluir pancreatite, hipoglicemia, insuficiência renal, alterações na visão e problemas de vesícula biliar, entre outros.

É fundamental que o uso desse medicamento seja feito sob acompanhamento médico.

Preço

Após a aprovação da Anvisa, cabe agora à CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), e ainda não há prazo para que isso ocorra.

Nos Estados Unidos, o preço de uma injeção de Mounjaro gira em torno de US$ 1.000 (R$ 4.987, na cotação atual). Naquele país, os valores podem ser substancialmente menores — chegando a US$ 25 (R$ 250) para quem tem plano de saúde.

Já no Japão, por exemplo, o tratamento para um mês sai em torno de US$ 319 (R$ 1.590), e nos Países Baixos, US$ 444 (R$ 2.214). Os dados são da ferramenta Peterson-KFF Health System Tracker, coletados em agosto deste ano.

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