Aos 18 anos, Tamiris Soares de Melo começava a construir a própria vida. No fim de 2023, ela havia começado a trabalhar, alugado a própria casa e se mudado com o filho, de três anos, no município de Candelária, no Vale do Rio Pardo. A jovem havia se separado há cerca de cinco meses, após um relacionamento de quatro anos. Vinha fazendo planos, desenhando um futuro, enquanto se permitia fazer novas amizades.
Esta vida, porém, foi interrompida no domingo (21), quando Tamiris foi morta com um tiro pelo ex-companheiro dela, Anderson Leandro de Carvalho Soares. Sem aceitar o fim do relacionamento, ele teria atraído Tamiris até a casa de familiares dele, onde ela buscaria o filho dos dois. Ali, após uma discussão, Soares teria sacado uma arma e disparado contra ela. O atual namorado da jovem, Tales Júnior Francisco da Silva, 25, a acompanhava naquele dia e também foi morto.
Conforme a polícia, o homem fugiu após a ação, mas se apresentou na delegacia de Candelária na terça-feira (23), acompanhado do advogado. Ele está preso preventivamente.
Descrita como sonhadora e alegre, Tamiris começou a trabalhar dias antes de fazer 18 anos, em novembro do ano passado. Vinha atuando em uma indústria de calçados. Com o salário, alugou uma casa para si e para o filho. Segundo amigos, focava todos os esforços em dar o melhor para o pequeno.
— Era uma mãe excelente. Estava sempre correndo atrás para dar tudo a ele, era guerreira, batalhadora. Ela estava bem, trabalhando, muito feliz porque ia poder dar ainda mais para o pequeno. Uma pessoa querida, amada por todo mundo. É muito triste o que aconteceu, ainda estamos sem acreditar. Se o relacionamento não deu certo, que eles seguissem, bola para frente, mas ele não aceitava o fim — afirma uma amiga da vítima, que preferiu não se identificar.
Conforme a mãe da jovem, Adriana Soares, 40 anos, Tamiris havia se separado em agosto do ano passado. Ela já teria tentado romper o relacionamento em outros momentos, mas acabava reatando por insistência do homem, diz a mãe.
Os dois se conheceram em 2019, quando a jovem tinha 13 anos, e passaram a morar juntos em poucos meses. Aos 15, ela engravidou. Após a separação, Tamiris voltou a morar com a mãe por cerca de um mês. Quando conseguiu emprego, alugou uma casa perto, onde passou a morar com o filho. Segundo a mãe, a jovem estava na melhor fase da vida.
— Ela era uma menina de 18 anos, com a vida toda pela frente. Sonhadora, festeira, fazia amizade por onde ia. Não existia tristeza perto dela, podia estar num momento ruim, mas estava sempre brincando, sorrindo. Ele interrompeu esses sonhos, tirou tudo dela. Ele tirou minha filha de mim — lamenta Adriana.
Agressões e ameaças
Conforme a mãe, após o nascimento do filho, Tamiris passou a relatar que sofria agressões dentro de casa, por parte do companheiro na época.
— Ela tentou se separar nesses anos todos. Iam e voltavam. Ela saía de casa, ia embora, e ele ia atrás. Já foi na minha casa, pedia para ela voltar, chorava. Ela acaba aceitando, mas ele voltou a agredir, bater nela. Ele nunca aceitou a separação, não aceitava que ela não quisesse mais ele — conta Adriana.
Segundo a Brigada Militar, ainda em novembro, a jovem registrou ocorrência por ameaça contra o ex. No relato, disse que ele a havia ameaçado de morte. Uma Medida Protetiva de Urgência (MPU) foi concedida pela Justiça, determinando que ele não se aproximasse da jovem. Conforme relato de Adriana, o homem seguia fazendo contato com a filha. Tamiris também teria procurado a Defensoria Pública do Estado para dar entrada no pedido de guarda do filho.
A mãe da jovem conta que ela estava se mudando de Candelária, em razão das ameaças feitas por Anderson. Há cerca de dois meses, Tamiris namorava Tales Júnior Francisco da Silva, 25 anos, também vítima de homicídio. Os dois planejavam morar em Esteio, em uma casa cedida por familiares dele.
— Ela já tinha levado tudo para lá, roupa, as coisas dela, porque queria ficar longe dele (do suspeito). Ele vivia ameaçando ela, mandava mensagem, ligava. Eu mesma tenho mensagem dele dizendo que ia matar ela. Ela não estava indo ao trabalho porque tinha medo de ele esperar ela na saída da empresa — diz a mãe.
Vítima tinha ido buscar o filho
Conforme Adriana Soares, no domingo, o combinado era que Anderson levasse o filho até a casa dela, onde Tamiris o buscaria depois. No entanto, por volta do meio-dia, o homem mandou mensagem dizendo que não levaria o filho até a ex-sogra.
— Ele disse que tinha deixado o pequeno com familiares, que moram perto dele. Disse para a Tamiris ir buscar o filho lá, só que a criança não estava.
Segundo Adriana, a filha foi até a casa dos familiares de Soares, levada de carro por Tales, e lá encontrou Anderson, mas não o filho. Então teria acontecido uma discussão.
— Para mim, foi algo planejado. Ele (suspeito) tem uma arma, registrada, mas mantém na casa de familiares. Mandou ela ir nessa residência. Na discussão, entrou, pegou a arma e atirou no Tales, depois nela — diz a mãe.
Por volta das 20h de domingo, os corpos foram encontrados por populares dentro de um veículo Ford Focus vermelho, que tinha as portas abertas e estava em uma plantação de soja. Esse carro pertenceria a Tales. A Brigada Militar foi acionada.
Depoimento
Na manhã de terça, Soares se apresentou na delegacia e foi ouvido pela polícia. Em depoimento, teria admitido que atirou contra as vítimas, mas alegado que fez isso porque pensou que Tales, em determinado momento, pegaria uma arma no porta-luvas do carro.
O advogado Milton Alves dos Santos Bragança, que defende Anderson Leandro de Carvalho Soares, afirmou que “os fatos não ocorreram apenas em razão da não aceitação do fim do relacionamento”. Segundo ele, “existem outros fatos que serão esclarecidos no decorrer da instrução do processo e que a defesa não pode antecipar neste momento.”
“O fato é que ele agiu em extremo estado de emoção no momento em que alvejou a pessoa que estava com sua companheira. Por sua livre e espontânea vontade resolveu comparecer à delegacia e contar toda a verdade. Com o intuito de colaborar com a polícia e com a Justiça. Nunca teve a intenção de praticar tal ato, o fez em estado de violenta emoção”, disse o advogado.
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Gaúcha ZH