Saúde
(Foto: Helena Pontes/IBGE)

Um recente estudo de revisão sistemática e metanálise avaliou o impacto do consumo de alimentos ultraprocessados no risco de câncer do aparelho digestivo. O estudo foi coordenado pelo gestor do Centro de Saúde Digestiva do Hospital Ernesto Dornelles (HED), Prof. Dr. Guilherme Sander, pelo Prof. Dr. Rafael Picon, professor de medicina da UFRGS, e conduzido pela gastroenterologista e endoscopista Dra. Gilmara Meine.

Este importante trabalho realizado pelos médicos do HED foi apresentado em maio de 2024 no maior congresso mundial de doenças do aparelho digestivo (Digestive Diseases Week 2024) e o artigo foi publicado em junho na revista científica American Journal of Gastroenterology.

De acordo com a classificação alimentar NOVA, desenvolvida pelo médico brasileiro Carlos Augusto Monteiro, os alimentos ultraprocessados são produtos industrializados, cujo processo de fabricação envolve o fracionamento de alimentos integrais, modificações químicas e adição de substâncias para melhorar a sua aparência, sabor e prazo de validade. São aqueles alimentos com índices elevados de gordura, açúcar e substâncias sintetizadas, como conservantes e corantes, tais como refrigerantes, sucos de caixinha, bolachas recheadas, salgadinhos de pacote, salsichas, nuggets, macarrão instantâneo, molhos prontos, margarina, queijos processados e sorvetes industrializados. Devido à sua acessibilidade, sabor, conveniência, prazo de validade prolongado e ampla propaganda, o consumo destes alimentos aumentou significativamente nos últimos anos.

A revisão sistemática e metanálise incluiu um total de cinco estudos prospectivos realizados na América do Norte e Europa, compreendendo 1.128.243 participantes que foram acompanhados por um período médio de 5,4 a 28 anos. Os estudos compararam pessoas com mais alto consumo de alimentos ultraprocessados versus pessoas com mais baixo consumo, investigando sua associação com o risco de câncer do aparelho digestivo por topografia. Todos estes estudos também levaram em consideração diversos fatores de risco conhecidos para câncer do aparelho digestivo, tais como idade, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas e obesidade.

Os participantes que tinham um elevado consumo de alimentos ultraprocessados apresentaram um aumento de 11% no risco de câncer colorretal e de 43% no risco de câncer gástrico não cárdia quando comparados àqueles com baixo consumo dos mesmos alimentos. No entanto, nenhuma associação foi encontrada entre o alto consumo de alimentos ultraprocessados e outros tipos de câncer do aparelho digestivo. “No caso do câncer gástrico, este foi o primeiro estudo com dados prospectivos a mostrar essa associação”, explica o Prof. Dr. Guilherme Sander.

O câncer colorretal e o câncer gástrico correspondem ao primeiro e segundo tipo de câncer mais comum do aparelho digestivo e, somados, são responsáveis por 17% de todas as mortes por câncer no mundo, de acordo com a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC).

“Em Porto Alegre, o câncer gastrointestinal é a principal causa de morte e, mais importante, é a principal causa de morte precoce (abaixo da mediana de idade esperada). Portanto, políticas de saúde pública devem focar na promoção de uma alimentação saudável, reduzindo o consumo de alimentos ultraprocessados e destacando a importância de consumir mais alimentos integrais e minimamente processados”, completa.

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O Sul