Segurança
Foto: Renato Mattos/Agencia RBS

Recostada em uma banca de revistas na Praça Quinze de Novembro, no Centro Histórico de Porto Alegre, a dona de casa Janete Helena Rodrigues da Silva Silvério, 57 anos, manuseia cuidadosamente o seu celular para responder uma mensagem de áudio. A escolha estratégica do local é uma das técnicas adotadas pela moradora do bairro Jardim Botânico sempre que precisa utilizar o aparelho na rua. Pouco antes da enchente de maio, ela presenciou um roubo e, desde então, redobrou os cuidados.

— Eu estava com uma colega minha falando no telefone e o arrancaram da mão dela aqui na Voluntários. Depois disso, eu geralmente entro em uma loja ou farmácia para poder falar. Até evito tirar o celular da bolsa. Só falei agora porque estou esperando meu esposo — comenta.

O que a dona de casa busca é se proteger da estatística que aponta que 17.360 celulares foram roubados ou furtados no RS no ano passado. Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que, em média, dois celulares foram levados por criminosos a cada hora no Estado, em 2023.

Com relação a 2022, houve uma diminuição de 0,4% na soma dos dois tipos de delito. No Brasil, roubos e furtos somaram 937.294 registros no ano passado.

Morador de Gravataí, Jaime Roberto da Silva Franco, 40, trabalha na Capital há 20 anos. Na tarde de segunda-feira (22), ele estava no Centro Histórico e precisou usar o celular para resolver detalhes da festa de aniversário de três anos do filho. Focado nos áudios e distraído do entorno, ele segurava o aparelho ao lado da orelha enquanto andava em círculos. Contudo, ao perceber a presença da reportagem, rapidamente guardou o dispositivo.

— Eu trabalho no ramo da construção civil e tem muitos colegas que já foram vítimas de assalto, mas eu nunca. Raramente sou distraído que nem agora, mas fiquei encarregado do bolo de aniversário, então precisei falar, mas estou sempre “no bico” — salienta.

Mais roubos e menos furtos

O levantamento aponta que em 2023 houve aumento de 10,1% nos roubos de celulares — quando há violência ou ameaça — e redução de 2,8% nos furtos, que ocorrem sem que a vítima perceba no momento da ação.

O comandante-geral da Brigada Militar, Cláudio dos Santos Feoli, pontua que a maior parte dos casos registrados como roubo não implicam em violência física, mas ocorrem porque os criminosos geralmente fazem algum tipo de ameaça às vítimas.

A lei prevê penas de quatro a 10 anos de prisão para roubos. Em relação aos furtos, a pena prevista é de um a quatro anos. Em ambos os casos, estas sanções podem ser ampliadas, se houver agravantes.

Quando a comparação é de 2023 com 2019, quando o RS teve 4.822 roubos de celular, os casos tiveram redução de 27%.

Os furtos, que tiveram queda expressiva durante a pandemia, chegando a 10,2 mil registros em 2020, aumentaram novamente e voltaram à faixa dos 14 mil casos em 2022. Já em 2023, voltaram a cair.

O chefe da Polícia Civil do RS, delegado Fernando Sodré, destaca que os roubos de celulares são combatidos por meio de uma operação permanente da Secretaria de Segurança Pública do Estado, a chamada Operação Mobile. 

— A Polícia Civil fez várias operações envolvendo quadrilhas que furtavam celulares, com resultados positivos. A Brigada Militar intensificou o patrulhamento nas áreas. Nós tivemos, de 2022 para 2023, um aumento nos roubos de celular, mas de 2023 para 2024, estamos com uma redução de 20% — comenta Sodré.

Feoli também destaca a operação. Ele pontua que o trabalho em conjunto com a Polícia Civil e prefeituras visa alcançar quem comete os crimes e quem compra os aparelhos.

— Fiscalizamos os revendedores desses aparelhos e, invariavelmente, é constatada quantidade significativa de celulares com origem indefinida. Com apoio de prefeituras e Polícia Civil, identificando o IMEI (sigla em inglês para “Identificação Internacional de Equipamento Móvel”) desses aparelhos, que muitas vezes terminam em apreensões e prisões — explica o comandante.

Locais e dias de crimes

As informações do Anuário são obtidas a partir dos microdados dos registros policiais e das secretarias estaduais de Segurança Pública. Conforme o estudo, em 2023, 78,9% dos roubos e 20,3% dos furtos — a maior parte — de celulares no RS ocorreram em via pública. O levantamento nacional também aponta que o sábado é o dia da semana com maior incidência (18%) de roubos e furtos no país.

O comandante da BM, Cláudio dos Santos Feoli, aponta o tráfico e o consumo de drogas como principais causas para roubos e furtos de celulares, que seriam usados como moeda de troca pelos entorpecentes. Ele também pontua que os locais com mais ocorrências são os centros das cidades e locais movimentados, como pontos de ônibus, onde as pessoas se distraem, tornando-se alvos fáceis para os criminosos.

Como se proteger

O comandante da BM dá algumas dicas para que as pessoas se protejam contra furtos e roubos:

  • Manter bolsas e mochilas fechadas, junto ao corpo
  • Tomar cuidado ao manusear o aparelho em locais públicos
  • Não colocar o dispositivo no bolso de trás da calça
  • Evitar manusear o celular em locais escuros
  • Se observar alguém suspeito, ou cometendo furtos, denunciar imediatamente às autoridades

Levaram meu celular, e agora?

O advogado José Milagre, especialista em crimes cibernéticos, dá algumas dicas importantes para atenuar e prevenir danos, caso o seu celular tenha sido roubado ou furtado.

  1. Preventivamente, o ideal é ter um “celular de casa”, reservado para as contas ou, pelo menos, não sair com todos os aplicativos bancários no celular 
  2. Usar aplicativos que ocultam os programas sensíveis também é uma estratégia efetiva
  3. Ativar biometria e segundo fator de autenticação para todos os apps
  4. Após o furto, procurar um outro dispositivo, acessar o icloud, em caso de sistema iOS, ou findmydevice, se for Android, e rastreá-lo solicitando bloqueio
  5. Imediatamente, contatar bancos, operadoras, exchanges para bloquear contas, chips e transações 
  6. Ativar todos os recursos de segurança do celular 
  7. Registrar a ocorrência policial

Denuncie

  • Brigada Militar: 190
  • Disque-Denúncia: 181
  • Pela delegacia on-line
  • Na delegacia mais próxima

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