Comportamento
Foto: Reprodução

Se ganhasse um dólar toda vez que alguém lhe pedisse para descrever um narcisista, Sarah Davies já estaria rica. Por essa razão, a psicóloga britânica decidiu escrever Como se libertar de um narcisista: Aprenda a reconhecer um relacionamento tóxico, se livrar da manipulação e recuperar sua autoestima (Sextante).

No livro, para facilitar o entendimento, ela reconta a fábula do escorpião e do sapo. Para quem não conhece a história, o escorpião pede ao sapo que o ajude a atravessar um rio. O sapo hesita: tem medo porque sabe do que os escorpiões são capazes. O escorpião explica que não seria louco de atacá-lo. Se fizer isso, os dois morrerão afogados. Apesar de relutante, o sapo concorda. No meio da travessia, o que temia acontece. “Por que você me picou?”, perguntou um. “Sou um escorpião…”, respondeu o outro. “E escorpiões picam”.

“É da natureza de um escorpião picar. Todo mundo sabe disso. O sapo também sabia. Como ele poderia esperar algo diferente?”, indaga a psicóloga, que viveu uma situação de abuso narcisista.

O livro de Davies não é o único sobre o transtorno a chegar às livrarias brasileiras. O outro é A nova ciência do narcisismo – Compreenda um dos maiores desafios psicológicos da atualidade e descubra como superá-lo (Cultrix), de W. Keith Campbell.

O psicólogo americano estuda o assunto desde 1999, quando soube que os atiradores de Columbine, massacre em uma escola do Colorado que terminou com 15 mortos, queriam que fosse feito um filme a respeito deles. Não satisfeitos, ainda queriam que o tal filme fosse dirigido pelo cineasta Steven Spielberg.

Narcisistas existem muitos. Pessoas com TPN, sigla para Transtorno de Personalidade Narcisista, nem tanto. Segundo estimativas, não passa de 1% da população. Mas há lugar para todos no espectro do narcisismo, de namorados tóxicos a líderes megalomaníacos. Nem algumas mães estão livres de apresentar sintomas do transtorno, como mania de grandeza, necessidade de atenção e falta de empatia. Quem garante é a psicóloga brasileira Michele Engelke. Ela é autora do livro digital Prisioneiras do espelho – Um guia de liberdade pessoal para filhas de mães narcisistas (2016) e editora do site Filhas de Mães Narcisistas.

“Se você acha que sua mãe é narcisista, a probabilidade de você estar certa é muito grande. Não há melhor especialista em narcisismo materno do que filhas de mães narcisistas”, explica no site. Para as filhas de mães narcisistas, há duas notícias: uma boa e outra ruim. A boa é que há tratamento para o TPN. A ruim é que, dificilmente, um narcisista procura atendimento. “Quando o convívio é prejudicial à saúde mental ou provoca impacto negativo na qualidade de vida, o contato zero torna-se uma opção”, pondera Engelke.

O que é narcisismo

É um traço de personalidade que envolve a autoestima. Todos nós, em algum grau, somos narcisistas.

“O narcisismo nos ajuda a enfrentar desafios, confiar em nossas habilidades e buscar reconhecimento por nossas conquistas”, explica o psiquiatra Eduardo Martinho Júnior, coordenador do Ambulatório para o Desenvolvimento dos Relacionamentos e das Emoções do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da FMUSP.

“Não há cura para o que não é doença”, ressalta o psicólogo Rodrigo Acioli, do Conselho Federal de Psicologia (CFP). “A personalidade narcisista, por si só, não gera transtornos para a vida do indivíduo”.

O narcisismo se torna problemático quando é extremo e inflexível. Ou, ainda, quando traz prejuízos e provoca danos na vida afetiva, familiar, social, acadêmica ou profissional do narcisista. Assim, o que era traço de personalidade vira transtorno psiquiátrico.

O Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) é o tipo clínico ou psiquiátrico do narcisismo. Está previsto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) desde 1982.

“É uma condição de saúde mental caracterizada por dificuldade persistente tanto na regulação da autoestima quanto no relacionamento com os outros”, define Martinho Júnior.

“As pessoas com TPN podem experimentar flutuações significativas na autoestima: ora são extremamente superiores, ora são profundamente inseguras. Isso pode levar a comportamentos aparentemente arrogantes e insensíveis, mas que, na verdade, são tentativas de lidar com dor emocional e medo de rejeição”.

A personalidade narcisista é caracterizada por uma admiração excessiva por si mesmo, acrescenta o psiquiatra Cláudio Martins, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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