Tempo
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/EBC

O Centro-Sul do Brasil experimentou desde o final da semana várias situações extremas com calor intenso, uma tempestade de fogo com vento e fumaça, chuva, frio e queda de neve. As várias ocorrências simultâneas impressionaram a população, mas como elas se explicam. 

Inicialmente, o que ocorreu? Uma massa de ar seco e extremamente quente atuou no Centro do Brasil na última semana e favoreceu temperaturas muito altas ainda no Sul e no Norte do Brasil com marcas perto e acima de 40ºC em vários estados. 

A cidade de Cuiabá registrou nove dias seguidos com máximas acima de 40ºC com pico de 42,2ºC. Somente ontem, com a aproximação de uma frente fria, a temperatura caiu com máxima de 31,2ºC. Ao mesmo tempo, a umidade na última semana foi baixíssima no Centro-Oeste e no Sudeste com valores em centenas de cidades de apenas 10% a 20%. 

O tempo seco e quente contribuiu para um salto no número de queimadas, como se dá todos os anos nesta época que marca o auge da estação seca no Centro do Brasil, mas a explosão de queimadas verificada em São Paulo não pode ser explicada apenas pelo clima e tem origem humana, o que deverá ser investigado pelas autoridades. 

O que se testemunhou em São Paulo na sexta-feira foi o extremo do extremo de fogo já visto desde que se iniciaram as medições por satélite. Em um único dia, o estado de São Paulo registrou na sexta-feira 1886 focos de calor, número maior que o ano passado inteiro. As queimadas já tinham se iniciado na quinta com centenas de focos. 

Somente entre quinta e ontem, São Paulo registrou 2621 focos de calor. Em um dado espantoso, o número de apenas três dias é superior ao total anual de queimadas de São Paulo de 2009, 2013, 2015, 2022 e 2023. 

Com a aproximação e a chegada de uma frente fria ao estado de São Paulo ontem, o vento forte espalhou incêndios, gerou tempestades de poeira e carregou a fumaça para mais cidades, fazendo o dia virar noite com céu alaranjado e escuro em parte do interior paulista em cenas que assustaram a população. 

A onda de incêndios ocorre na sequência de uma temporada de fogo com números muito acima do normal no Pantanal e na Amazônia com recordes mensais. O fogo cresce também no Cerrado com mais queimadas do que o normal em diversos estados do bioma. 

GELO E NEVE NO SUL DO BRASIL 

Ao mesmo tempo que o fogo explodia em números em São Paulo e crescia ainda em outras áreas do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil, uma forte massa de ar frio de origem polar e trajetória continental avançava pelo Sul do Brasil com muito frio, geada e queda de neve. 

Nevou na tarde e noite do sábado assim como na madrugada de hoje no Planalto Sul de Santa Catarina, especialmente nas áreas de São Joaquim e Bom Jardim da Serra, até com leve acumulação na vegetação no distrito do Cruzeiro, a mais de 1500 mil metros de altitude, em São Joaquim. 

Com isso, já são quatro dias neste mês de agosto em que há ocorrência de neve no Sul do Brasil. A neve caiu no Rio Grande do Sul mais cedo neste mês e em Santa Catarina na primeira onda de frio de agosto e agora novamente também na segunda. 

COMO O FRIO E O FOGO SE RELACIONAM 

O fogo que assolou São Paulo e outros estados do Centro do Brasil, obviamente, não tem origem no frio, mas o avanço do ar frio que impulsionou a frente fria colaborou para agravar os incêndios e gerar outros pelo vento que precede a acompanha a chegada do sistema frontal. 

Foi o que se viu ontem e se repete hoje no Sudeste e no Centro-Oeste. Ontem, a frente avançou por São Paulo e trouxe rajadas de vento forte que levantaram muita poeira que se somou à fumaça para escurecer o céu em diversas cidades. A ventania ainda fez com que o fogo que já ocorria se alastrasse e aumentasse nos pontos mais críticos. 

Neste domingo, com o deslocamento da frente fria mais para Norte, a fumaça também avança para Norte e alcança áreas do Centro-Oeste e do Sudeste que vinha com ar seco e quente, porém livre de muita fumaça. Casos de parte do estado de Minas Gerais e ainda Goiás. 

O QUE ESTÁ ACONTECENDO É NORMAL? 

Parte sim, parte não. O ingresso de ar frio com neve fim de agosto no Sul do Brasil é absolutamente normal. Ainda é inverno e normalmente massas de ar frio de origem polar chegam ao Brasil nesta época do ano com frio e, em alguns casos, com ocorrência de neve. 

Sábado, quando começou a nevar em Santa Catarina, marcou os 40 anos de nevada no Sul do Brasil e que trouxe neve até em áreas quase ao nível do mar em 24 de agosto de 1984, caso da cidade de Porto Alegre. A história está repleta de exemplos de ocorrências do fenômeno na segunda metade de agosto, inclusive alguns bastante expressivos. 

A maior nevada deste século até agora no Rio Grande do Sul, por exemplo, em 2013, se deu no fim de agosto com acumulação em dezenas de cidades do Rio Grande do Sul, na Serra e nos Campos de Cima da Serra. No evento do fim de agosto de 2013, Gramado ficou branca como não ocorria desde julho de 1994. 

Também o registro de queimadas no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil é comum nesta época do ano porque se trata do períodos mais seco da climatologia anual com escassez de chuva e em muitas cidades nenhum registro de precipitação por mais de cem dias. 

O que foge e muito ao normal é a quantidade de queimadas que se viu em São Paulo e nas últimas semanas e meses no Pantanal e na Amazônia. Se por um lado o clima esteve mais seco neste ano nestas áreas, por outro a maioria das queimadas e incêndios têm origem humana, ou seja, o clima não explica a quantidade enorme de fogo que se viu no território paulista e em outros estados.

Receba a notícias do Três Passos News no seu celular:

https://chat.whatsapp.com/BC2EPoxtSbEIlzleby7yT3

*MetSul.Com
https://metsul.com/brasil-arde-em-fogo-e-gela-com-neve-o-que-esta-acontecendo/ .