Um novo estudo, publicado na revista Nature Communications, revelou descobertas importantes sobre os genes que podem aumentar o risco de câncer de pulmão. Liderado por pesquisadores da National Cancer Institute (EUA) e da Yonsei University (Coreia do Sul), o trabalho utilizou uma técnica de ponta chamada “multiômica de célula única”, que permite estudar simultaneamente várias camadas de informação biológica de uma única célula, para identificar com precisão os genes que tornam certas pessoas mais suscetíveis ao desenvolvimento da doença.
Embora o tabagismo seja o principal fator de risco, cerca de 20-25% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em pessoas que nunca fumaram, o que levou os cientistas a investigar se a predisposição genética pode ser um fator determinante no estudo intitulado Abordagem multiômica de célula única com consciência de contexto identifica genes de suscetibilidade ao câncer de pulmão específicos de tipos celulares. “Compreender essas variações genéticas nos ajuda a entender por que algumas pessoas são mais vulneráveis ao câncer de pulmão, mesmo sem fatores de risco conhecidos, como o tabagismo. A pesquisa revela que há múltiplos elementos ainda desconhecidos no nosso DNA que podem aumentar o risco da doença”, diz Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico.
Para entender melhor esses fatores, os cientistas coletaram mais de 117 mil células pulmonares de fumantes e não fumantes. Utilizando uma combinação de técnicas que analisam tanto o DNA quanto a atividade dos genes dentro de células individuais, conseguiram mapear como os genes são regulados em diferentes tipos de células pulmonares, incluindo células epiteliais (que revestem o pulmão) e células do sistema imunológico.
O estudo se concentrou em encontrar pequenas mudanças no DNA chamadas de variantes causais (CCVs), que podem controlar quais genes são ativados ou desativados. Eles identificaram essas variantes em 68% das regiões do genoma conhecidas como de risco para câncer de pulmão. Curiosamente, essas variantes são específicas de certos tipos de células, o que significa que elas podem aumentar o risco de câncer de formas diferentes, dependendo do tipo de célula afetado.
“Os resultados deste estudo trazem uma nova perspectiva sobre a complexidade genética do câncer de pulmão. Com o uso da tecnologia de célula única, os pesquisadores podem agora analisar com muito mais precisão como as mudanças no DNA afetam a atividade de cada célula. Isso é um grande avanço em relação às análises anteriores, que só conseguiam estudar tecidos inteiros, sem a capacidade de separar as células individualmente”, afirma o oncologista.
Os pesquisadores descobriram que as células que revestem os pulmões (células epiteliais) e as células do sistema imunológico são as mais impactadas por alterações genéticas ligadas ao câncer de pulmão. Além disso, identificaram que um tipo raro de célula pulmonar, chamada célula AT2, responsável por regenerar partes do pulmão, pode desempenhar um papel importante no início do desenvolvimento de tumores.
“Essa pesquisa nos aproxima de estratégias de prevenção mais personalizadas, ajudando a entender melhor como o câncer de pulmão começa e se desenvolve, mesmo em pessoas sem histórico de tabagismo. Ao identificar as células específicas onde essas alterações genéticas ocorrem, estamos um passo mais perto de entender como o câncer de pulmão começa e evolui. Isso nos permitirá agir mais cedo e com mais precisão”, afirma.
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O Sul