Por 26 horas, mais de 50 pessoas da comunidade de Salto, no município de Parobé, na Região Metropolitana de Porto Alegre, se embrenhou na mata para buscar a idosa Natália de Souza, de 95 anos. Do pátio de casa, onde comia bergamotas com a filha Sueli, a senhora se levantou e saiu caminhando rumo ao mato, na tarde de sexta-feira (22).
Ela foi encontrada no dia seguinte, sentada em um galho de árvore, a cerca de 3 km de onde saiu. Também comia uma bergamota. Estava tranquila, lúcida, como diz a família. Questionada se iria voltar para casa, respondeu: “talvez”.
O neto Diego Rodrigues contou como aconteceu a história inusitada. Segundo ele, a avó “escapou” quando a filha Sueli entrou em casa por alguns minutos, para desligar uma panela de arroz que estava no fogão. Era 12h30.
“Ela tava no pé de bergamota. Perguntei para os vizinhos, fui atrás do rastro, e nada. Saiu de bengalinha, cabeça branca, casaco vermelho e calça azul”, narra Diego em um vídeo gravado durante as buscas iniciadas pela família, ainda na noite de sexta.
Os vídeos eram publicados no grupo da família, para que todos ajudassem nas buscas. Logo, amigos e policiais se juntaram à família.
A noite chegou e as buscas tiveram que ser encerradas, conta Diego. “Uma noite fria, com chuva. Era quase impossível ficar no mato”, observa.
Mas Natália ficou. Conforme o neto, ela fez uma cama de folhas, encostada em uma pedra, e dormiu lá. Para se alimentar, encontrou laranjas e bergamotas cultivadas na mata. Enquanto relata os fatos, Diego se mostra surpreso com o que aconteceu. “É impressionante mesmo”.
Era 16h45 quando Natália foi encontrada, sentada em um galho embrenhada na mata densa, e assim como estava quando sumiu, comia tranquilamente uma bergamota. O vídeo registrado pelo neto mostra que dezenas de pessoas haviam se juntado a busca.
Questionada por um deles se ia voltar à residência, Natália responde: “talvez”.
Vovó selvagem
A idosa morou a vida inteira no local chamado Beco Schiling, na localidade de Salto, como explica o neto. Ele acredita que a mulher não tenha se perdido. Natália sabia onde queria chegar.
“Vó e criança é a mesma coisa. Ela botou na cabeça que queria morar sozinha lá na outra casa que ela tem na cidade, só que pra chegar, tem uma mata densa”, observa o neto.
Por isso, ele acredita que a mulher deixou a residência onde vive com uma das filhas e o genro, sem avisar ninguém, nem preparar nada. “Como ela se criou na colônia, eles atalhavam os locais e chegavam até o local que ele queriam, talhando, cortando. Ela fez a mesma coisa. A metade do caminho ela foi”, ressalta.
Após o reencontro, Natália foi examinada por um médico. Estava bem, sem nenhum ferimento ou problema de saúde causado pela noite ao relento. “Até fez a caminhada matinal dela de todas as manhãs”, diz Diego. “Aqui na cidade, ficou famosa com o título ‘vovó selvagem’”, finaliza o neto.
G1 RS