Fora os Estados Unidos, a região Sul do Brasil é a segunda mais propícia do mundo a registrar ocorrência de tornados. A constatação é resultado de uma pesquisa, apresentada no 17º Congresso Brasileiro de Meteorologia, realizado no mês passado em Gramado, na serra gaúcha. O levantamento aponta 77 registros de tornados em Santa Catarina em um período de 33 anos (1976/2009).
Se a frequência destas três décadas permanecer a mesma, apesar de não ter como prever, há chance do fenômeno voltar ao Estado neste verão. A pesquisa mostra que desde 1999 o maior intervalo de ocorrência foi de três anos (1 em 1991 e o outro em 1994). Já de 2000 a 2008, todos os anos houve registro de tornado em SC. O último ocorreu em uma quarta-feira, dia 9 de setembro de 2009, quando um paredão de nebulosidade cobriu todo o Sul do país.
No Oeste e Extremo-Oeste catarinense, seis municípios foram atingidos. Na época, em Guaraciaba, dos 10,5 mil habitantes, 6,7 mil foram afetados pelo tornado. Cinco aviários ruíram, 116 casas foram parcialmente destruídas ou destelhadas, 44 mil aves, 200 bovinos e 970 porcos morreram. O reforço do Exército foi chamado. Todas as unidades consumidoras do Extremo-Oeste ficaram sem energia e um pinheiro de 10 metros foi arrancado pela raiz.
Mas, segundo o grupo de pesquisadores formados por cinco estudantes de meteorologia do Instituto Federal de Educação, o que coloca Santa Catarina na rota dos tornados não é número de ocorrências, nem a intensidade deles, mas as características geográficas do Estado. É no Sul onde mais se tem a entrada de nuvens carregadas pelo calor que, em 1% dos casos, em contato com ar quente, podem se transformar em um tornado.
Segundo o professor de engenharia civil Roberto de Oliveira, que participou do estudo, em um ano foram coletados dados em diferentes fontes de pesquisa como registros de jornais impressos, revistas e publicações meteorológicas. Do estudo, surgiu um mapa que mostra a força dos registros.
– Fomos selecionando as informações e retirando tudo aquilo que foi, de forma incorreta, sendo divulgado como tornado para termos dados mais consistentes e reais. A partir daí tivemos a conclusão de que em Santa Catarina os tornados ocorrem com razoável frequência e grande intensidade – informa.
Com os dados em mãos, o grupo resumiu que entre 1976 a 2009, Santa Catarina registrou 77 casos e o mês de maior ocorrência do fenômeno neste período foi janeiro, com 20 ocorrências, fevereiro, com 14, e março com 11. Nos demais meses os tornados foram registrados em períodos distintos e em menor número.
A explicação, segundo os pesquisadores, está na posição geográfica do Estado que no verão recebe constantemente o encontro do ar úmido do Amazonas com o ar seco dos Andes.
– Desta união se formam os tornados. Alguns ocorrem em alto mar, e com isso, nem o vimos. Quando ele acontece em áreas urbanas geralmente vem com ventos acima de 126 km/h e derruba árvores, placas, destelha construções e derruba casas de madeira – explica.
Ideia é desmistificar a população sobre tornados
Para o grupo, a intenção, além de fazer o levantamento, é desmistificar o que a população conhece por tornado, muitas vezes confundido com ventania. A diferença entre os dois fenômenos está na intensidade. A ventania apresenta ventos de até 120km/h e só derruba construções já condenadas ou pequenos objetos. Já no tornado, os ventos variam de 126 km/h podendo chegar a 308 km/h.
– Por isso a importância das pessoas conhecerem os dados. Devemos estar preparados e com melhores ações de prevenção- diz.
Segundo Ernani Nascimento, doutor em Meteorologia pela Universidade de Oklahoma (EUA) e pesquisador de ocorrências de tornados, toda a região que engloba o Norte e Nordeste da Argentina, o Paraguai, o Uruguai, o Sul do Brasil e partes de São Paulo e Mato Grosso do Sul têm condições atmosféricas que permitem a formação do fenômeno. Entretanto, lembra que no Leste da Índia e Bangladesh os tornados também são muito observados. Para ele, o Sul do Brasil concorre com esta região da Ásia como a segunda no mundo em número de tornados.
Em 2009, um estudo coordenado pelo pesquisador norte-americano Harold Brooks, do Laboratório Nacional de Tempestades Severas (NSSL), em Oklahoma, apontou a região entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina, oeste do Paraná e norte da Argentina e Paraguai como a segunda mais propícia à formação do fenômeno, perdendo apenas para os EUA.
NSC Total