Marcada para ocorrer a partir das 18h00min da quinta-feira (18/06), a Reprodução Simulada dos Fatos (conhecida como reconstituição) vai recontar os passos até a morte de Rafael Mateus Winques, de 11 anos, na cidade de Planalto. O menino desapareceu em 15 de maio e foi encontrado morto, dez dias depois, dentro de uma caixa na casa vizinha.
A mãe, Alexandra Dougokenski, de 33 anos, admitiu a autoria do crime, alegando ter exagerado em doses de medicação, mas disse que não teve a intenção de matar. Um laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) revelou que o garoto morreu por asfixia.
Alexandra Dougokenski e o outro filho, de 17 anos, que também estava na casa no momento do crime, irão participar da simulação. O corpo de Rafael será representado por um boneco com o mesmo peso e altura do menino.
A reconstituição é uma perícia complexa, sem ter hora para acabar. À frente do IGP, Heloísa Helena Kuser explica que o objetivo do trabalho é avaliar se a versão dada pela mãe de Rafael é real e se há viabilidade de ter acontecido da forma como foi narrada.
Por simular uma situação que já aconteceu, é necessário que o trabalho ocorra nas condições ambientais do crime, como horário, luminosidade e temperatura. A chefe do IGP explica que quanto mais estes fatores forem semelhantes aos do dia do fato, melhor será a qualidade da reprodução.
Pelo IGP, irão participar do trabalho, peritos criminais e fotógrafos. O acesso a casa será restrito aos servidores do instituto, delegados, à promotora do caso, Michele Kufner, e ao advogado de defesa, Jean Severo. Quando necessário, os policiais civis poderão ser chamados para ocupar o local de alguém que estava na cena.
O trabalho é feito em várias etapas. A Polícia Civil elabora os quesitos técnicos que precisarão ser respondidos pela reprodução. Aos peritos, cabe elaborar a prova para a investigação.
Até a data da reconstituição, é feito um estudo prévio em que os peritos estudam todo o inquérito, leem as versões apresentadas, conferem os laudos e preparam todas as versões que serão feitas no local, conforme os vários depoimentos. Até aqui, os delegados ouviram mais de 30 pessoas sobre o crime, entre eles, familiares, professores de Rafael, pais de amigos e o namorado da mãe da criança.
Outras perícias, como necropsia, análise toxicológica e análise do local do crime, permitirão responder a questões complementares, como saber se o menino realmente foi morto na madrugada de 15 de maio e se ele ingeriu medicamento.
Ao longo de todo o processo, cada passo é registrado por fotos e anotações. Um laudo posterior, que tem até 30 dias para ser concluído, vai confrontar as várias versões, analisar se há alguma disparidade e onde, tecnicamente, elas não são possíveis.
Entre os pontos que Alexandra Dougokenski terá de explicar é como teria tirado Rafael de cima da cama, no quarto, e o levado até a caixa de papelão na casa ao lado. – Entrei na casa, existe um espaço pequeno entre a cama e o armário. Ela terá de puxar o boneco, mostrar como ele caiu. O perito vai medir, fotografar e filmar – explica a chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor.
Outro detalhe apontado por Nadine Anflor é de que a porta do quarto de Rafael não abre completamente, devido a uma escrivaninha próxima à saída. – Como ela passou com ele, de ombro a ombro, por aquele espaço, simplesmente puxando. Ela vai ter de contar e mostrar como fez cada coisa. O perito vai dizer se tem ou não condições de ela ter feito aquilo. E vamos ver se ela conseguia carregar o filho ou não. Deve ser no escuro, até para ver se ela poderia enxergar a caixa (onde o corpo foi encontrado), se teria condições de carregar o menino no escuro, só com a luz da lua – completa a chefe da Polícia Civil.
Na quinta-feira, os trabalhos começarão na Delegacia de Polícia de Planalto, quando Alexandra Dougokenski será entrevistada pelos peritos. – Nesse primeiro momento vão criar uma empatia com ela, tem toda uma preparação. Depois, vão todos para o local do crime e aí, realmente, refazer o passo a passo. Vamos dizer que comece dentro do quarto do menino: se for preciso, talvez tenha que repetir 50 vezes a mesma posição em que ela pegou o filho. Ela deixou ele cair? Tem marca no ombro que possa indicar isso? Isso é a reprodução – detalha Nadine Anflor.
O irmão de Rafael também terá papel importante nos trabalhos. Em depoimento, o adolescente disse ter ouvido barulho da porta e visto uma luz acesa.
Um ônibus da Polícia Civil, que funciona como sala móvel de comando e controle, da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), estará no local para apoio tático. O isolamento da área terá o apoio da Brigada Militar.
– Queremos evitar aglomerações, garantir a segurança da população, da Alexandra Dougokenski, como presa temporária, e dar todo o suporte para as equipes – frisa Nadine Anflor.
Jean Severo, advogado da mãe do menino, afirma que a reconstituição trará à tona a dinâmica dos fatos, o que, segundo ele, irá ‘reforçar a tese da defesa de que foi crime culposo, sem intenção de matar’.
– Ela vai comprovar que foi ministrado por ela medicação, mas que nunca teve a intenção de ver o filho morto. Vai indicar que agiu sozinha, que a caixa que havia lá era dos vizinhos e que ela não premeditou e nem pensou em colocar a caixa lá. Também vai demonstrar que a corda não foi comprada, que ela já tinha há muito tempo – diz o advogado.
GZH