É você quem dá alimento, mas é por outra pessoa que seu pet balança o rabo e corre para o abraço? Sim, pode acontecer. Em uma família, sempre tem uma pessoa pela qual o pet dedica intenso afeto — em especial cães e gatos, que interagem mais com os tutores.
A paixão é tanta que reflete em seu comportamento. Ciúme, quando o pet não deixa pessoas tocarem no tutor em questão, ou acessos de xixi cada vez que o “humano preferido” faz carinho são algumas das maneiras de identificar a pessoa pela qual o coração do mascote bate mais forte (literalmente).
Tudo bem, mas e os outros? E a pessoa responsável pelo banho, pelo alimento e os cuidados do dia a dia, como fica? Em segundo plano?
Não pense que seu pet é ingrato, que não dá valor para quem o alimenta e o protege. Aliás, as pessoas responsáveis pelo bem-estar do mascote, na maioria das vezes, são eleitas o humano número um da casa. Mas então o que explicaria a exceção?
Os critérios de seleção da mente rudimentar de um animal são intimamente relacionados à sobrevivência. Sendo assim, é verdade que o pet nutre especial interesse no par de pernas compridas que traz o alimento. Se ele não precisa caçar para manter-se vivo, já é meio caminho andado para viver atrás do dono da comida, mas não é apenas isso.
A afinidade é outro aspecto que precisa ser considerado, e crianças — aquelas mais tranquilas, que não têm o costume de puxar as caudas dos animais — costumam ganhar a cena quando o assunto é a pessoa preferida da casa. Os mais jovens mostram maior afinidade e disponibilidade para dedicar momentos do dia amassando, beijando, entretendo e agradando aquela coisa peluda que agarra seus dedos e entra na brincadeira. Ainda que o pequeno não dê um mísero petisco para saciar a fome do mascote.
Por conta disso, alguns tutores ficam ressentidos por acreditar não estarem sendo reconhecidos pelo pet. Porém, sim, estão. Não necessariamente é a mesma pessoa que representa tudo o que faz o bichinho feliz: alimentação, abrigo e entretenimento. E, dependendo da fase da vida do mascote, o entretenimento, o que inclui mimos e afagos, pode estar em primeiro lugar. Animais, em especial os mais jovens, costumam largar tudo (até a comida) para gastar bons momentos em uma brincadeira. Ponto para quem tem paciência de deitar no tapete e rolar com o mascote.
Essa particularidade também ajuda a explicar por que alguns animais, depois de anos na mesma família e interagindo com os integrantes dela, de repente se apaixonam pela namorada do filho ou pela nova empregada. Ingratidão? Em hipótese alguma. Assim como os humanos, cães e gatos também estão permeáveis a novos relacionamentos, e mais uma vez a afinidade fala mais alto. Abraços e carinhos são rapidamente relacionados à presença do indivíduo cuja presença passa a ser esperada com grande expectativa.
E isso não é novidade. Muitos tutores já usaram essa habilidade dos pets de se “enroscarem” nas pernas alheias para acolher pessoas que chegaram em suas vidas. Quer que um pet receba bem o novo integrante? Desdobrar-se em carinhos é uma forma conhecida de ser bem aceito pelo animal, seja ele de pequeno ou grande porte.
Mas, atenção: animais destinados à segurança da casa, que foram criados com pouca interação, enxergam diferente a entrada de novas pessoas na família. Dessa forma, a questão do afeto não se sobrepõe à desconfiança, sentimento que impera por várias semanas ou até mesmo a vida toda. Uma outra forma do recente integrante ser aceito é por meio da alimentação. Um cão de guarda identifica a importância de quem o alimenta, permitindo sua aproximação. Mas, ainda assim, isso pode se mostrar insuficiente para garantir uma relação harmoniosa ou segura.
Daisy Vivian é diplomada pela UFRGS em Medicina Veterinária e Jornalismo. É autora dos livros “Cães e Gatos Sabem Ajudar Seus Donos” e “Olhe-me nos Olhos e Saiba Quem Você É”, histórias reais sobre pessoas e seus animais de estimação.
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Donna GZH