Na preservada área de mata nativa, algumas espécies animais ameaçadas de extinção estão abrigadas.
A harpia, também conhecida como gavião-real, é um dos exemplos. Considerada a maior águia do continente americano, a ave tem uma envergadura de mais de dois metros, pesando até nove quilos, e foi vista pela última vez em solo gaúcho no Parque Estadual do Turvo, em 2018. A espécie está ameaçada de extinção.
Após a instalação de câmeras, que também flagram a movimentação de outras espécies, como antas, jaguatiricas e pumas, pesquisadores chegaram a uma conclusão preocupante: só há uma onça-pintada atualmente na área. Além disso, ela é um macho, sem possibilidade de se reproduzir e dar continuidade à presença da espécie no parque.
“Isso nos impactou muito, porque há não muito tempo tinham três e até quatro onças. O que aconteceu com essas onças a gente não sabe. Essa é a última onça do estado do Rio Grande do Sul”, lamenta Flávia Tirelli, professora do Programa de Pós-graduação em Biologia Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
De acordo com Rafael Diel Schenkel, gestor do parque, a onça-pintada é um animal de alta circulação, frequentando tanto o Parque Estadual do Turvo quanto o Parque Florestal Moconã, em solo argentino.
“Acende um alerta para a gente, para a ciência, para a população ao redor, para o estado como um todo, porque aqui é o único local que tem onça pintada no estado”, comenta Rogério Nunes, doutorando em Biologia Animal na UFRGS.
A presença de caçadores
Atualmente, a principal ameaça à presença de onças-pintadas e outras espécies no Parque Estadual do Turvo é a atuação ilegal de caçadores na região. No local, patrulhas de fiscalização encontram armadilhas e vestígios da passagem de pessoas em busca de animais.
“Para eles não perderem a trilha, eles fazem marcação nas árvores e no chão, para poderem sair e continuar na trilha certa”, explica o sargento Fábio Luis Heming, da Polícia Ambiental.
Dentro do parque, outros indícios da passagem de caçadores são encontrados, como vegetação cortada recentemente. Cachorros, que são ameaças para os animais residentes no Parque Estadual do Turvo, também já foram flagrados por câmeras.
Durante a passagem da RBS TV ao local, não foram encontrados caçadores, somente vestígios. Nos últimos 18 meses, segundo dados da Polícia Ambiental, foram encontrados pela fiscalização 72 locais de caça.
Uma das principais dificuldades em se fazer uma fiscalização adequada dos mais de 17 mil hectares que compreendem o parque é a falta de pessoal. De acordo com o plano de manejo do Parque Estadual do Turvo, o número ideal para a fiscalização da área total da área é de 20 guardas-parques – atualmente, apenas cinco estão presentes. Além disso, a falta de equipamento adequado é outro problema recorrente.
O Ministério Público já ingressou na Justiça para obrigar o estado a cumprir a planificação. A secretaria estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), que é responsável pelo Parque Estadual do Turvo, afirma que o remanejamento de guardas de outros parques para atuar na fiscalização do local é recorrente.
“A gente tira um guarda de um lugar e manda para outro para formar forças-tarefas que executem da melhor forma (a fiscalização). Isso é rotativo, então dessa forma a gente atende a todos os lugares, claro que nunca deixando nenhuma unidade sem nenhum tipo de fiscalização ou guarda-parque”, explica Lisandro Gonçalves, diretor de Biodiversidade da Sema.
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G1 RS