Comportamento
Ele faz aniversário no final de julho. Foto: Bruno Todeschini / Agencia RBS

Em 2019, quando começou a ensinar sobre células no Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), a professora Diane Lina já conhecia a fama do senhor de quase 80 anos que cursava Medicina Veterinária depois de ser o primeiro colocado no vestibular. Foram seis anos na companhia do resiliente aluno que, incentivado pela esposa e provocado por um sonho, chegou ao objetivo.

Natural de Santo Ângelo, pai de quatro filhos, avô de 11 netos e bisavô de três bisnetos, Salcedo Grass Lautert, 81 anos, será agora médico veterinário. A formatura está marcada para o dia 23 de agosto.

— Ele sempre foi muito divertido e otimista. Ajudava os colegas a se motivarem com as atividades e era auxiliado pelos mais jovens a lidar com a tecnologia. Se apresentou mesmo quando foi muito bem em uma prova de Citologia e Histologia, uma disciplina muito complicada e que deixou os colegas no chinelo — conta Diane.

Há 36 anos na Serra, Lautert se instalou em Farroupilha e empreendeu em uma gráfica. Foi também fabricante de carimbos e funcionário concursado do Hospital São Carlos. A aposentadoria deixou, então, uma lacuna na vida de quem, por um sonho, foi incitado a buscar todo o tipo de conhecimento.

— A inércia me fez pensar que precisava voltar a estudar. Quando trabalhava na gráfica sofria com muitas dores na coluna e me perguntei o motivo. Naquela noite eu sonhei com a minha irmã falecida carregando livros. Na manhã seguinte, um homem bateu na minha porta oferecendo um livro chamado O Poder do Subconsciente. A partir de então, nunca mais parei de estudar.

Parapsicologia, espiritismo, filosofia e, enfim, células, a matéria favorita de Lautert que pôde ser colocada em prática no estágio feito no laboratório de patologia clínica e também em uma veterinária de Farroupilha. Experiências que agora estão no currículo do veterinário.

— Gosto de cirurgia e de patologia, mas me pergunto onde vou exercer. Preciso de emprego — considera.

Conquista em meio ao luto

As perdas de Lautert, que enfrentou a morte de duas filhas, uma com dois e outra com 27 anos, não o definem, mas ilustram a força de vontade que encontrou estudando. Faltava pouco para concluir o estágio curricular quando ele perdeu de forma repentina a esposa, por um linfoma em estágio avançado.

— Ela tinha 75 anos, estava bem e, de uma hora para a outra, partiu. Era minha maior incentivadora, foi quem descobriu o curso de R$ 49,90 na internet e que me fez passar em primeiro lugar. Eu encontrei na meditação a paz que precisava para concluir. Dizia para mim mesmo todos os dias que iria conseguir — diz.

Durante os quase sete anos de curso, Lautert enfrentou, além da pandemia e suas aulas virtuais, duas cataratas que prejudicaram a visão. Surgiu, então, uma nova habilidade. Que, inclusive, o ajudou na memorização dos conteúdos:

— Não enxergava nada, nem o portão de casa. Faziam para mim letras enormes nas provas, mas me dava bem porque precisava decorar os conteúdos, então me saía bem — conta.

A formatura será com festa. O filho Jean Carlo Lautert, 47, planeja reunir amigos e familiares em uma confraternização que celebra o sonho antigo do pai de concluir o Ensino Superior.

— Ele estava obstinado a conseguir, era o sonho da vida dele e a gente sabia que ele não tinha realizado. Foi interrompido aos 50 anos, quando cursava Direito e nossa irmã faleceu com um derrame cerebral, aos 27. Minha mãe acompanhou todo o processo. Morreu faltando 10 dias para concluir o estágio e sabemos que ela acompanhou tudo e está muito orgulhosa — diz.

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Gaúcha ZH