Uma armação retangular de tecido grosseiro preenchida com palha de milho ou outra qualquer ou, então, de capim formava um gostoso colchão macio. No começo, o cheiro da palha ou do capim incomodava um pouco, mas depois, o cheiro se esvaia. As palhas do colchão deveriam ser remexidas de tempos em tempos porque se comprimiam com o peso da pessoa e o colchão ficava duro. Depois de remexido, o colchão voltava a ficar macio. O travesseiro era de palha e o colchão de inverno era preenchido com penas de aves (galinha, pato, ganso).
A Blogueira e memorialista Neuza Guerreiro de Carvalho, descreve sobre a essência de como era antigamente ter um colchão improvisado:
Os primeiros colchões de que me lembro eram de palha de milho desfiada, crina, capim, barba de bode ou paina. Só tivemos de palha de milho mas os parentes tinham de todos os tipos.
Os colchões de paina (e também travesseiros) eram os mais macios, feitos com a pluma que envolvia as sementes das paineiras. Na época do outono as paineiras ficavam e ficam,cor de rosa, suas flores são polinizadas geralmente por pássaros (hoje maritacas). No inverno muitos frutos dependurados quase substituem totalmente as folhas e ao se abrirem espalhavam as sementes que flutuavam no ar suspensas pela pluma até chegar ao chão. Lindo. Até hoje me encanta.o espetáculo das sementes flutuando. Mas nunca tivemos um colchão de paina. Talvez um travesseiro.
Os de palha de milho eram os mais modestos. Qualquer casa tinha sua plantaçãozinha de milho. Comidos os grãos usava-se a palha. Capim e barba de bode só no campo.
No início, os colchões nem eram pespontados. Eram simplesmente uns sacos cheios com um desses materiais. Depois de uma noite de dormir, amanheciam disformes, cheios de altos e baixos. Era uma trabalheira deixar o colchão bem plano, uniforme. Para isso havia na fazenda, uns rasgos do tamanho aproximado de um palmo, por onde se enfiava a mão, afofando o algodão, ou palha ou… De tempos em tempos o “recheio” era trocado e o pano também. Eram feitos em casa. Era orgulho para a dona de casa deixar o colchão bem plano, e uma cama bem arrumada era sinônimo de capricho.
Depois, vieram os colchões de fabricação externa, industrializados, de algodão ou crina, pespontados, lisinhos, mas muito pesados. Arrumar a cama era realmente serviço difícil, para colocar os lençóis brancos, de algodão e deixá-los bem esticados. Mantê-los branco e passá-los a ferro (então de carvão) era outro drama.
Em 1949 tivemos nosso primeiro colchão de molas, Probel. Foi preciso trocar o estrado da cama, de molas e alto, para estrado ripado para acomodá-lo. Um deles durou 40 anos (acho que ainda está “vivo”.
Mesmo então, o costume de arrematar a cama na cabeceia com um rolo continuou. Só que minha mãe o chamava de “pirolão”.
Pensei que os colchões de espumas de densidades determinadas e bem anatômicos fossem os mais modernos. Engano. Hoje voltaram as molas, mas agora ensacadas uma a uma, com todos os requintes de luxo. Descobriu-se que o tempo que se dorme deve ser confortável porque influi na saúde. Os mais modestos continuam sendo os de espuma e em alguns nem se cogita em saber a densidade.
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