Denúncia
Foto: Reprodução/RBS TV

A 8ª Coordenadoria Regional de Saúde do Rio Grande do Sul investiga o caso de uma mulher que precisou fazer um parto dentro de uma ambulância estacionada em frente ao Hospital Associação Beneficente Santa Rosa de Lima, em Arroio do Tigre, na Região Central. A instituição foi a terceira tentativa do casal, na madrugada do dia 28 de abril. Antes, eles passaram pelos hospitais São João Evangelista de Segredo e de Sobradinho, tendo que percorrer um total de 22 km de distância entre os três municípios.

O parto e todo atendimento à mãe e à criança precisaram ser feitos dentro da ambulância, pois o hospital de Arroio do Tigre manteve as portas fechadas após funcionários se recusarem a atender mãe e filho, segundo o pai da criança e pessoas da equipe médica.

Em nota, o Hospital Santa Rosa de Lima afirma que desaprova a conduta dos profissionais e abriu uma investigação interna para apurar a responsabilidade dos envolvidos. O Hospital diz ainda que não é referência para partos e por isso não tem plantão com médico obstétrico. Leia nota completa abaixo.

RBS TV também procurou a Secretaria de Saúde de Segredo, para entender por que a mãe foi encaminhada para Sobradinho, mesmo sabendo que não havia atendimento de obstetrícia, mas a secretaria não quis se manifestar sobre o caso.

Os pais de João Lucas, Max e Júlia, moram no interior de Segredo. Logo após os primeiros sinais de que o parto se aproximava, o casal foi até o Hospital São João Evangelista de Segredo. Lá eles receberam a informação de que instituição não teria a equipe necessária para o atendimento.

“Ela [a atendente] disse que eu teria que passar em Sobradinho, porque ali não tem médico, só a partir da próxima semana”, explicou a mãe.

Já quase em trabalho de parto, Júlia seguiu até o no Hospital São João Evangelista de Sobradinho, porém lá também foi informada de que a instituição não poderia realizar o procedimento e que a região não tem hospital referência para partos de baixo risco.

“O município de Segredo era sabedor, obviamente, que até quinta à tarde [dia 27 de abril], o Hospital São João Evangelista ainda estava com o seu centro cirúrgico interditado. Provavelmente, e muito cristalinamente, não era possível que, se está desinterditado à tarde, tu tenha uma equipe pronta à noite. Por isso, que a gente não consegue ainda chegar em uma conclusão da exatidão do porquê foi enviado para o Hospital São João Evangelista”, explica Júlio Roberto Lopes, coordenador da 8ª Coordenadoria Regional de Saúde.

Terceira negativa

A equipe médica de Sobradinho, no segundo hospital onde o casal tentou atendimento, acompanhou a mãe na ambulância até Arroio do Tigre, onde mais uma vez Júlia teve o atendimento médico negado.

“Encostou a ambulância na frente, eles abriram, e a enfermeira só fazia sinal que não, que não ia abrir. Eu só queria que o meu filho nascesse com saúde, eu não pensava em mim, em mais ninguém, só nele”, disse a mãe.

João Lucas nasceu ali mesmo, dentro da ambulância em frente ao hospital. O pai da criança gravou o momento em que a esposa passava pelo trabalho de parto. “Aí ó, nascendo meu filho aqui, na porta do ‘Tigre’”, comenta Max.

Nota do Hospital Santa Rosa de Lima

O Hospital Santa Rosa de Lima, de Arroio do Tigre, com relação ao fato ocorrido no dia 28/04/2023, envolvendo uma gestante de Segredo-RS, presta os seguintes esclarecimentos:

1. A Direção do Hospital desaprova a conduta dos profissionais de saúde, que não prestaram atendimento à gestante. Neste sentido, está sendo aberta uma sindicância interna para apurar a responsabilidade dos eventuais envolvidos, inclusive o horário e local onde ocorreu o parto;

2. O Hospital Santa Rosa de Lima não possui plantão obstétrico, mas tão somente plantão clínico;

3. A gestante estava internada no Hospital São João Evangelista, de Sobradinho, onde estava recebendo atendimento. Quando começou o trabalho de parto, foi colocada numa ambulância e encaminhada ao Hospital de Arroio do Tigre, que NÃO é o Hospital de referência para partos de risco habitual e nem de alto risco.

A referência, em ambos os casos é o Hospital de Caridade e Beneficência, de Cachoeira do Sul;

4. Não houve contato de médico para médico, o que é uma praxe, em caso de encaminhamento de um paciente, de um hospital para outro hospital;

5. Por não dispor o Hospital de Arroio do Tigre, de plantão obstétrico, este serviço não estava disponível naquele momento;

6. Desde 2017, no mínimo, não há nenhum contrato firmado entre o gestor estadual do SUS (Secretaria Estadual da Saúde/RS) com o Hospital, para o serviço de Obstetrícia, via regionalização de partos, com financiamento estadual;

7. Não existe nenhum “acordo verbal”, aliás vedado por lei, para atendimento do serviço de obstetrícia. Os formalidade dos contratos públicos, não permitem a forma verbal, devendo, obrigatoriamente, ser expressos.

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