Economia
Foto: Tania Rego /Agência Brasil

Convencer o brasileiro a comprar um celular novo, e mais caro, é um desafio cada vez maior para os fabricantes. Antes da pandemia da covid-19, o tempo médio de troca do aparelho chegou a ser de até um ano, mas agora é de 24 meses ou mais. E quando decide trocar o smartphone, a maioria dos brasileiros opta por um modelo similar ou, se for um mais sofisticado, escolhe um aparelho usado, em geral, das linhas iPhone, da Apple, ou Galaxy S, da Samsung.

É no segmento de modelos mais caros, topo de linha, que os celulares usados ganham espaço por oferecer preços mais acessíveis. Em 2024, o mercado de recondicionados – aparelhos seminovos revisados, com eventual reposição de componentes – deve somar 5,5 milhões de unidades no Brasil, segundo estudo da IDC.

O volume projetado é 52,8% superior aos 3,6 milhões de aparelhos vendidos em 2021, mostra o estudo encomendado pela Trocafy, empresa de venda de aparelhos recondicionados que pertence à fornecedora de eletrônicos de consumo Allied.

O crédito caro, e escasso, no varejo ajuda a explicar a demora na troca do celular. Mas não é só isso. O mercado brasileiro de celulares é maduro, ou seja, quase toda a população está equipada com celular. E boa parte só vai às compras quando o aparelho quebra ou é roubado.

No ano passado, do total de 30 milhões de celulares vendidos no varejo, 22 milhões foram substituições por modelos similares e 8 milhões foram atualizações para um modelo mais avançado, segundo uma pesquisa da consultoria GfK, que fez 7.784 entrevistas com consumidores ao longo de 2022.

O levantamento feito pela GfK mostra ainda que 2,5 milhões de unidades representaram um segundo aparelho extra para o mesmo consumidor e que 4 milhões de unidades foram compradas para reposição de um celular perdido ou roubado. Somente 1,7 milhão de aparelhos representaram a primeira compra de um celular, em 2022.

O mercado brasileiro de celulares está encolhendo neste ano. No primeiro semestre, as vendas no varejo, incluindo modelos 3G, 4G e 5G, somaram cerca de 14 milhões de unidades, no primeiro semestre, queda de 12,5% ante a primeira metade de 2022, informou a GfK. No mundo, a tendência para este ano também é queda de vendas, de 6% em relação a 2022, segundo a consultoria Counterpoint Research. Se esse resultado for confirmado, será o pior resultado em dez anos.

Em junho, o Brasil contava com 251,5 milhões de celulares ativos, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), com uma densidade média de 98,6 celulares para cada 100 habitantes. Em oito Estados, há mais de um celular por habitante, sendo as maiores densidades registradas em São Paulo, com 111 aparelhos para cada 100 habitantes, Mato Grosso (110) e Distrito Federal (109).

“Desde 2019, o mercado brasileiro de celulares amadureceu e chegamos a uma situação em que praticamente toda a população tem smartphones”, diz Fernando Baialuna, diretor de consultoria e varejo da GfK para a América Latina.

O tempo médio de troca de smartphones no país está entre dois anos e mais de dois anos para a maioria dos brasileiros, mostra outra pesquisa feita pela consultoria com mais de 9 mil consumidores brasileiros no primeiro trimestre de 2023.

Entre os consumidores pesquisados pela GfK no primeiro trimestre deste ano, 44% disseram que trocavam o aparelho depois de mais de dois anos de uso. Em 2019, essa fatia era de 32,3%.

“Hoje, você troca um smartphone quando ele quebra ou não está funcionando bem”, diz Reinaldo Sakis, diretor de pesquisa e consultoria de dispositivos de consumo da IDC Brasil.

Os celulares simples, sem acesso à internet, representam uma fatia cada vez menor das vendas no país. Dos 9,95 milhões de aparelhos vendidos entre janeiro e março deste ano, apenas 433 mil foram “feature phones”, como o mercado chama os celulares simples. Esse número representa uma queda de 19,3% em base anual, segundo a IDC Brasil.

No primeiro trimestre, o preço médio de um “feature phone” ficou em R$ 168, enquanto um smartphone estava na faixa de R$ 1.589. O levantamento da IDC mostra que a faixa de preço dos celulares mais vendidos entre janeiro e março foi a de R$ 700 a R$ 999, representando 26% do total das vendas.

Os valores estão longe dos anunciados em modelos topo de linha no país. O celular Galaxy S23 5G, lançado pela Samsung em fevereiro, é oferecido na loja da marca a partir de R$ 5.400. O iPhone 14, modelo mais recente da Apple até o anúncio da próxima geração, em 12 setembro, é vendido a partir de R$ 7.600.

O varejo concentra 90% das vendas de celulares no país. Os 10% restantes são vendas feitas pelas operadoras de telefonia. Rodrigo Vidigal, diretor-executivo de vendas da Motorola Brasil, observa que a restrição ao crédito no varejo, devido às altas taxas de juros e ao aumento da inadimplência, é um entrave para que o consumidor compre um novo smartphone. “A demanda reprimida existe e o consumidor quer comprar um aparelho novo, mas há uma situação no mercado, que reflete o momento econômico pelo qual estamos passando”, afirma Vidigal. As informações são do jornal Valor Econômico.

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