A quantidade de carne bovina consumida no mercado interno brasileiro em 2022 é a menor em 26 anos, de acordo com projeção da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, publicada na segunda-feira (1º).
O consumo per capita, que vem recuando nos últimos anos, era de 30,6 kg por habitante em 2019, período pré-pandemia de Covid-19, e atingiu 24,8 kg neste ano, uma queda de 20% e o menor nível da série histórica, que começou em 1996.
A maior quantidade registrada foi de 42,8 kg por habitante/ano, em 2006. A disponibilidade do produto no mercado interno é resultado da soma do volume importado com a produção nacional, subtraindo-se o volume exportado.
Apesar de o fenômeno depender muito de fatores globais, o poder de compra dos brasileiros também diminuiu bastante com a alta da inflação, que atingiu 11,89% no acumulado dos últimos 12 meses.
A proteína de frango e suína são opções mais baratas e viáveis do que a bovina
Segundo dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em um ano os cortes de carne bovina com maiores aumentos foram a picanha (9,21%), a alcatra (9,20%), o fígado (6,59%), o filé-mignon (5,75%) e o patinho (4,9%).
O diretor de informações agropecuárias e políticas agrícolas da Conab, Sergio De Zen, confirma que esses números refletem uma tendência global e que não acontecem de um ano para o outro. “Na realidade, não é o movimento de um ano, vem acontecendo ao longo de anos, porque existe um aumento de renda em países que consomem pouca carne bovina, como Vietnã, Camboja e Indonésia, e eles praticamente dobraram o consumo, mas ainda em quantidades baixas”, afirma.
“E a carne bovina tem uma condição de produção muito diferente das outras, porque demanda muitos insumos e tempo para ser produzida”, explica. Esses fatores, juntos, contribuem para o aumento do preço, com a consequente diminuição do consumo por parte dos brasileiros.
O que se vê, em contrapartida, é o maior consumo de aves e suínos, carnes mais baratas e acessíveis. O diretor da Conab ressalta que a injeção de dinheiro nas camadas mais pobres, por meio dos auxílios, levou as pessoas a comer mais esse tipo de proteína.
Por outro lado, nas camadas mais ricas o que aconteceu foi a preferência pela qualidade em detrimento da quantidade. “Há dez anos, as classes A e B iam muito a rodízios de carne, mas hoje preferem os restaurantes de butique”, diz o diretor.
“Preferem qualidade a quantidade, e essa carne de qualidade tem tecnologia na criação do gado, na genética, na produção, e isso tudo custa. Por isso se tem a troca da quantidade pela qualidade. É a mesma carne da Europa, Estados Unidos, Argentina. A mudança de hábito é muito forte”, conclui.
Uma pesquisa realizada pelo C6 Bank/Ipec mostrou que a alta de preços levou à interrupção total do consumo de carne bovina por uma parcela da população. Das pessoas entrevistadas, 72% deixaram de comprar cortes considerados de primeira e 28% interromperam as compras de carne de segunda.
Além disso, outros tipos de carne também desapareceram da lista de compras: 15% não colocam mais no carrinho carne suína, de frango ou peixe e 26% deixaram de levar para casa carnes processadas como linguiça e salsicha.
Com a inflação como principal motivo para o corte no consumo, apenas 7% dos entrevistados comem carne bovina de cinco a sete vezes por semana, 38% incluem o produto nas refeições de uma a quatro vezes por semana e 9% das pessoas ouvidas não comem nunca carne bovina.
Por fim, Sergio De Zen confirma que a tendência será essa por algum tempo, seja pelos preços altos, seja pela mudança de hábitos, cada vez mais consolidada.
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Portal R7