Economia
Foto: Jefferson Botega / Agencia RBS

Indústria que é motor para o agronegócio gaúcho e nacional, a fabricação de máquinas agrícolas e implementos não celebrou em 2023 um bom ano para o setor. Responsável por 60% da produção do país, o Rio Grande do Sul pisou no freio e fechou o ano com recuo de 15% no segmento, conforme o Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers). A desaceleração gerou efeitos no mercado de trabalho, com variação negativa de 2,66% no estoque de empregos do setor até novembro do ano passado.

A troca de marcha, segundo o presidente do Simers, Cláudio Bier, foi necessária para acomodar uma série de fatores que se desalinharam em 2023, como a ocorrência de eventos climáticos e o preço dos produtos agrícolas:

— Foi um ano bem inferior a 2022. Vendemos e fabricamos em torno de 15% a menos em razão de estiagem, El Niño, seca no Mato Grosso, preço das commodities que baixaram muito e juros que permanecem altos. Todas essas variáveis nos prejudicaram.

Apesar de produzir mais da metade do maquinário agrícola nacional, somente 10% do que é fabricado fica no Rio Grande do Sul. Ou seja, o mercado nacional é extremamente relevante para a indústria gaúcha de máquinas. Tanto que 2022, que foi severo para o Estado pela seca, foi um ano positivo para o setor, já que o Brasil teve uma supersafra e o preço dos grãos estava valorizado.

— O produtor seguiu comprando, mas em 2023 o quadro mudou. Todas as revendas e fábricas têm estoque, o que é um problema para nós. Antes de comprarem novamente, elas precisam eliminar o estoque. Significa que é um problema que se avizinha para 2024 — explica Bier.

O segmento foi um dos que contribuíram para a retração da indústria gaúcha no terceiro trimestre de 2023, revelada nos resultados do PIB do Rio Grande do Sul. A fabricação de máquinas e equipamentos recuou 10,8% no período, também sentindo a retração do mercado nacional, conforme mostram os dados divulgados pelo Departamento de Economia e Estatística do Estado.

O ritmo menor se refletiu no mercado de trabalho, após um ciclo positivo de expansão iniciado ainda em 2020 e que teve recorde no número de trabalhadores ocupados em 2022. Em 2023, a fabricação de máquinas e equipamentos no RS fechou 1.466 vagas formais até novembro, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Desse total, foram 938 demissões somente no segmento que responde à fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária.

Razões e perspectivas

Um dos motivos foi a queda nos pedidos de máquinas ao longo do ano, desacelerando a indústria. Outro, segundo Bier, foi o aquecimento excepcional do mercado em 2022, que levou o setor a contratar mais pessoas para atender à demanda.

Um terceiro fator impactou no balanço de contratações, este ainda herança da pandemia. Com a falta de componentes eletrônicos no auge da crise sanitária, as máquinas ficaram em estoque aguardando pelas peças. Quando o fornecimento foi normalizado, as empresas precisaram contratar pessoas para finalizar essas máquinas. Com isso, houve quase duas contratações simultâneas em função do grande momento que se vivia em 2022. O que ocorre, portanto, é um reajuste:

— Diminuindo a produção e as vendas, o setor se reacomoda e demite. Mas demitiu porque admitiu muito em 2022 — pondera o presidente do Simers.

Rodrigo Feix, pesquisador do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), acrescenta que, apesar das baixas, o emprego na indústria gaúcha de máquinas agrícolas ainda se encontra em um nível historicamente elevado. E projeta, para 2024, uma continuidade na correção do nível de produção devido ao um contexto ainda restritivo para o produtor.

— Isso atua no sentido oposto à retomada das contratações, mas não se constitui em crise. Trata-se de um setor marcado por ciclos e, nesse cenário mais desafiador, os agricultores tendem a preservar o caixa, sendo mais cautelosos na avaliação de novos investimentos — avalia Feix.

Para reaquecer os motores, o setor vê a necessidade de retomada nos preços das commodities e na melhora das condições de financiamento para o ano safra 2024/2025.

Outros temores para o ano que se inicia vêm do mercado internacional. A Argentina, em razão da crise econômica que enfrenta, já vinha reduzindo as importações de máquinas brasileiras. O país vizinho deixou de ser o principal mercado do país, abrindo espaço para o Paraguai no último ano.

Conforme projeção já indicada pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), o cenário mundial deve impactar com força o agronegócio em 2024.

— São movimentos que vamos ter que ver como vão se acomodar. Como a Argentina vai reagir economicamente, se a China vai continuar comprando nossas commodities… Ao menos o governo nacional tem sinalizado dar fôlego ao programa Mais Alimentos, o que nos ajuda bastante — diz Bier.

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Gaúcha ZH