Sofia Nascimento Mazin, de 17 anos, estava preocupada com o avanço da covid-19 em 2020. Lia as notícias sobre a falta de insumos nos hospitais, via pessoas próximas com a doença, sentia-se “ansiosa” e “inquieta” com a situação. Naquele momento, a adolescente estava no primeiro ano do curso técnico em Mecânica da Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos. O resultado dessa ansiedade e angústia por soluções, transformada em pesquisa, levaria a estudante a receber um prêmio internacional.
A premiação foi possível devido a um dos trabalhos exigidos na escola técnica: o desenvolvimento de um projeto, com um assunto que foi definido pela estudante. A preocupação com a pandemia fez a jovem focar na área da saúde. Decidiu, então, identificar um problema que pudesse ser resolvido durante o desenvolvimento da pesquisa. Ligou para hospitais, à época lotados com pacientes de covid-19, mas não conseguiu tempo necessário para conversar com as equipes. Em uma das tentativas, profissionais da Fundação São Camilo, de Esteio, Região Metropolitana de Porto Alegre, decidiram informar à estudante o que faltava na instituição naquele momento.
— Eles me mostraram caixas de válvulas para respirador (mecânico) que seriam descartadas por causa das avarias. Me explicaram que a falta dessas válvulas era um dos principais problemas. Pesquisei e descobri que (o problema) era recorrente no Brasil inteiro, na Itália, nos Estados Unidos. Além disso, o preço da válvula era absurdo e demorava muito para chegar no SUS (Sistema Único de Saúde) — diz.
O dispositivo identificado pela estudante é chamado de válvula exalatória, e é utilizado no respirador mecânico no processo de inspiração e expiração do paciente. Sofia recebeu um dos equipamentos avariados do hospital e levou a ideia para a escola, onde foi orientada pelo professor Sandro Heleno Auler.
— Comecei a pesquisar por soluções parecidas, mas com uma tecnologia de produção rápida, segura e com um custo mais baixo. Encontrei isso na impressão em 3D — diz a estudante.
Seis meses depois, o projeto “Desenvolvimento em software 3D CAD de válvula exalatória alternativa para respirador mecânico” ficou pronto. O resultado do trabalho é o protótipo de uma válvula para respiradores feita em impressora 3D. O processo demora sete horas, entre a impressão e o acabamento. A válvula é construída com poliácido lático (PLA), um material biodegradável obtido por meio de fontes renováveis. Além do benefício ambiental, o protótipo custa cerca de R$ 40. De acordo com a pesquisa da estudante, quando comparado ao preço da peça no auge da pandemia, o custo da válvula desenvolvida por Sofia é cerca de 90% menor.
Com o projeto, Sofia participou de uma feira em Minais Gerais, onde recebeu nota 10 e a chance de se credenciar ao Genius International High School Project Competitions (Genius Olympiad), considerada uma das maiores feiras de sustentabilidade do segmento no mundo. No último dia 18, a gaúcha recebeu a medalha de ouro e uma bolsa de estudos de quatro anos nos Estados Unidos. O evento, feito de forma virtual, teve a participação de estudantes de 57 países.
— É uma sensação incrível ser reconhecida por um trabalho que exigiu e exige muito de mim. Quero seguir na área de Ciência. Descobri que sou apaixonada por inovação e aplicar conceitos da Ciência em desafios da vida real — diz.
A gaúcha receberá uma bolsa de 20 mil dólares por ano e, neste momento, avalia em qual universidade estudará nos EUA. De acordo com a estudante, o projeto da válvula está em andamento, com a realização de testes com diferentes materiais, para, depois, avaliar a produção do dispositivo em escala.
De acordo com o professor Sandro Heleno Auler, orientador do trabalho, a premiação é resultado de um projeto de longo prazo feito na escola, que incentiva a pesquisa feita por alunos por meio do uso método científico.
— A Sofia tem o DNA da pesquisa. Ela buscou a solução do problema, não se intimidou com o desafio. Ela tem méritos, e esse (prêmio) é um reconhecimento merecido — afirma o professor.
Gaúcha ZH