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‘A gente agradece todo dia’, diz mãe de bebê resgatado de helicóptero seis meses após enchente

Há seis meses, a rotina de quem vive na Região dos Vales, no Rio Grande do Sul, não é mais a mesma. Em maio, o nível do Rio Taquari atingiu 34 metros, 21 metros acima da cota de inundação. A água subiu muito rápido, dificultando a reação dos moradores.

No dia da enchente, Natasha Becker estava na casa da sogra com o marido e o filho Anthony de quatro meses, em Cruzeiro do Sul. O Rio Taquari chegou no teto da residência, só o telhado ficou de fora. Foi lá que a família ficou por três dias, sem comida e água, até ser resgatada por uma equipe de bombeiros. A imagem do salvamento rodou o país.

“Quando a gente ouviu que o helicóptero estava pousando em cima do telhado, a minha primeira reação foi alcançar ele. A primeira coisa que eu fiz foi tirar ele para fora do telhado para o pessoal do helicóptero ver que tinha uma criança e que a nossa prioridade era salvar a criança. Meu medo era que ele caísse na água”, conta Natasha.

A família perdeu a casa, móveis e um carro. Há um mês, Natasha e o marido conseguiram comprar uma casa nova onde vivem hoje com o Anthony, que completou 11 meses. A escolha foi por uma residência em uma área alta de Cruzeiro do Sul.

“A gente agradece todo dia, foi um renascimento. A gente tem muito mais a agradecer do que a relembrar e às vezes lamentar do que aconteceu”, afirma a mãe do Anthony.

Comunidades isoladas

Em maio, seis mil hectares de terra se movimentaram na região da Serra e no Vale do Taquari, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). No município de Roca Sales, foram 360 deslizamentos.

Os escombros bloquearam estradas deixando comunidades inteiras isoladas. Foi o caso de João Hespr, morador da Linha Borges de Medeiros. Ele, a esposa e os dois filhos ficaram cinco dias sem conseguir sair de casa. Para pedir ajuda, o homem precisou caminhar por oito horas no mato e sobre as barreiras.

“O maior problema nosso foi a falta de alimentação porque os meus filhos não tinham o que comer. Aí eu disse para minha mulher: ‘seja o que Deus quiser, eu vou sair ver se busco comida para os filhos’. Depois que eu cruzei todo o primeiro deslizamento, cortei as mãos, mas, graças a Deus, consegui sair. Fiz todo o trajeto de pé no chão”, relembra o morador.

A comunidade ficou 30 dias sem luz e isolada. A ajuda chegou por meio de helicóptero, que levou o João de volta pra casa. Agora, seis meses depois da enchente as estradas foram liberadas e o acesso reestabelecido.

“Agora gente tem comida, a gente foi atrás, então, graças a Deus, que agora já dá para dizer que estamos 100%”, explica.

Recuperação econômica

No município de Sinimbu, 100% das empresas locais foram atingidas pela enchente de maio. Mercados, lojas e farmácias foram tomados pela água do Rio Pardinho. A família de Talita Wagner tinha uma agropecuária e uma loja de cama, mesa e banho na principal avenida do município. A água invadiu os estabelecimentos, levou embora os móveis e destruiu o estoque.

Depois de um mês da tragédia, o estabelecimento voltou a funcionar. A família juntou as duas empresas em um lugar só, em uma das salas comercias que já eram utilizadas pelos negócios.

“A gente entendia que a primeira necessidade era retomar as atividades para conseguir honrar com as nossas despesas que a gente tinha para pagar e também para conseguir retomar a nossa atividade comercial para também ajudar o município”, explica Talita.

Família limpa loja afetada pela enchente em Sinimbu.Foto: Reprodução/RBS TV

Depois da enchente, o funcionamento da empresa mudou. O estoque foi realocado para uma parte mais alta.

“Foi um longo período de limpeza, de reconstrução, de readaptação e realmente agora parar e ver a empresa da forma que está organizada, às vezes com alguma coisa improvisada, mas a gente podendo estar aqui fazendo o nosso serviço, atendendo as pessoas, é muito gratificante, que a gente conseguiu passar e superar tudo isso”, relata a proprietária.

Rua em Sinimbu, cidade atingida por cheia no RS. Foto: Reprodução/RBS TV

Retomada da agricultura

No Rio Grande do Sul, 206 mil propriedades rurais registraram prejuízos na enchente de maio, de acordo com o governo do estado e a Emater. Uma delas foi a de Sérgio Kessler, produtor de grãos no interior de Santa Cruz do Sul.

Em maio, ele estava com a safra de soja pronta para ser colhida, mas a água chegou antes. Toda a produção foi perdida. O impacto foi sentido no início da nova safra no mês de outubro.

“Tivemos muito problema porque essas terras ficaram muito encharcadas. Tivemos que repor áreas de terra que foram levadas embora pela correnteza e fazer novas análises de solo para adubar de acordo. E pediu mais adubação”, conta o agricultor.

Em razão da qualidade do solo e pela lucratividade, Sérgio preferiu mudar a cultura para o arroz. Agora, seis meses depois, as novas sementes já germinam preparando uma nova safra.

“Isso dá gosto de ver, a gente trabalha muito, é a nossa vida, nós vivemos disso. Não tem outra saída. A gente fica feliz por conseguir completar de novo um novo ciclo que começa. Vamos com garra”, afirma.

Agricultor mostra sementes no RS. Foto: Reprodução/RBS TV

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G1 RS

Tres Passos News

Direção e redação.

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