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Foto: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini

O Rio Grande do Sul se manteve com 100% de seu território com seca entre dezembro e janeiro, confirmou a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). A condição permanece consecutivamente há um ano e quatro meses no estado, desde outubro de 2020. É a segunda maior sequência do Brasil, inferior apenas ao um ano e sete meses de Mato Grosso do Sul.

Com isso, o governo do estado considera não mais um período de estiagem, mas sim de seca. A informação foi confirmada pela secretária de Agricultura do RS Silvana Covatti, em entrevista ao Bom Dia Rio Grande, da RBS TV, nesta quarta-feira (23).

“Nosso estado do Rio Grande do Sul infelizmente nós estamos em uma seca, e uma seca muito grave. Podemos notar nesse sentido no número de municípios que decretaram situação de emergência, e mais municípios fazendo o levantamento”, diz.

Já são 414 municípios com situação de emergência decretada, conforme a Defesa Civil estadual, o equivalente a 83,2% das cidades gaúchas. Outros quatro, incluindo Porto Alegre e Pelotas, aguardam o reconhecimento do decreto.

O alento deve vir no fim desta semana. Há previsão de acumulados elevados por conta da passagem de uma frente fria, mas que, entre domingo (27) e terça-feira (1º), pode causar temporais mais intensos.

Estiagem x seca

A falta de água em rios, no solo e em mananciais para abastecimento da população, mas que não chega a comprometer as atividades humanas e nem põe em risco a recuperação de cursos d´água, costumam ser definidos como estiagem.

Contudo, no Rio Grande do Sul, as precipitações foram abaixo da média climatológica, ocasionando a falta de água em reservatórios para geração de energia, abastecimento das populações e manutenção da atividade agrícola, característica típica de seca.

“A seca literalmente secou os rios para geração de energia, irrigação e abastecimento humano. Quando há estiagem, o solo fica mais seco, mas você ainda vê água passando nos rios. Alguns rios do Rio Grande do Sul tornaram-se temporários, situação que normalmente você vê apenas no sertão”, comenta o agrometeorologista Celso Oliveira, da Climatempo.

Percentual de seca por região no Brasil — Foto: ANA/Reprodução

Percentual de seca por região no Brasil — Foto: ANA/Reprodução

No RS, devido às chuvas abaixo da normalidade, o fenômeno se intensificou com o avanço da seca extrema de 1% para 9% do estado e com o forte aumento da área com seca grave, que saltou de 28% para 57% do território gaúcho, respectivamente no Norte e no Sudoeste do estado.

Essa é a condição mais severa do RS desde sua entrada no Mapa do Monitor da ANA, em agosto de 2020. Com uma área com seca de 281 mil km², o Rio Grande do Sul fica atrás somente de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul nesse aspecto.

Percentual de área com seca em janeiro de 2022 — Foto: ANA/Reprodução

Percentual de área com seca em janeiro de 2022 — Foto: ANA/Reprodução

Efeitos também na pecuária

Na região das Missões, em municípios com São Luiz GonzagaSanto Antônio das MissõesBossoroca e São Borja, o campo que deveria servir de pasto para o gado inexiste. Os animais costumam se deslocar, até se escondendo embaixo das árvores.

O pecuarista Jorge Alberto Dutra, que cria gado de corte entre Santo Antônio das Missões e Bossoroca, no Noroeste, tem cerca de 120 cabeças de gado. A única fonte de alimentação são as pastagens, mas elas estão secas.

“Desde agosto, não chove normalmente. Estamos nessa situação precária. É granjeiro, é pecuarista, todos estão nessa situação”, diz.

“Não tem mais pasto. O pasto, quando ele começa secar, começa perder nutrientes, proteínas. Só que essa nossa situação aqui não tem pasto também. Não dá nem pra chamar. É terra”, afirma a veterinária Vanessa Moreira Souza.

Para alimentar o gado, o jeito é buscar alimentos em outras regiões, o que encarece o custo da produção.

“Estou dando ração com sal mineral. O pasto não estamos conseguindo, não estou conseguindo feno, não estou conseguindo ração. Não sei, a minha situação é crítica”, diz Jorge.

Como falta pastagem e água nos açudes, o resultado é um rebanho cada vez mais fraco e com baixo peso.

“Escore corporal entre um e dois. Está quase subdesnutrido, já está bem afetado”, afirma Vanessa.

O cenário crítico já causou a morte de cinco animais de Jorge. Para não ter ainda mais prejuízos, ele decidiu antecipar a venda do gado, mesmo sem as condições ideais.

“Vou vender terneiro, vou tentar vender vaca, mas estão muito magras, muito debilitadas. O preço está pouco, e nós estamos naquela esperança da chuva”, diz Jorge.

E quem compra leva um animal longe do padrão do mercado.

“Vai comprar um gado magro, vai levar um gado leve, que o produtor não vai poder agregar peso nesse gado. E também não vai ser para o pessoal da nossa região, vai ser gente de fora, que vai ter que vir comprar esse gado, porque não temos disponibilidade de pasto infelizmente”, reclama Luís Antônio Guimarães do Prado, presidente do Sindicato Rural de Santo Antônio das Missões.

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