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Autor pegou 26 anos em regime inicialmente fechado. Foto: Reprodução

Um dos julgamentos mais aguardados da história de Tapera terminou por volta de 19 horas de quarta-feira, 24 de abril. Faltando 29 dias para completar quatro anos do assassinato de Eduardo Pegoraro, Padre da Igreja Católica do município de cerca de 12 mil habitantes localizado no norte gaúcho, o juiz Marcio César Sfredo proferiu a sentença condenatória contra o réu confesso do crime ocorrido em 2015. Jairo Paulinho Kolling, 46 anos, respondeu por homicídio duplamente qualificado e tentativa de homicídio triplamente qualificado. O fato ocorreu dentro da casa paroquial, ao lado da Igreja Matriz. Segundo denúncia do Ministério Público o crime aconteceu por ciúmes e vingança.

Jairo Paulinho Kolling, que desde 2016 respondia o processo em liberdade, foi condenado pena de 26 anos e 10 meses de prisão em regime inicial fechado. O Magistrado determinou a detenção imediata do réu. Kolling foi conduzido direto para o presidio de Espumoso.

O que disseram as partes em depoimento

Patrícia Hauns disse que, no dia anterior ao crime, “tudo estava normal”. Já durante a noite, a situação mudou. Contou que o então marido perguntou se ela “tinha um caso com o padre”. “E ele me acertou um tapa”, completou.

Ela lembrou que respondeu ao marido que o padre era apenas um amigo e o questionou: “Por que você está sofrendo por algo que nunca existiu?

Patrícia disse ainda que o marido colocou um rastreador no carro dela.

No dia em que ocorreu o crime, ela quase desistiu de ir até a igreja com Jairo conversar com o padre, porque ele parecia muito nervoso.

No local, ainda segundo Patrícia, o então marido disse ao padre: “Você mandou mensagem para a minha mulher”. “Depois, ele apontou a arma na minha cara”, contou.

Patrícia lembrou que tentava sair da sala em que estavam, em busca de ajuda, quando viu o padre ferido e ensanguentado. “Meu Deus, Jairo, o que você fez?”, disse ela.

A mulher relatou que o padre era afetuoso e alegre com todo mundo. “Todos sabiam do carisma que ele tinha”, afirmou.

Ao lado da Igreja Matriz, um memorial denominado “Memorial da Paz Padre Eduardo Pegoraro”, foi erguido para relembrar aquele que atendia, aconselhava e orava pelas pessoas em Tapera.

Em seu depoimento, o réu, um empresário bem-sucedido da área de concretos e artefatos de cimento na cidade de Selbach, sustentou que perdeu a cabeça após a esposa Patrícia ter mudado de comportamento cerca de um ano e meio antes do crime.

Em determinada noite, Jairo, que costumava sair muito com os amigos jogar bola e frequentar bares, acatou o pedido da esposa para fazer um churrasco em sua residência onde os convidados eram o Padre Pegoraro e cerca de 6 seminaristas a quem Patrícia dava aula.

Durante a confraternização, o Padre presenteou Patrícia com uma champanhe e duas taças. Kolling de imediato estranhou a atitude e disse no depoimento que quem deveria receber o presente era o dono da casa. Quando questionado pela promotora se Patrícia não seria a dona da casa também, Jairo não soube responder e foi taxado de machista pelos presentes no local.

O réu começou a ser interrogado logo após o meio-dia. “Minha intenção era conversar com ele”, disse Jairo sobre ida à paróquia. “Eu tava cego. Foi tudo muito rápido”, acrescentou.

Ele afirmou que o motivo da conversa eram as mensagens que o padre trocada com a então esposa. Sobre a agressão que a mulher disse que aconteceu no dia anterior ao crime, Jairo definiu como “discussão normal.”

Questionado sobre a desconfiança em relação à mulher, ele relatou que ela não vinha tendo um comportamento correto.

Sobre o crime, disse estar arrependido. “Não é da minha conduta”. Jairo acrescentou que comprou a arma com a intenção de proteger sua propriedade.

O réu disse que não lembra de tudo o que aconteceu no dia do crime, mas recorda que atirou “para tudo quanto é lado”.

O advogado de Jairo, Carlos Eduardo Hoff da Silva, disse que “cada um teve sua cota de participação para que os fatos ocorressem”.

“Apaga todas as mensagens e não me liga mais”, teria dito Patrícia a Eduardo, segundo o advogado, antes do encontro na casa paroquial. “Quem recebe essa mensagem sabe do que se trata”, completou.

O defensor ainda acrescentou que Jairo “foi violentamente atingido em sua honra.”

“Foi criado numa comunidade muito conservadora. Imaginem como essa sociedade lida com o adultério”, disse.

A promotora Marisaura Inês Raber Fior iniciou sua fala apresentando aos jurados provas juntadas ao processo. Disse que foram achadas na revista outras cinco balas além das disparadas. Ela apresentou exame de resíduos que corroboram com depoimento da ex-mulher de Kolling.

“Disparo foi efetuado de muito próximo e o padre levantou os braços para se defender”, destacou.

Marisaura acrescentou que não foram encontrados no padre vestígios de que tenha havido luta corporal. “As vítimas não tiveram qualquer chance”, concluiu a promotora, salientando que o réu premeditou um homicídio por desconfiança.

Segundo Marisaura, com base em depoimentos no processo, Jairo tinha uma “individualidade psicológica ciumenta, egoísta”. A Promotora rebate tese da defesa de que Kolling cometeu homicídio privilegiado. Segundo ela, não houve injusta provocação recente que motivasse o réu estar sob domínio de violenta emoção. Ela também afirma que Patrícia sobreviveu porque Kolling entendeu que o tiro a teria matado, não em razão da desistência dele.

Rádio Cidade Ibirubá