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Foto: Eliziane Ourives Santos / Arquivo Pessoal

Os planos de Marcelo e Eliziane incluíam terminar o curso de Serviço Social, oficializar o matrimônio — união que começou em 2014 —, e ter uma família numerosa. Como boa parte dos planejamentos, precisou de adaptações. Seguiu “a ordem de Deus”, como crê a gerente de negócios de Pelotas, no sul do Estado. 

— Deus sabe de todas as coisas — reforça Eliziane Ourives Santos Lautenschlager, 30 anos.

Funcionário público, Marcelo Lautenschlager Sanches foi diagnosticado com um câncer na medula, em 2018, interrompendo o desejo da gestação, pelos riscos que o tratamento da doença traria — a medicação prescrita a ele, Talidomida, poderia causar má-formação do feto, efeito confirmado por especialistas no assunto.

Antes de iniciar a quimioterapia, o casal decidiu congelar o esperma, para aumentar as chances de uma gestação.

— Eu sempre tive esperança do transplante, e das novas medicações que nós adquirimos através de processos judiciais — afirma Eliziane. 

O servidor foi submetido ao transplante de medula em 2019, no Hospital Dom Vicente Scherer, do Complexo Hospitalar da Santa Casa, em Porto Alegre. No entanto, o câncer voltou a se manifestar meses depois. De acordo com a familiar, o cancelamento de consultas e suspensão dos atendimentos eletivos, devido a pandemia, agravou o quadro do marido. 

Em uma das internações de 2020, Marcelo contraiu coronavírus, permaneceu intubado por dez dias, mas não resistiu. Em agosto, ele morreu pelas complicações da covid-19, aos 47 anos.

Quase quatro meses após perder o companheiro, Eliziane diz ter lembrado da “sementinha dele”, como define o material para fecundação armazenado desde 2018. Em dezembro do ano passado, ela procurou a clínica, realizou a fertilização in vitro e, com um único embrião, engravidou. 

— É o segmento do nosso sonho. Nosso tão sonhado filho — define.

A história foi contada pelo jornal Diário Popular, sediado em Pelotas, e chegou a veículos de comunicação nacionais.

O obstetra Guilherme Bicca, que acompanha a paciente, publicou no Instagram um relato emocionado: “Essa é a mais emocionante história que você vai ler hoje! Após 26 anos de prática médica, hoje sei que o amor verdadeiro não tem limites, é atemporal. Em meio a tantas despedidas, nasce uma luz mostrando à humanidade que precisamos ter coragem para seguir em frente!”

No topo da lista de nomes, pensada em conjunto com Marcelo, estava Davi. Por tudo que passou, a futura mamãe decidiu fazer uma leve adaptação para contemplar um nome que represente a vida daqui em diante: Ravi, que no idioma hindu significa “Deus sol”, ou “luz”, segundo a gestante:

— É uma luz na minha vida, e está sendo assim para toda a nossa família.

GZH