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Foto: Reprodução

A investigação da Polícia Federal (PF) que embasou a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de autorizar uma operação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados políticos colocou em evidência um grupo do exército conhecido como “kids pretos”.

Eles teriam a incumbência, supostamente, de prender Alexandre de Moraes assim que um golpe de Estado fosse instaurado no País. A operação teria surgido com base na delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do antigo presidente.

“Kids pretos” é o nome dado aos militares formados pelo Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, treinados para atuar em missões sigilosas e em ambientes hostis e politicamente sensíveis.

Especialistas em situações de guerra irregular, como guerrilhas e movimentos de resistência, mas também atuam em situações de paz e regularidade institucional, os “kids pretos” integram a chamada “elite” do exército.

No entanto, para que esses oficiais fizessem parte do que a PF caracterizou como um plano de golpe de Estado, Bolsonaro teria que assinar um decreto presidencial que colocaria o Brasil em estado de sítio, limitaria o Judiciário e impediria a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A investigação da PF aponta ainda que o ex-chefe do Executivo teria feito alterações na “minuta golpista” para excluir a prisão do ministro do STF Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A de Alexandre de Moraes, contudo, estaria mantida no plano e os agentes das Forças Especiais teriam a missão de prender o ministro.

Conforme a investigação da PF encaminhadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) a Alexandre de Moraes, Bernardo Romão Correia Neto, que na época atuava como assistente do comandante militar do Sul, participou ativamente na organização de um encontro que aconteceu em novembro de 2022, em Brasília. A reunião contava com a presença de alguns “kids pretos”, assistentes dos generais e “supostamente aliados na execução do golpe”.

A PF encontrou conversas entre Correa Neto e Mauro Cid no celular do antigo ajudante de ordens de Bolsonaro. Os diálogos, na visão da organização, provariam que Neto selecionou apenas militares das Forças Especiais para integrar a reunião.

“Os diálogos encontrados no celular de MAURO CID demonstram que CORREA NETO intermediou o convite para reunião e selecionou apenas os militares formados no curso de Forças Especiais (Kids Pretos), o que demonstra planejamento minucioso para utilizar, contra o próprio Estado brasileiro”, informa um trecho do documento enviado pela PGR.

O general Estevam Theophio Gaspar de Oliveira, então comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter) e hoje na reserva, teria encontrado Bolsonaro em dezembro de 2022, após o segundo turno das eleições presidenciais.

Em mensagens trocadas com Mauro Cid, Theophio teria concordado com a operação para impor um golpe de Estado no País, desde que Bolsonaro assinasse o decreto presidencial que formalizaria a operação. Os “kids pretos” cumpririam, então, o papel de prender Alexandre de Moraes.

“Nesse sentido, além de ser o responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal ALEXANDRE DE MORAES assim que o decreto presidencial fosse assinado”, explica a PGR.

Os “kids pretos”
Os “kids pretos”, que receberam o apelido por utilizarem gorros pretos em operações, são caracterizados como especialistas em guerra não convencional, reconhecimento especial, operações contra forças irregulares e contraterrorismo.

Eles podem passar pelos treinamentos intensivos em três lugares diferentes: Comando de Operações Especiais, em Goiânia, onde, em 2022, Mauro Cid foi nomeado para comandar o 1° Batalhão de Operações Especiais, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói, no Rio, ou podem completar a formação em Manaus (AM), na 3ª Companhia de Forças Especiais.

Segundo o Centro de Instrução de Operações Especiais, o programa existe desde 1957 e foi inspirado no curso “Ranger”, com destaque para o Batalhão de “Special Forces”, a principal unidade de infantaria leve e força de operações especiais dentro do Comando de Operações Especiais do Exército dos Estados Unidos.

O curso tem a duração máxima de 23 semanas (em média 5 meses) e ensina táticas específicas das operações especiais, como, por exemplo, na guerra irregular e em operações contra forças irregulares, “visando a consecução de objetivos políticos, econômicos, psicossociais ou militares relevantes, preponderantemente, por meio de alternativas militares não convencionais”, explicam as informações publicadas pelo Centro de Instrução de Operações Especiais (CiOpEsp).

Essas missões podem acontecer tanto em momentos de crise ou conflito quanto em momentos de paz e regularidade institucional.

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O Sul