Justiça
Foto: Lauro Alves / Agencia RBS

O casal que vive na residência onde o corpo de Rafael Mateus Winques, 11 anos, foi encontrado em Planalto, no norte do RS, soube que sua casa estava envolvida em um crime que chocou o Rio Grande do Sul ao receber o link de uma reportagem por WhatsApp. No momento em que a história veio à tona, estavam visitando familiares no interior de São Paulo, onde ficaram por quase um mês.

Desaparecido desde 15 de maio, o corpo do menino foi encontrado no último dia 25 em uma caixa de papelão dentro da garagem do imóvel de tijolo à vista que fica ao lado da casa onde o garoto vivia com a mãe, Alexandra Dougokenski, 33 anos, e o irmão de 17 anos. A mãe confessou o assassinato, mas alegou que a morte aconteceu por acidente.

Integrantes da Congregação Cristã no Brasil, o homem de 62 anos e a esposa de 55 anos (que pediram para não ter os nomes publicados) levam uma vida reservada e discreta, voltada ao trabalho e a ações da igreja. Entre 9 de maio e 4 de junho, estavam em Americana, interior de São Paulo, ajudando a finalizar uma casa para o filho. De lá, receberam a notícia, por amigos, de que o corpo de Rafael estava escondido na casa deles.

— Levamos um susto. Nossa casa caiu. Primeiro foi a tristeza de saber que ele estava desaparecido e, depois, o choque ao descobrir que ele estava aqui. Ficamos muito abalados quando vimos que era na nossa casa. Fiquei doente, meus netos ficaram também. A gente nunca imaginou uma coisa dessas. É uma família que nunca deu trabalho, nunca vi uma briga, uma discussão — recorda o homem.

Natural da pequena cidade de Tupi Paulista (SP), o casal aluga há sete anos e meio a mesma casa em Planalto, mas mantém vínculos com o Estado natal, onde têm um casal de filhos e três netos. Ela costura para uma confecção da cidade e ele ajuda no corte de tecidos mas também faz bicos como pedreiro e jardineiro.

O casal descreve Rafael da mesma forma que familiares, professores e amigos o definem: um menino tranquilo, educado e sereno.

— Rafael era um exemplo aqui na rua — resume ele.

Embora as duas casas idênticas estejam no mesmo terreno, as duas famílias não se frequentavam. Alexandra e os filhos moravam ali há dois anos, depois de retornarem de Bento Gonçalves. A mãe e o filho iam até os vizinhos fazer encomendas de costura e entregavam as peças pela janela:

— Era só o “bom dia”, “boa tarde”, a gente via ele indo para a escola. Sempre educado e na dele. Às vezes ele aparecia na minha janela com alguma peça para costurar — conta a mulher.

A caixa de papelão de uma máquina de lavar roupa, onde Rafael foi encontrado, era usado pela mulher para guardar retalhos de lã e tecido. Antes de ir viajar, a costureira quase a colocou no lixo porque já estava velha e com remendos. Desistiu e deixou na garagem. Como saem com roupa no varal e deixam o vidro do Fiat Uno aberto, não podiam supor que alguém mexeria na caixa — ou a utilizariam para esconder o corpo de uma criança.

Questionados sobre a sensação de retornar para casa após saber da existência do crime envolvendo uma criança de 11 anos dentro do próprio pátio, ela resume:

— Foi difícil, filha. Ainda não consigo dormir. É uma situação que jamais esperávamos viver — admite a senhora.

O marido concorda, justificando que para a esposa tem sido mais difícil. Agora ela tem medo de ficar sozinha em casa:

— Estamos levando uma vida normal, mas ficou um clima esquisito.

Durante a reconstituição do crime, que ocorre a partir das 18h desta quinta-feira (18), o casal estará na casa de amigos com a esperança de que no retorno, a rotina volte, de alguma forma, ao que era antes da morte de Rafael.

GZH