Justiça
Foto: Arquivo Pessoal

Há quase cinco anos, Marcelo Minossi, 44 anos, traz enrolado ao pulso um terço que recebeu durante o velório do filho Gabriel Minossi, 19. O jovem foi assassinado por engano, dentro do Hospital Centenário, em São Leopoldo, no Vale do Sinos, enquanto se recuperava após um acidente de trânsito. Atiradores invadiram o local e executaram o rapaz, acreditando que se tratava de um inimigo. Um novo capítulo do caso deve ocorrer em dois meses. Cinco réus pelo crime tiveram julgamento agendado para 12 de dezembro. 

— Estou aqui olhando para a foto dele e para o violão dele. Ainda carrego o terço no braço. Vai fazer cinco anos já, mas para a gente parece que foi ontem — desabafa o pai. 

Apaixonado por música tradicionalista gaúcha, Gabriel frequentava com Marcelo desde os seis meses de idade a Sociedade Gaúcha da Lomba Grande, em Novo Hamburgo. O jovem chegou a residir em Santa Catarina com a mãe, mas quando retornou do Estado vizinho, cerca de um ano antes de ser vítima do crime, voltou a frequentar o grupo tradicionalista com a família. O rapaz adorava tocar violão e cantar. Marcelo, que esperava ver o filho investir em seu talento para a música, agora guarda o instrumento entre as recordações. 

— A única coisa que eu tenho é o violão e a foto dele — desabafa o pai. 

Outra paixão de Gabriel eram as motocicletas. Mecânico, especializado em motos, queria montar uma oficina com o pai. Os dois frequentaram juntos, todos os sábados, por cerca de um ano, curso na área. Pretendiam esperar dois anos para juntar dinheiro e, depois, inaugurar o negócio. Os sonhos não chegaram a se concretizar. 

Em 9 de novembro de 2018, criminosos invadiram o hospital encapuzados e armados. Numa cena de terror, renderam o segurança e dois deles ingressaram na casa de saúde, caminhando pelos corredores. Andaram até a ala onde Gabriel estava e, em poucos segundos, descarregaram as armas na direção da cama dele, próxima da porta, pensando se tratar de um inimigo, que também havia sido hospitalizado na mesma casa de saúde. Além de matarem Gabriel, deixaram outras duas pessoas feridas. 

O júri

No dia 12 de dezembro, cinco réus vão a julgamento pelo crime. O júri foi agendado para se iniciar às 9h, no salão do júri em São Leopoldo. Nesta data, serão julgados William Gabriel Almeida Pereira, Jorge Gilberto da Silveira Júnior, Lucas Gabriel Pereira Nunes, Deivid Silva de Ávila e Eberson Ferreira Almeida. 

Marcelo foi surpreendido ao ser informado por GZH de que o julgamento dos réus foi agendado para dezembro. O pai diz que vinha tentando informações sobre o andamento do caso, mas não havia obtido retorno até então. 

— Eu não sabia mais nada. Outros casos que aconteceram depois dele já tinham sido julgados. Estou sabendo por ti agora. Órgão nenhum procurou a gente. Não ofereceram uma ajuda psicológica, nada. A gente estava às cegas. Bom saber ao menos que agora tem uma data — reclama Marcelo. 

Madrinha testemunhou crime

O pai conta que a irmã, que presenciou a morte do sobrinho, sofre até hoje com as sequelas psicológicas do trauma. Ainda em 2018, ela narrou para a reportagem como tinha acontecido o crime. A dona de casa estava no mesmo quarto de Gabriel, como acompanhante dele no hospital naquela madrugada. 

Sem conseguir dormir, a madrinha decidiu trocar de posição. Empurrou a cadeira até os pés da cama, cobriu o rosto com casaco e fechou os olhos. Minutos depois, às 4h16min, acordou ao som dos disparos. Dois criminosos encapuzados atiravam na direção do jovem. As balas reluziam na escuridão.

— Só ouvi “pã, pã, pã”. Disse: “Meu Deus, o que é isso?”. Olhei para cima e vi uns negócios de fogo saindo. Pensei “está pegando fogo no hospital” — narrou a madrina, na época. 

Logo depois, ao se aproximar do sobrinho ela percebeu que o jovem tinha sido alvejado. Quando os criminosos partiram, a equipe do hospital passou a atender os feridos. Sem ferimentos, a madrinha assistia a tudo, em choque. 

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Gaúcha ZH