Justiça
Foto: Maicon Ferreira / Luz e Alegria

Começou às 8h desta quinta-feira (13) o júri do acusado pelo estupro e morte de Daiane Griá Sales, 14 anos, ocorrido no fim de julho de 2021 em Redentora. O julgamento acontece no Fórum de Coronel Bicaco, no noroeste do RS.

menina caingangue vivia na Terra Indígena Guarita, no interior de Redentora, município de 9,9 mil habitantes perto da fronteira gaúcha com a Argentina. Ela foi estuprada e morta no fim de julho de 2021 — seu corpo só foi achado quatro dias depois.

Réu pelo crime, Dieison Corrêa Zandavalli, 36 anos, está preso preventivamente e responde pelos crimes: 

  • estupro de vulnerável
  • feminicídio 
  • homicídio qualificado (motivo torpe, motivo fútil, recurso que dificultou a defesa da vítima e dissimulação para assegurar a impunidade de outro crime).

A sessão de julgamento é presidida pela juíza Ezequiela Basso Bernardi Possani, titular da Vara Judicial da Comarca de Coronel Bicaco. Estão previstos os depoimentos de 11 testemunhas, além do interrogatório do réu.

Passo a passo do julgamento

  • O júri iniciou às 8h de quinta-feira (13), no Fórum de Coronel Bicaco.
  • Inicialmente, foram sorteados os nomes dos sete jurados que integrarão o Conselho de Sentença.
  • Na sequência, houve o início dos depoimentos das testemunhas de acusação e de defesa. Estão previstas 11 ao todo.
  • Depois das testemunhas ocorre o depoimento do réu, que pode optar por permanecer em silêncio.
  • Então, iniciam-se os debates da acusação e da defesa, com 1h30min cada.
  • Ainda é possível que o Ministério Público decida ir à réplica, com mais 1h para apresentar seus argumentos. Neste caso, a defesa também tem 1h logo depois.
  • É depois disso que os jurados se reúnem em sala secreta e votam se o réu é culpado ou não pelo crime.
  • Em caso de condenação, o juiz responsável estabelece o tempo de pena.

Que a voz de Daiane seja ouvida”, diz advogado da família da vítima

Maicon Ferreira / Luz e Alegria
Grupo com mulheres indígenas e não indígenas protesta em frente ao local do júri. Maicon Ferreira / Luz e Alegria

Conforme o advogado da família da vítima, Bira Teixeira, a expectativa é pela condenação do réu, uma vez que existem provas materiais para condená-lo.

— Também existe a expectativa de que durante o julgamento fique mais claro se teve a participação de mais pessoas no assassinato, porque isso remeteria a um processo de investigações posterior sobre as novas pessoas, caso seja evidenciado durante o júri — disse.

Devido a grande quantidade de testemunhas, Teixeira acredita que o júri poderá se estender até a sexta-feira (14). O grau de questionamento das testemunhas e do próprio réu ainda são desconhecidos, mas haverão debates entre acusação e defesa, o que deve prolongar o julgamento.

— Independente do tempo, o nosso objetivo maior é dar voz para a Daiane. A voz que não foi ouvida naquela noite fria de 2021, em um lugar isolado, quando ela pediu socorro. Que hoje ela possa ser escutada no júri e que os jurados compreendam a dor que esta menina passou e a necessidade de condenação do réu que praticou um crime bárbaro — completou.

Diversas mulheres indígenas e não indígenas estão mobilizadas em frente ao Fórum de Coronel Bicaco. Elas reivindicam justiça por Daiane e o fim da violência contra a mulher. 

Contraponto

Em contato com a reportagem de GZH Passo Fundo, uma das advogadas da defesa de Dieison Corrêa Zandavalli, Pâmela Londero, disse que aguardam uma sessão plenária absolutamente tranquila e pautada pelo respeito.

— Estamos também confiantes na imparcialidade do júri e em um resultado justo para este processo — afirmou a advogada.

Relembre o caso

De acordo com a denúncia do Ministério Público, Daiane foi estrangulada pelo réu e morreu por asfixia. O crime teria ocorrido após a vítima aceitar uma carona do acusado, que a teria levado para uma área de lavoura onde cometeu o estupro e depois o homicídio.

Ainda conforme a denúncia, Zandavalli teria se aproveitado do estado de embriaguez da menina, impossibilitada de reagir, usando de violência, com toques e beijos, apoiando-se sobre ela. O corpo da adolescente foi achado mais de três dias depois dos fatos, em um matagal.

Polícia Civil / Divulgação
Daiane Griá Sales, 14 anos, foi assassinada próximo à reserva indígena da Guarita, em Redentora, noroeste do Estado. Polícia Civil / Divulgação

A denúncia do Ministério Público destaca a presença de qualificadoras no crime, como o desprezo do réu pela população indígena Caingangue (etnofobia) e o menosprezo e discriminação à condição de mulher da vítima (feminicídio).

Em seu interrogatório, o acusado negou ter cometido os crimes. A defesa chegou a solicitar a instauração de um incidente de sanidade mental, que concluiu que o réu é capaz de compreender o caráter ilícito de seus atos.

A sentença que determinou que o caso fosse analisado pelo Tribunal do Júri foi proferida em outubro de 2023.

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