Polícia
Foto: Antonio Valiente / Agencia RBS

Um empresário de 39 anos foi preso preventivamente por suspeita de torturar e tentar matar um funcionário em  Farroupilha. O crime foi descrito como “um dos mais perversos” já vistos pelo delegado Ederson Bilhan. Foram duas sessões de tortura que incluíram golpes de facão, choques elétricos e até dentes arrancados com alicate. No final, a vítima de 38 anos foi obrigada a pular de um paredão de pedra com cerca de 15 metros de altura na RS-826, estrada que liga Farroupilha a Alto Feliz, conforme a investigação policial.

O salto forçado foi uma tentativa de assassinato, segundo os policiais. O fato de a vítima ter sobrevivido causou espanto nos investigadores e na equipe do Samu que esteve no local. O homem quebrou três vertebras, mas conseguiu escalar por um um barranco e pedir ajuda na rodovia. Ele passou por cirurgia na coluna e permanece internado no hospital. A identidade da vítima está preservada pela polícia.

— Estive no hospital conversando com a vítima e ela está bem de saúde, se recuperando. Não tem como imaginar que algo assim aconteça. Estou há 14 anos na segurança pública e é o caso mais perverso que já vi. Já vi muita coisa, mas este transcende o que costumamos encontrar — aponta o delegado Bilhan.

Para a Polícia Civil, o caso se iniciou no dia 9 de agosto, quando um homem ferido pediu socorro na estrada do Desvio Blauth, que liga Farroupilha a Carlos Barbosa. Na ocasião, a vítima alegou ter sido assaltada.

— Essa foi a versão (inicial). Ele não queria que a polícia fosse atrás (dos suspeitos) e pudesse ser vítima novamente. Estava com medo. Só que, quando teve alta do hospital (na noite do dia 10), a vítima foi novamente raptada pelos agressores, que o levaram para nova “sessão de tortura” — relata o delegado de Farroupilha.

O homem agredido é descrito pela Polícia Civil como alguém de hábitos simples e acostumado com a lida de campo. Ele trabalhava e morava no complexo empresarial do empresário preso, local onde aconteceram as agressões. Segundo o relato da vítima, o empresário suspeito teria cometido a tortura porque acreditava que o funcionário teria furtado R$ 15 mil do escritório da empresa. Com isso, ele pretendia conseguir uma confissão. O funcionário nega veemente envolvimento no furto do dinheiro.

Segundo a Polícia Civil, foram quase 30 atos diferentes de agressão relatados no inquérito policial. A primeira sessão de tortura, segundo a investigação, aconteceu no dia 9 e durou até que a vítima desmaiou e foi largada no Desvio Blauth, distante cerca de 10 quilômetros da área central de Farroupilha. A segunda sessão teria começado na noite seguinte, após a vítima ter recebido alta do hospital e retornado para a empresa de carona com os próprios agressores, e só terminado na tarde seguinte, quando a vítima teria sido obrigada a pular do paredão.

Para  todos os envolvidos na investigação, o relato é que o homem “nasceu de novo”. Afinal, foi uma queda sobre um terreno com pedras. A vítima relatou à polícia que desmaiou com o impacto e recobrou a consciência posteriormente. Bastante ferido, o homem disse que foi se arrastando até encontrar populares, que acionaram uma ambulância.

— Na ocasião, até pensamos que era uma desova de corpo. Não sei como sobreviveu, não tem explicação. Ele estava bem lesionado, mas não tinha nenhuma fratura externa. Hematomas era por todo corpo. Ele estava consciente, inclusive estava calmo, parecia não entender a situação. Fiz várias perguntas e a história dele foi sempre a mesma — relata um servidor do Samu que prestou socorro e pediu para ter a identidade preservada. 

O empresário, apontado como mandante e autor da tortura, foi preso em Garibaldi na manhã de quinta-feira (19). Acompanhado de uma advogada, o homem de 39 anos exerceu o direito constitucional de permanecer em silêncio. Segundo a Polícia Civil, ele já possui uma condenação por tentativa de homicídio em Garibaldi em 2012.

— Temos a convicção de um autor, esse que está preso, que é o mandante da tortura. Os demais envolvidos ainda investigamos quantos e quem são. Sobre o suposto furto, esse não foi registrado na Polícia Civil e não sabemos se realmente aconteceu. A vítima (da tortura) nega veementemente — aponta o delegado Ederson Bilhan.

A reportagem entrou em contato com a advogada Franciele Baú, do escritório Baú, Porto e Couto, que acompanhou o empresário no momento da prisão pela Polícia Civil. A defesa preferiu não se manifestar neste momento, ressaltou que o processo está em segredo de Justiça e que todas provas serão analisadas na instrução processual.

Além da prisão do empresário, a Polícia Civil também cumpriu três mandados de busca e apreensão em Farroupilha e Garibaldi. Durante a ação, um outro homem foi preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo. A investigação prossegue para identificar os outros participantes da tortura.

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