Cerca de R$ 24,5 milhões em contas bancárias, além de veículos e imóveis relacionados a uma família de Uruguaiana, na Fronteira Oeste, foram sequestrados pela Polícia Federal (PF) na última semana. A indisponibilização dos bens ocorreu porque pai, mãe e filho são suspeitos de tráfico internacional de drogas, além de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O esquema investigado envolve a distribuição de narcóticos que entram no Brasil pelo sul do RS.
A família já era conhecida da PF desde 2015, quando os três foram presos no âmbito da operação Plano Alto. À época, uma investigação constatou que criminosos traziam cocaína da Bolívia em aviões de pequeno porte e descarregando a droga em fazendas na região de Uruguaiana. A polícia aponta o patriarca como mentor do esquema, com ajuda da mulher e do filho mais velho.
Segundo a PF, assim que pai e filho progrediram para o regime semiaberto, ambos fugiram. A polícia suspeita que ambos estejam no Paraguai. Já a mulher segue cumprindo pena em regime semiaberto. O casal tem ainda mais um filho e uma filha. Os nomes deles não foram divulgados.
A PF suspeita que recentemente este filho mais jovem tenha visitado o pai no país vizinho. Embora não tenha antecedentes, o rapaz também é suspeito de lavagem de dinheiro.
Além do núcleo central da família, a polícia diz que há outros parentes envolvidos com o crime, como a esposa de um sobrinho do patriarca, que foi presa em flagrante por transportar drogas e responde em liberdade. A PF pontua, no entanto, que há pessoas de fora da família atuando no esquema. Contudo, descarta a possibilidade de envolvimento com alguma facção.
Operação Talha Dupla
Na terça-feira passada (20), a PF deflagrou a Operação Talha Dupla, na qual cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em Uruguaiana, um em Pelotas, no sul do RS, e outro em Florianópolis (SC). Em Uruguaiana, foi apreendida por arresto — quando o bem é indisponibilizado e usado como garantia para quitação de uma dívida — uma residência em que a família viveu durante algum tempo. Segundo a PF, a casa, avaliada em R$ 400 mil, estava registrada em nome de laranja. Um outro imóvel, também em Uruguaiana, foi sequestrado pelas autoridades.
Em Florianópolis, em Santa Catarina, foi sequestrado um imóvel recém-comprado, avaliado em quase R$ 1 milhão, que também seria da família. Também foram sequestrados cinco automóveis. A investigação da PF aponta que os bens teriam sido adquiridos com dinheiro do tráfico de drogas, uma vez que não foi localizado vínculo empregatício dos suspeitos.
A investigação iniciou em novembro de 2022, quando uma jovem de 22 anos que viajava de ônibus de Pelotas para Jaguarão — conhecida rota de contrabando — despertou suspeita dos agentes da PF. Ela carregava duas malas, mas não tinha chaves para abri-las. Os agentes localizaram R$ 1,6 milhão em cédulas no interior das bagagens. As notas estavam embrulhadas em plástico filme e dentro de mochilas.
PF bloqueou R$ 24,5 milhões em contas bancárias dos investigados. Foto: Polícia Federal / Divulgação
O nome da operação se originou deste fato. Talha é um tipo de vaso, onde se guarda azeite, cereais, e também é uma ferramenta de corte. A PF explica que, como havia duas malas com dinheiro e suspeita de dois crimes (evasão de divisas e lavagem de dinheiro), o nome da investida ficou Talha Dupla.
A jovem ficou em silêncio na delegacia. Após investigar o celular da mulher, os policiais identificaram a origem do dinheiro. Um criminoso que seguia atuando de dentro de um presídio havia ordenado que ela levasse o valor até Santana do Livramento. A mulher não sabia ao certo do que se tratava, apenas atuava como “mula”, transportando drogas e dinheiro do tráfico.
Conforme a PF, este homem preso tinha ligação com o patriarca da família investigada. Ele saiu da prisão e foi assassinado em abril.
Na operação da terça-feira passada também foram apreendidas armas, rádios de comunicação e dinheiro em espécie, além de eletrônicos e documentos.
A PF suspeita que a família esteja envolvida em alguns casos recentes de grandes apreensões nas rodovias do Sul e da Fronteira Oeste, como um esquema de tráfico de skunk na fronteira com o Uruguai, que foi alvo de operação em julho deste ano.
Foram apreendidas armas e munições durante a ação da PF. Foto: PF/Divulgação
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Gaúcha ZH