Polícia

Indiciada médica suspeita de superdosagem a paciente que ficou em estado vegetativo no RS

A Polícia Civil indiciou, no dia 24 de janeiro, uma médica por lesão corporal gravíssima em suposto erro médico de superdosagem de medicamento que deixou o jovem Alexandre Moraes de Lara em estado vegetativo em um hospital de Porto Alegre. O caso foi remetido ao Ministério Público, que pediu investigações complementares antes de analisar o inquérito.

O indiciamento de Erika Bastos Schluter foi por ação culposa, quando há negligência, imprudência ou imperícia. A médica foi afastada do Hospital Humaniza logo após o caso. O advogado Flávio de Lia Pires não concorda com o resultado do inquérito e diz que a cliente foi induzida ao erro.

“Quando ela viu que foi alertada que seriam 20 comprimidos, ela foi ao sistema do hospital pra ver se realmente a dosagem que estava sendo fornecida era de 30 gramas, e lá ela constatou que era 30 gramas. Por isso foi feita aplicação dessa forma. A falha é totalmente do hospital ou do sistema, se for um sistema terceirizado, da farmácia do hospital”, afirma.

A direção do Hospital Humaniza diz, em nota, que o caso ocorreu na administração anterior, que os profissionais envolvidos não trabalham mais na unidade e que presta suporte ao paciente. Leia a nota abaixo.

Alexandre tinha 28 anos quando deu entrada no hospital para tratar um problema cardíaco. No entanto, em vez de receber dois comprimidos de propafenona, o paciente recebeu 20 – 10 vezes mais. O remédio, indicado para controlar batimentos do coração, acabou provocando uma parada cardiorrespiratória. Um laudo assinado por um médico contratado pela família afirma que o estado vegetativo de Alexandre tem grande potencial de ser permanente.

A família de Alexandre entrou com um processo contra o Hospital Humaniza e segue aguardando uma indenização para cobrir despesas com o tratamento. O caso dele é considerado irreversível.

“O Alexandre tá vivo, mas, ao mesmo tempo, a gente vive um luto, porque é outra pessoa. Não é mais o Alexandre que a gente conhecia”, lamenta a esposa, Gabrielle Gonçalves Bressiani.

Investigação

A polícia investigou o caso e apontou, como responsável pelo erro, a médica plantonista que atendeu Alexandre.

“Todas as provas levaram a responsabilização dela, porque ela era a médica responsável neste momento. Pela lei, como ela é uma profissional, uma técnica, ela teria teria obrigação de se informar sobre – eu sempre digo que nos não sabemos tudo, mas nós temos que ir atrás pra saber daquilo que não entendemos – se ela tinha certeza ou não daquela posologia”, diz a delegada Carla Kuhn.

Os comprimidos estavam cadastrados na farmácia do hospital na dosagem de 30 miligramas, e não 300, como é o correto. Durante a investigação, a delegada ouviu farmacêuticos, enfermeiros e técnicos que atenderam Alexandre, mas eles não foram responsabilizados.

“O enfermeiro, inclusive, que estava de plantão no momento dos fatos, quando buscou na farmácia esse remédio, ele conversou com ela e falou: ‘olha, doutora tem uma quantidade exagerada aqui’. Mas parece que houve uma tentativa de falar com o ‘cardio’, mas que não obteve êxito. Então, dentro disso, ela determinou que se aplicasse aquela medicação toda no paciente”, relata a delegada.

Na conclusão do inquérito, a delegada também apontou falhas nos processos adminstrativos que envolvem o cadastro dos medicamentos na farmácia do hospital. Ela recomendou ao Ministério Público que solicite uma auditoria na instituição.

Entrada do Hospital Humaniza, em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV

Relembre

O caso ocorreu em outubro de 2021. A esposa de Alexandre estava junto dele quando foi aplicada a superdosagem da medicação. Ela disse ter questionado o técnico de enfermagem, que confirmou a dosagem, indicada por uma médica. Pouco depois, o rapaz passou mal.

Segundo a família, o médico cardiologista deu a receita correta, e o primeiro erro aconteceu na farmácia do hospital.

“A farmácia, na hora de cadastrar o medicamento, cadastrou errado. Ao invés de cadastrar como 300 miligramas, que era o correto, cadastrou como 30 miligramas. Então, ao invés de tomar os dois comprimidos que ele deveria, ele tomou 20 comprimidos”, disse Gabrielle.

Relembre: caso de superdosagem deixou jovem em estado vegetativo em Porto Alegre

Um prontuário assinado pelo diretor-executivo do hospital apontou o erro da equipe. Segundo o documento, “a medicação dispensada pela farmácia do hospital era divergente da dosagem registrada no sistema e da prescrição médica”. O médico indicou 600 miligramas ao paciente, mas o hospital deu 6 mil miligramas.

A família ainda reclamou do atendimento de urgência oferecido pelo hospital. Segundo o tio, Luciano Pacheco Martins, a equipe demorou mais de cinco minutos para socorrer Alexandre.

“A médica não sabia orientar os enfermeiros ou técnicos do procedimento, se tinha que fazer intubação, se não tinha. O equipamento para respirar que eles foram utilizar estava faltando uma peça, então não deu para utilizar, ajudou a faltar oxigênio. O medicamento, que era adrenalina, que tinha que ser dado, não foi dado no tempo adequado”, relatou.

Gabrielle recorda que o marido era ativo fisicamente e que gostava de surfar e ir à academia. Ela, que estava grávida na época do ocorrido, diz que Alexandre não entende quando vê a filha.

“Eu estava grávida de três meses quando aconteceu. Agora eu levo a Sara, filha dele, ali para vê-lo, mas ele não entende nada”, contou, emocionada, em 2022.

Nota do Hospital Humaniza:

“O Hospital se solidariza e vem apoiando o Alexandre e a família. Informa que o evento ocorreu na administração anterior. Porém, esclarece que tomou ciência nesta data da conclusão do inquérito policial, que é um relatório que a delegacia envia ao Ministério Público para que requeira o arquivamento, novas diligências ou proponha uma ação penal. Por outro lado o Hospital informa que os profissionais relacionados ao caso não trabalham mais na unidade. O Hospital continua prestando todo suporte ao paciente.”

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G1 RS

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Direção e redação.

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