A costureira Rozalba Grime, de 27 anos, que é acusada de matar uma jovem grávida e retirar a criança da barriga com um estilete, disse à advogada Bruna dos Anjos que está surtando na prisão e tem pensamentos suicidas.
“Me odeio”, escreveu ela em uma carta entregue no dia 8 de junho.
Ela confessou o assassinato de Flávia Godinho Mafra, então com 26 anos, na cidade de Canelinha. Presa desde o crime, Rozalba passou um tempo no presídio feminino de Chapecó, e hoje está em Florianópolis, dividindo a cela com outra mulher que tentou roubar uma criança.
Foi de lá que a ré, aguardando julgamento, escreveu a carta para a advogada. “Buscamos este atendimento psiquiátrico e psicológico desde a prisão dela, mas até agora não fomos atendidos”, conta Bruna à Revista Crescer.
Na carta, Rozalba agradece o tratamento na prisão, porém, afirma estar com a mente perturbada. “Tenho tido pensamento suicida, quero falar sobre o que tou [sic] sentindo, parece que vou surtar, preciso de atendimento médico, que me oriente e me ajude por favor. Eu sei que me odeio, mas eu tenho me apegado muito a Deus, ele irá me salvar ou me levar. Ajudem-me!”
A presa foi diagnosticada mentalmente sã por um laudo pericial da Justiça em novembro de 2020, mas o resultado é contestado pela defesa.
“Desde a infância, ela é muito mentirosa, já inventou câncer, fazendo a mãe comprar remédios, ir a hospitais, criando laudos falsos. Já adulta, perdeu um bebê e depois de seis anos de casamento não suportou quando o irmão anunciou que ia ser pai e decidiu inventar uma gravidez. Fez todo mundo acreditar. Dizia que tinha desejos, fizeram todo enxoval do bebê. Ela precisava manter essa mentira. Foi quando decidiu ter uma criança”, conta.
Para isso, lembra a advogada, Rozalba buscou vários meios. “Ela tentou ver se alguém queria vender uma criança. Foi ver se dava para adotar, se conseguia pegar num hospital, de uma mãe que não quisesse”, relata à Revista Crescer.
O crime
A decisão final foi roubar o filho de outra mulher, uma antiga colega de escola de quem se reaproximou já com o intuito de ficar com o bebê.
“Foi tudo planejado. Para se ter uma ideia da loucura, ela se sujou de sangue da vítima e da criança, saiu carregando o bebê pra rua, onde parou carros e disse que tinha acabado de dar à luz”, explica a advogada à Revista Crescer.
No hospital, a história logo foi descoberta, já que não havia nenhum registro da gravidez de Rozalba, nem sinais de parto. As câmeras de segurança gravaram quando ela deu uma carona para Flávia, alegando que iria levá-la para um chá de bebê surpresa.
Chegando ao local, uma olaria abandonada, Rozalba diz que atingiu a grávida com tijolos na cabeça, deixando-a desacordada. Então, confessou, abriu o ventre da mãe com um estilete, roubando a criança, que também ficou machucada. Segundo a perícia, a causa da morte de Flávia foi o sangramento na barriga.
A advogada diz que a ré não pensou que alguém fosse descobrir o crime: “Ela só pensava em realizar o desejo dela de ser mãe, independente do que fosse necessário fazer. Tanto que ela foi muito cautelosa com o bebê. Cuidou dele, tirou foto com ele, amou ele por aqueles instantes. No depoimento, ela diz que não tinha a intenção de matar a mãe, ela só queria o bebê”.
Bruna explica que a família da ré tem poucos recursos financeiros, mas é muito bem estruturada, mantém os mesmos empregos há anos, inclusive a própria Rozalba, que atuou 12 anos na mesma empresa, “sem nenhum problema com ninguém, sem ficha criminal e com os estudos completos”.
“Hoje ela vê o quão sem sentido foi o ato. Ela não diz ‘eu sou uma mentirosa’, mas não viu saída. Ela se arrepende muito do que fez. Se odeia, sabe que os outros a odeiam; sente muita vergonha”, afirma à Revista Crescer.
Para a advogada, existem fatos isolados e condutas reiteradas, o que não seria o caso de sua cliente. “Quando há o ímpeto, o dolo, a vontade de fazer, não há arrependimento nem a busca do entendimento da ação. Mas Rozalba tem sofrido muito, é notório”, defende.
Questionada pela Revista Crescer se a presa pergunta ou fala da criança ou da vítima, a resposta foi: “Não, ela não cita, nada. Nada”.
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