A Polícia Civil deflagrou na manhã desta terça-feira (19) a quinta etapa da Operação X-Con, instaurada para combater grupos suspeitos de associação criminosa e extorsão decorrente do golpe dos nudes. São cumpridos 12 mandados de busca e apreensão e seis ordens de prisão: Porto Alegre, Canoas, Estância Velha e na penitenciária de Charqueadas. Entre os alvos desta etapa estão supostas companheiras de apenados. As buscas ocorrem nas casas destas mulheres.
São mulheres inscritas no sistema de visitas em unidades prisionais, as quais seriam responsáveis por recrutar participantes e direcionar o lucro ilícito para líderes de organizações criminosas que estão na cadeia. Foram apreendidos celulares, cartões bancários e um automóvel. Buscas ocorrem nas casas destas mulheres consideradas companheiras dos comandantes do esquema.
— O que as investigações nos apontam é que existe o comando destas organizações e os braços operacionais. Nós temos aqueles que praticam a extorsão na rua (fora da cadeia), que são aqueles que atuam e obtêm os valores provenientes dos golpes. Há os destinatários, que são aqueles que recebem o repasse dos valores, que na maioria das vezes são mulheres ou familiares daqueles que estão presos. E nós temos os comandantes do esquema, que muitas vezes estão presos, são chefes ou líderes de galeria e controlam todo o esquema de dentro da prisão — revela a delegada Luciane Bertoletti, que coordena a operação.
A polícia gaúcha vem investigando tais grupos há cerca de dois anos, tendo realizado quatro investidas contra segmentos das organizações criminosas envolvidas no golpe dos nudes. Em setembro de 2021, na primeira etapa, foram executados mais de 70 mandados e bloqueados cerca de R$ 5 milhões em contas bancárias. Na segunda fase, em fevereiro de 2022, mais 42 ordens judiciais foram cumpridas.
Na terceira etapa, em julho do ano passado, a ação chegou à Serra, culminando na prisão de mãe e filha acusadas de encenarem os golpes. Na quarta fase, em setembro do mesmo ano, foram executados 38 mandados de prisão, inclusive contra indivíduos já encarcerados, e ocorreu o bloqueio de mais R$ 2 milhões em recursos supostamente obtidos pelos golpes.
Conforme a delegada Luciane, recentes apurações indicaram que células criminosas voltaram a atuar e teriam lesado novas vítimas. Em um dos casos, a extorsão causou um prejuízo de R$ 31 mil a um denunciante.
— Ao longo destes dois anos de investigações, as quatro etapas já realizadas resultaram em mais de 150 prisões. Foram 92 pessoas identificadas como participantes de crimes e detidas no Rio Grande do Sul, além de dezenas que foram alvo de ações em operações conjuntas com autoridades de outros Estados — relata Luciane.
Segundo a delegada, parte da estratégia empregada pelas autoridades consiste em desmontar a estrutura econômica montada pelos golpistas. A ofensiva sobre as finanças dos criminosos também resultou no sequestro de mais de uma dezena de bens, entre imóveis e automóveis, e na quebra do sigilo bancário de 80 suspeitos de integrarem estas organizações.
O conjunto das ações já abrangeu Porto Alegre, Alvorada, Canoas, Eldorado do Sul, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estância Velha, Lindolfo Collor, Lajeado, Montenegro, Charqueadas, Viadutos, Passo Fundo, São Borja, Itaqui, Torres, Xangri-lá, Farroupilha e Nova Prata.
Como funciona o golpe dos nudes
Tudo começa com um “oi” em aplicativos como WhatsApp ou redes sociais. A partir dali, desenrola-se uma conversa que chega a troca de fotos íntimas. No final, a extorsão. A jovem dos diálogos seria menor de idade e, em alguns casos, teria cometido suicídio em razão da descoberta do relacionamento com um homem adulto. Seria preciso pagar para evitar uma investigação policial.
Na sequência, outra pessoa se apresenta como pai da suposta jovem, dizendo que a filha é menor de idade e a conduta da vítima configura crime de pedofilia. Para não denunciar, evitando de levar o fato ao conhecimento de uma autoridade policial, o suposto pai exige depósitos em dinheiro.
Na maioria das vezes, após o recebimento de valores, o extorsionário continua exigindo mais dinheiro, por vezes alegando a necessidade de atendimento psicológico, serviços de urgência e emergência em saúde, chagando a casos nos quais são simuladas despesas para sepultamento.
É comum a participação de outro golpista, que se apresenta como policial e tensiona ainda mais a vítima sustentando que haverá prisão e que a família da vítima tomará conhecimento dos atos.
— A verdade é que, a partir do diálogo com a vítima, os criminosos percebem qual o seu temor. Desta forma, ora interpretam a figura de um pai revoltado, ora de um delegado ou agente que irá tomar providências legais. E, caso não dê certo, acabam ameaçando a vítima de expor suas fotos intimas e diálogos para a própria família e abertamente em redes sociais — descreve a delegada Luciane Bertoletti.
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Gaúcha ZH