A Polícia Civil, com apoio da Brigada Militar e da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, deflagrou, nesta sexta-feira (23/6), a Operação Hades 2 contra uma célula criminosa que comercializa agrotóxicos de uso proibido no Brasil. Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão nas cidades de Porto Lucena, Porto Xavier, Santa Rosa e Santo Ângelo.
Na ação, quatro pessoas foram presas. Foram apreendidos galões do agrotóxico Paraquat, 21 cabeças de gado ilegal e vinhos estrangeiros.
A operação é resultado de uma investigação que já dura seis meses e que vem sendo coordenada pela Draco de São Luiz Gonzaga e pelo Departamento de Polícia do Interior (DPI) da Polícia Civil. Segundo as apurações, a célula criminosa alvo da ofensiva tinha como sede principal a cidade de Porto Lucena, mas também utilizava cidades estratégicas em regiões próximas da fronteira com a Argentina para a distribuição e venda dos agrotóxicos ilegais.
O grupo se dividia entre quatro principais vendedores dos agrotóxicos proibidos, com atuação direta junto a produtores rurais do Estado. Esses vendedores contavam ainda com o apoio logístico de pelo menos três fornecedores dos agrotóxicos, que usavam de pontos estratégicos na zona rural de Porto Lucena para armazenar e esconder os produtos. As investigações mostram que uma ilha no rio Uruguai, na fronteira com a Argentina, era também utilizada pelo grupo para o armazenamento dos produtos. O local foi objeto de buscas pela Polícia. Em poucos meses, a célula criminosa movimentou mais de R$ 500 mil em contas bancárias próprias e de “laranjas”, especialmente familiares próximos.
Segundo o Delegado Heleno Santos, da Draco São Luiz Gonzaga, provas coletadas no decorrer das investigações indicam que um dos chefes do esquema criminoso ocupa o cargo de vereador em um dos municípios alvos das buscas. Em áudios coletados, há indícios de que o vereador realizava a venda de agrotóxicos proibidos inclusive durante a sessão legislativa. Durante as apurações, ele foi preso em flagrante por uma equipe da Draco transportando 500 litros do agrotóxico Paraquat (avaliados em mais de R$ 50 mil), herbicida que é proibido não apenas no Brasil, como na maioria dos países produtores agrícolas. Por tal fato, o vereador responde a inquérito policial na Draco de São Luiz Gonzaga por venda e transporte ilegal de agrotóxicos, associação criminosa e outros crimes. Uma cópia de toda a investigação será encaminhada ao Ministério Público e à Câmara Municipal para análise a respeito de eventual violação do decoro parlamentar.
A Operação Hades 2 teve a participação de mais de 90 policiais civis e militares e 13 fiscais em 38 viaturas e duas embarcações. A ofensiva dá continuidade à operação Hades 1, realizada no final do ano de 2022 e que envolveu apurações que duraram mais de um ano. Após o sucesso da referida investigação, a operação Hades acabou se tornando uma operação permanente no âmbito da Operação Hórus da Polícia Civil, com diversas fases ainda em andamento.
Todo o trabalho conta com a coordenação da Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência e da Coordenação-Geral de Fronteiras e Amazônia do Ministério da Justiça e Segurança Pública, e da Secretaria da Segurança Pública do RS, por meio da Chefia da Polícia Civil, do Departamento de Polícia do interior (DPI) e do Departamento de Planejamento e Integração da SSP/RS.
Paraquat: o agrotóxico proibido no Brasil pela alta toxicidade
O Paraquat é um herbicida amplamente utilizado na agricultura desde os anos 1960, sendo que as vantagens apontadas no seu uso relacionam-se ao baixo custo e grande eficácia. É usado principalmente para o combate às plantas daninhas e também na secagem das folhas da soja, acelerando, assim, a colheita.
Depois de estudos indicarem alta toxicidade (não possui antídoto e mata em poucos dias, quando ingerido ou inalado, mesmo que acidentalmente) e associação com diversas doenças degenerativas, foi vetado em quase todo o mundo, sendo proibido no Brasil pela Anvisa a partir do ano de 2017.
Atualmente, por ser proibido no Brasil, o Paraquat, normalmente vindo da China ou da Índia, é contrabandeado para o país passando pelas fronteiras com a Argentina e Uruguai. Sendo um produto proibido e ilegal, não recolhe impostos e também acaba causando danos às empresas nacionais, já que a concorrência se torna desleal.
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