A Polícia Civil prendeu em flagrante dois homens suspeitos de integrar uma organização investigada por aplicar golpes oferecendo chás “milagrosos” e serviços espirituais para curar doenças. A operação ocorreu em sigilo na última quinta-feira (6) em Encruzilhada do Sul, no Vale do Rio Pardo.
O grupo já vinha sendo alvo de investigação durante as últimas semanas. Segundo a apuração dos policiais, trata-se de uma família que vive como nômade, oferecendo tratamentos alternativos, com base em rituais, prometendo quebrar maldições que, segundo eles, seriam responsáveis por causar doenças. Os principais alvos, conforme o inquérito, seriam pessoas idosas e de baixa renda. Em um dos casos, um casal de Rio Pardo chegou a perder R$ 20 mil.
Entre os detidos, está o chefe da organização, de 54 anos, e seu filho de aproximadamente 30 anos, que já havia sido preso no dia 26 de setembro, mas foi liberado logo depois. Até a mais recente atualização, ambos permaneciam recolhidos na penitenciária de Santa Cruz do Sul. Os nomes não foram divulgado pela polícia, em respeito à lei de Abuso de Autoridade.
Conforme a delegada de Encruzilhada do Sul, Fernanda Amorim, em depoimento aos agentes, os dois reiteram a eficácia dos serviços que oferecem. O mais velho, segundo ela, chegou a indicar que possui ligação com membros de outros Estados.
— Todos eles confirmam as vendas, mas garantem que os chás são de fato milagrosos, e dizem ainda que compra apenas quem quer. Além disso, o membro da comunidade mencionou que entraria em contato com alguém em Brasília. Vamos buscar agora quem seria essa pessoa — afirma Amorim.
Apesar dos alvos serem investigados pelos crimes de charlatanismo, estelionato e constrangimento ilegal, o flagrante ocorreu por posse ilegal de arma de fogo. No local onde estavam, uma espécie de acampamento em uma propriedade privada, foi encontrada uma arma calibre 12 enterrada.
Além disso, foram apreendidos cinco celulares, folhetos que eram entregues para promover o serviço e 15 caixas com comprimidos de medicamentos psicotrópicos (que atuam no sistema nervoso central). A polícia ainda vai investigar de que forma esses remédios eram utilizados na abordagem. A principal hipótese é que eles usavam para drogar as vítimas.
— Achamos que em algum momento eles misturavam as drogas com água e davam às pessoas para deixá-las mais relaxadas. Assim conseguiam obter de forma mais fácil os dados bancários e deixar o cliente ainda mais vulnerável — relata a delegada.
Foram encontrados também frascos com substâncias não identificadas, que serão submetidas à análise pericial, e uma quantidade de corante vermelho. Segundo as autoridades, o produto era usado para produzir sangue artificial.
— Pelo que algumas vítimas nos relataram, eles pediam um copo d´água e depois mandavam a pessoa fechar os olhos. Acreditamos que o corante era usado para aplicar na água. A amostra era utilizada como se fosse uma representação do sangue da pessoa, que estaria contaminado — complementa.
As investigações apontam que os membros do grupo receitavam os chás, com base em cascas de árvores, cobrando valores que variam de R$ 4 mil a R$ 30 mil. Depois que o valor era depositado, os curandeiros não retornavam. Pessoas ouvidas pela polícia disseram que chegavam a preparar a substância, e depois notavam que não surtia efeito algum.
Outras seis pessoas já foram identificadas e o inquérito segue em andamento. Ainda não se sabe quantos integrantes compõem a organização.
Defesa dos envolvidos se manifesta
O advogado Túlio Abreu de Souza, que representa os dois envolvidos, afirma que irá provar, ao longo do processo judicial, não haver nenhum tipo de estelionato na prática dos clientes. Segundo ele, as investigações são discriminatórias, pois atacam um grupo minoritário. Os integrantes da organização se denominam ciganos.
— O caso não passa de mais um excesso de poder estatal contra minorias, um pequeno, pobre e vulnerável grupo de ciganos acampado no município, numa tentativa de criminalização do modo de vida e cultura deles, que envolve o exercício da fé e o comércio de chás naturais — alega.
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Gaúcha ZH