Um novo golpe tem deixado em alerta os correntistas que usam a linha de celular para alterar a senha do aplicativo do banco no Rio Grande do Sul. Mesmo à distância, criminosos invadem os apps, contratam empréstimos em nome dos usuários e desviam o dinheiro das contas. Uma das pessoas enganadas relata que teve um prejuízo de R$ 11 mil.
Segundo a Polícia Civil, é por meio de um código para recuperação de senha, enviado via mensagem de texto, que os golpistas assumem o controle das linhas telefônicas. A partir daí, acessam a conta do usuário e fazem movimentações financeiras.
As operadoras de telefonia Vivo e Claro, contratadas pelos consumidores citados na reportagem, se manifestaram por meio do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal. O órgão declarou que “as empresas de telecomunicações vêm aperfeiçoando os procedimentos contra fraudes de forma contínua e fazem um acompanhamento da habilitação de chips e troca de titularidade” e que uma campanha foi criada para alertar sobre as fraudes.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) destacou que os aplicativos bancários contam com elevado grau de segurança e que para acessar esses aplicativos é obrigatório o uso da senha pessoal do cliente. A Febraban orienta os clientes a adotarem cuidados ao utilizar o celular, como instalar o bloqueio de tela do aparelho, nunca salvar senhas no telefone e evitar a repetição de senhas para acesso a outros aplicativos de compras ou serviços na internet.
Correntistas lesados
Uma vítima da ação dos bandidos é a secretária Graziela Andrade. Ela afirma ter perdido R$ 11 mil com o golpe. Em agosto, o telefone dela parou de funcionar por uma semana. Durante o período, um golpista assumiu o controle da linha, entrou no aplicativo do banco e contraiu o empréstimo.
“Como alguém pegou meus dados, ligou e se passou por mim? Como conseguiram tão fácil? Em noventa dias, eu ainda não consegui provar que sou inocente”, indignou-se Graziela.
Um dos lesados pela fraude é Jocel Gomes Pinheiro. De acordo com o trabalhador industrial, em fevereiro deste ano ele teve a conta do banco invadida e foi realizada a contratação de um empréstimo no valor de R$ 8 mil, com desconto na conta-aniversário do FGTS. O dinheiro foi transferido para duas contas em três transações diferentes.
“Todo mês de novembro vai ser descontado o valor da parcela, que no final disso, dá R$ 17 mil”, lamentou.
Investigação e indenização
O delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), revela que o chip do celular de Jocel foi desativado em outro estado. Uma liminar da Justiça suspendeu as próximas deduções na conta da vítima.
“O inquérito ainda está em fase inicial, mas nós conseguimos alguns documentos utilizados para a alteração da titularidade desse chip. A gente observou que essa alteração foi feita em São Paulo e também os beneficiários dos valores que foram subtraídos da vítima”, relatou Anicet.
A advogada Júlia Reis, especialista em direito do consumidor, diz que a Justiça tem condenado operadoras de telefonia e bancos a indenizarem os clientes vítimas de golpe.
“Os tribunais têm decidido com base na boa-fé que norteia toda a relação entre consumidor e fornecedor. Tanto a operadora quanto o banco são responsáveis por não garantir a segurança que se espera para o consumidor numa relação desse tipo”, pontuou a advogada.
Como funciona o golpe
O golpe foi possível porque o banco usa a linha de celular para alterar a senha do aplicativo. Através de uma mensagem de SMS, os criminosos conseguiram acessar a conta dele. Para assumir o controle da linha telefônica, os bandidos se fazem passar pelos donos do chip. Isso pode acontecer com a ajuda de funcionários de operadoras.
“Muitas vezes esses profissionais não checam a integridade e a autenticidade de quem está solicitando uma troca de chip, uma ativação de número em outro chip. Sem contar alguns casos que, infelizmente, alguns funcionarios são cooptados pelos criminosos e chegam ganhar comissões para passar informações para clonar o chip”, diz o perito digital José Milagre
Especialistas em informática acreditam que as informações de correntistas chegam aos golpistas por conta de vazamentos de dados de cadastros. As informações pessoais são comercializadas. Dessa forma, os criminosos conseguem enganar atendentes de operadoras.
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