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Foto: Divulgação

Quis o destino que a operação montada no início da semana para o resgate de um empresário sequestrado em Palmeira das Missões terminasse com o achado de uma história comovente e inspiradora. Após encontrar o homem alvo do sequestro, no interior do município, na segunda-feira, 15, policiais da Força Tática da Brigada Militar (BM) aguardavam a chegada da perícia quando se depararam com uma personagem até então desconhecida pela maior parte da comunidade.

Isolada do centro urbano de Palmeira das Missões e morando praticamente sobre os escombros daquilo que um dia foi sua casa, dona Joana, de 82 anos, chamou a atenção dos militares. Acompanhada de seus cachorros, ela esbanjava simpatia, alegria e receptividade aos integrantes da BM, mesmo vivendo em condições desumanas, no meio do mato. A condição de vida de Joana despertou o interesse e a compaixão dos militares, que fizeram companhia para a senhora durante boa parte da manhã e descobriram amis sobre a história da idosa.

Um áudio divulgado internamente por um dos soldados que esteve com dona Joana acabou se disseminando nas redes sociais e ampliando a história da idosa. Segundo o relato, ela mora no local há 16 anos, e vive praticamente na única parte que restou da residência. O telhado de amianto foi destruído por uma forte queda de granizo, ocorrida há aproximadamente 10 anos. Por falta de dinheiro, a estrutura nunca foi reformada, fazendo com que a impiedosa chuva apodrecesse tudo o que havia na maior parte da casa ao longo do tempo. Hoje, ela mora no único cômodo de tijolo e concreto, onde eventualmente dorme com cobertores e roupas molhadas.

Sem estradas até a casa, chegar no local é uma tarefa que exige percorrer um longo caminho por meio de uma lavoura antes de encontrar o capão que rodeia a vida de dona Joana. É pela dificuldade de chegar até o centro da cidade que a mulher estava há dias sem comer nada, já que não podia ir até o mercado – tarefa que foi concluída com a ajuda da BM, que transportou na viatura até o mercado e levou ela de volta para a residência. A dieta da idosa é baseada em mandioca e batata, enquanto que a carne, frita, é rara e rapidamente acaba, fazendo com que a idosa fique sem comida, mas não sem disposição e com a religiosidade ainda mais alimentada.

O isolamento fez com que a dona Joana também não pudesse comprar diesel para seu lampião, a única fonte de iluminação do cômodo. A total escuridão das noites, e os fieis cachorros, cuja reprodução Joana busca interromper, são as companhias da senhora em seu mundo, desde que o marido morreu, há anos, partindo para encontrar o filho do casal, morto logo no início da vida, vítima de meningite.

Solidariedade transborda o batalhão

O impacto e a comoção gerada diante da realidade de dona Joana, que mais de uma vez reiterou a alegria em morar no meio do mato, ser uma “mateira”, inspirou os militares a promoverem reformas na casa e ajudarem a mulher a ter uma vida digna. Apesar da ideia ter surgido inicialmente apenas dentro do 39º Batalhão de Polícia Militar (BPM), logo a comunidade ficou sabendo da história de Joana e lotou as caixas de mensagens da BM, numa onda de solidariedade.

Assim, com ajuda de empresas e de civis, a arrecadação de alimentos, materiais e insumos para uma eventual reforma da vida de Joana está sendo organizada. Por enquanto, a vida da idosa já parece ter melhorado. Um mercado ofereceu um ano de rancho grátis para ela, cobertas foram doadas e alimentos foram entregues. Mas a campanha para construção de uma nova casa só seguirá se o proprietário da terra onde mora a senhora permitir que obras sejam feitas no local. Por enquanto a BM está apenas listando interessados em contribuir com a reforma. Quem deseja ajudar deve contatar a BM de Palmeira das Missões, informar um número para contato e com qual material pretende contribuir. Assim que a BM obtiver liberação dos proprietários do terreno, os interessados serão chamados pelo batalhão.

Além disso, apesar do bom exemplo demonstrado pela comunidade, a BM alerta para eventuais golpes. Em comunicado, os militares afirmam que não estão arrecadando dinheiro e não possuem conta bancária para o auxílio. “Quem pretende doar, criamos uma lista de intenção, com nome, telefone e o que deseja doar para que oportunamente possamos entrar em contato e juntaremos o necessário, em momento algum receberemos doação em espécie (dinheiro), pegaremos especificamente o material necessário para a construção e organização da casa”, afirmou a BM, em nota.

O Alto Uruguai