A recém-nascida Ana Vitória teve alta do Hospital Vida & Saúde, em Santa Rosa, na manhã desta terça-feira (27) e retorna para Panambi. Ela ficou 24 dias internada na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal e mais três dias na UTI pediátrica da casa de saúde.
Ana Vitória foi encaminhada para a Associação de Voluntários – Casa de Passagem Panambi (Avocap), onde ficará sob os cuidados do Conselho Tutelar e receberá acompanhamento médico e avaliações regulares.
Leia a nota da instituição na íntegra:
“Nesta terça-feira (27), teve alta no Hospital Vida & Saúde, em Santa Rosa, a recém-nascida que foi transferida de Panambi após ser arremessada de um ônibus. Internada desde o dia 30 de junho no HVS, a bebê permaneceu durante 24 dias na UTI Neonatal e três dias na UTI Pediátrica da Instituição.
Durante a internação, ela recebeu acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, onde realizou uma série de exames e um rigoroso acompanhamento do serviço de referência das UTIs Neonatal e Pediátrica.
De acordo com os médicos, a recém-nascida recebeu alta com uma melhora significativa e progressiva em relação ao quadro clínico inicial, não sendo possível, entretanto, determinar possíveis sequelas futuras. A bebê seguiu aos cuidados do Conselho Tutelar de Panambi e deve manter acompanhamento clínico continuado com equipe multiprofissional, incluindo avaliações regulares com neuropediatras.“
Relembre
Ana Vitória foi arremessada de um ônibus intermunicipal em Panambi, na Avenida Presidente Kennedy, na madrugada do dia 30 de junho. A responsável pelo crime, uma jovem de 20 anos, havia entrado no coletivo em Porto Alegre e seguia em direção ao município de 16 de Novembro quando entrou em trabalho de parto.
Após passar por Soledade, ela entrou em trabalho de parto no caminho para Panambi. Sem saber em que cidade estava, ela colocou a criança em uma sacola e arremessou da janela do ônibus. Ana Vitória ficaria mais de 30 minutos na rodovia até um caminhoneiro informar a Brigada Militar, que imediatamente foi ao local e a salvou.
Ela passaria mais de 12 horas no Hospital de Panambi até ser transferida para a UTI Neonatal. Devido à fratura, foi diagnosticado um edema cerebral, um inchaço em uma região do cérebro decorrente do aumento de líquidos dentro do órgão, aumentando o volume e resultando em uma pressão intracraniana.
Este edema pode levar a tonturas, dormências, distúrbios na visão, na fala, vômito, perda de força muscular, entre outros. E, por se tratar de uma criança, por ter um crânio sem estrutura óssea completamente solidificada, a cabeça pode aumentar de tamanho.
Além disso, há potenciais complicações que podem ocorrer, desde sequelas permanentes a incapacitantes, desde atraso no desenvolvimento, dificuldade de aprendizagem, prejuízo cognitivo, perda de sensibilidade em certas partes do corpo, paralisia muscular, deficiências físicas, mudanças de personalidade e até coma.
Enquanto os médicos salvavam a criança, a jovem responsável pelo crime chegava em 16 de Novembro e retornou para casa. De lá, acompanhou as notícias sobre o caso até que a Brigada Militar do 14º Batalhão Policial Militar a localizou e a encaminhou à Delegacia de Polícia de São Luiz Gonzaga.
Lá, prestou depoimento à Polícia Civil de Panambi e admitiu a autoria do crime. A jovem afirmou que não sabia quem era o pai da criança e não havia contado para a família sobre a gravidez.
Horas depois, ela foi presa preventivamente e encaminhada à Penitenciária Modulada de Ijuí. Menos de dez dias após o crime, a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou a jovem por tentativa de homicídio.
Uma semana depois, o Ministério Público em Panambi denunciou a jovem por tentativa de homicídio triplamente qualificado cometido contra a recém-nascida. “O homicídio não se concretizou em razão do socorro prestado por policiais militares que foram acionados por pessoas que trafegavam pelo local. Os policiais levaram a bebê, que teve hematomas, escoriações e fissuras cerebrais, além de fratura da região parietal no crânio, para o hospital de Panambi. De lá, foi transferida para o município de Santa Rosa, onde foi internada em um leito de UTI neonatal”, afirmou o promotor de Justiça Fernando Freitas Consul.
O crime se enquadra nas qualificadoras de motivo fútil, pois a denunciada pretendia ocultar da família e de todos a existência da filha, porque reputava não reunir condições financeiras para criá-la; meio cruel, dado que a criança foi arremessada pela janela do ônibus, dentro de um saco de lixo, com o veículo em movimento em um dia que os termômetros marcavam a temperatura próxima a 1ºC, causando hipotermia até a chegada do socorro; e mediante recurso que impossibilitou a defesa da ofendida, já que, em razão da idade, em seus primeiros minutos de vida, não poderia esboçar qualquer resistência. “Além disso, se trata de crime cometido contra vítima menor de 14 anos e contra descendente da acusada”, finaliza o promotor.
Dias depois, a Juíza de Direito Simone Brum Pias, da 1ª Vara Judicial do Foro da Comarca de Panambi, aceitou a denúncia contra a acusada.
SB Comunicações