Saúde
Foto: EBC

As infecções hospitalares associadas ao risco de aparecimento de novas cepas de microrganismos resistentes aos medicamentos utilizados para tratamento são um problema de saúde global crescente. Conforme relatório publicado na revista “The Lancet Regional Health”, o problema causou quase 600 mil mortes nas Américas em 2019.

Esses óbitos estão associados a infecções por bactérias resistentes aos antibióticos, com pelo menos 141 mil casos com ligação direta. No mesmo ano, 1,27 milhão de mortes ocorreram por resistência antimicrobiana em todo o planeta.

De acordo com levantamento do IHME (Instituto de Métricas e Estatísticas em Saúde, na sigla traduzida para o português), entidade ligada à Universidade de Washington (Estados Unidos), uma de cada cinco mortes por infecções por bactérias resistentes são de crianças com até 5 anos. E frequentemente estão associadas a condições tratáveis.

Isso levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a acender um alerta sobre o risco à saúde pública das chamadas “bactérias super resistentes” ou “superbactérias”. A agência avalia que os problemas de saúde causados por esses microrganismos e o número de mortes em decorrência de tais infecções é maior até mesmo que as provocadas por outros tipos, como malária e HIV (aids).

Cenário brasileiro

No Brasil, os óbitos associados à resistência microbiana são escassos, parte disso em razão da falta de notificação dos serviços de hospitais privados. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é responsável pelo monitoramento das infecções relacionadas à assistência à saúde, bem como da resistência aos antimicrobianos no país.

Segundo dados do órgão, a incidência de novas infecções ligadas ao problema no país estava em queda desde 2012. Porém, nos três anos da pandemia, os casos notificados pelos centros hospitalares voltaram a subir.

Maria Cláudia Stockler de Almeida, médica-assistente da divisão de clínicas de moléstias infecciosas e parasitárias do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), explica que há quatro tipos principais de infecções ligadas à assistência à saúde.

São infecções primárias da corrente sanguínea associadas ao cateter venoso central (inserido na corrente sanguínea); infecções do trato urinário associadas ao cateter vesical de demora (sonda na bexiga); pneumonia hospitalar associada ou não à ventilação mecânica (ou respiradores, que tiveram grande uso durante a pandemia da Covid); e as infecções de sítio cirúrgico (durante o pós-operatório no local onde houve o corte).

Há também o surgimento de cepas resistentes fora do ambiente hospitalar, ligadas principalmente ao uso indiscriminado de antibióticos, mas não só. “A gente evita o termo ‘superbactérias’ porque dá a entender que elas são super poderosas, e não são; elas têm algum mecanismo que favorece a resistência a determinados antibióticos”, diz a médica.

Apesar de todos os riscos à saúde, especialistas criticam que uma posição mais contundente da OMS, como classificar a situação como uma emergência em saúde global, nunca foi adotada nas últimas quatro décadas. “Seria importante um sistema de vigilância e de monitoramento global”, defende Claudio Maierovitch, médico sanitarista, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Ele pontua a importância de entender que a origem de formas resistentes é parte da seleção natural que ocorre entre as novas gerações de microrganismos quando expostos à pressão dos antimicrobianos.

Como a resistência pode ocorrer tanto no ambiente hospitalar como comunitário por causa do consumo de produtos e alimentos que utilizam em sua produção uma grande variedade de antibióticos, há risco elevado de hospitalizações nos grupos que demandam atenção especial à saúde, como idosos e crianças. “São esses dois extremos de idade que têm o maior risco, tanto neonatos quanto os indivíduos mais velhos”, afirma o infectologista pediatra Renato Kfouri.

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O Sul