O chorinho de uma bebê recém-nascida foi motivo de emoção e alívio na Santa Casa de Alegrete. A pequena Júlia veio ao mundo com apenas 520 gramas, após 26 semanas e quatro dias de gestação. O parto ocorreu às 15h no dia 7 de julho e agora, já com 13 dias de vida, a bebê está com 560 gramas. A resposta de Júlia aos cuidados está deixando a equipe médica e os pais otimistas de sua recuperação.
O nascimento pode ser considerado um milagre em razão do peso. A trajetória até o parto não foi fácil, passando por horas de medo e de ansiedade dos pais, a vendedora Marina Terres, 21 anos, e o motorista de caminhão Jardel Darlan Lucas, 28 anos.
O casal é de Lagoa Bonita do Sul, no Vale do Rio Pardo, cidade que fica a 400 quilômetros de Alegrete. Com 20 semanas de gravidez, Marina recebeu o diagnóstico de uma restrição de crescimento.
— Ela teve um crescimento intrauterino restrito muito precoce, desde antes das 20 semanas de gestação. O crescimento restrito acontece quando o fluxo placentário, que deveria estar nutrindo o bebê, começa a ser deficitário e acaba que o nenê não recebe o fluxo sanguíneo adequado para obter o crescimento — explica a ginecologista Juliana de Moura Severo, que acompanhou o o caso desde cedo.
Em razão dos sangramentos, Marina foi orientada a manter repouso absoluto. No dia 20 de junho, ela internou no Hospital São João Evangelista, na cidade de Sobradinho, que fica a 12 quilômetros de casa, para esperar por uma transferência a algum centro de saúde que tivesse recursos e uma UTI Neonatal de referência para atender mãe e bebê. Naquela ocasião, Júlia tinha apenas 460 gramas e já se mexia muito na barriga. Seus batimentos cardíacos eram monitorados de duas em duas horas.
— O sentimento que a gente tinha na gestação era incrível, porque ela não parava de se mexer um minuto. Até os médicos brincavam que ela era uma bebê hiperativa, porque passava o dia se mexendo — conta a mãe.
A força-tarefa da ginecologista Juliana, que passou o dia ao telefone em busca de um leito disponível, permitiu que a família fosse para a Santa Casa de Alegrete. Marina conta que o transporte entre as cidades foi feito com veículos da prefeitura de Lagoa Bonita do Sul. Chegando na Fronteira Oeste, o casal teve que tomar uma decisão.
— Foi bem difícil e eu nunca mais quero lembrar. O médico disse que teríamos que escolher: ou interromper a gestação ou arriscar e tentar esperar para fortalecer o pulmãozinho dela. Diante de muito choro e muita oração, decidimos esperar e conseguimos deixar ela mais fortinha — conta Marina, emocionada.
Mesmo já tendo passado por outros casos de bebês prematuros, a equipe do hospital também se emocionou junto com o sucesso do parto.
— É uma comoção, todo mundo se envolve, pergunta, faz uma corrente positiva para que esse bebê tenha sucesso, porque a gente sabe que vai ficar muito tempo na UTI, pelo menos uns três meses — diz a médica Marilene de Oliveira Campagnolo, neonatologista responsável técnica pela UTI Neonatal da Santa Casa de Alegrete.
A médica explica que nos centros que são referência de prematuros, a chance de sobrevivência dos bebês vai em torno de 40% a 50%. Ela relata que em países de primeiro mundo, a estatística chega a 90%.
Otimista, Marina afirma que a filha precisa chegar perto dos 2 quilos para conseguir alta. Enquanto isso, a mãe permanece hospedada em Alegrete e vai todos os dias visitar a nenê. Já Jardel está se dividindo entre as idas ao hospital e o trabalho.
—Ela está muito ativa, já até arrancou a sonda um dia! — brinca Marina.
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Gaúcha ZH