Saúde
Foto: Comunicação Kosma / Divulgação

Quase 200 pacientes atendidos no norte do RS aguardam, há mais de duas semanas, a chegada de um medicamento utilizado na realização de exames oncológicos. Os insumos produzidos somente em Porto Alegre têm validade de apenas 12 horas, e por causa dos bloqueios nas rodovias causados pelas enchentes que atingiram o Estado, não chegam a tempo para realização de tomografias que apontam o avanço ou remissão da doença.

Atualmente apenas um laboratório realiza o chamado PET-CT no norte do Estado. A Clínica Kozma recebe todos os meses, em média, 250 pacientes para o exame que depende do medicamento FDG-18F. Destes, cerca de 15 realizam o atendimento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Os pacientes oncológicos são de Passo Fundo, de outras regiões do RS e até de Santa Catarina. O exame é feito com a tomografia por emissão de pósitrons (PET) somada a tomografia computadorizada (CT), em que o paciente recebe o FDG-18F. Essa substância permite que os equipamentos detectem tecidos de câncer, onde está localizado o tumor no corpo e os avanços do tratamento.

— Não é um exame de urgência, é verdade, mas ele é muito importante para se acertar o tipo de medicamento, o tipo de dose, o momento de tratar, mas, sobretudo, é angustiante. A angústia dessas pessoas é terrível, porque elas têm um tumor, têm a expectativa de estarem se curando —  explica o médico radiologista Aldo Paza Jr.

Angústia que também acomete a aposentada Vera Olívia Malheiros Fernandes. Há seis anos ela trata um câncer no intestino com metástase no fígado. Em maio, ela deveria realizar o exame PET-CT para verificar como está a evolução do tratamento, mas precisa aguardar a chegada do medicamento.

— Enquanto puder fazer, eu vou fazendo ali, mas está difícil. Agora, por exemplo, é a história do insumo, que o insumo não vem porque não tem avião — conta a professora aposentada.

Dificuldade logística

O transtorno está na impossibilidade de distribuição do medicamento. Ele é produzido no Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre, o único fornecedor disponível no RS. Depois de pronto, ele precisa ser utilizado em, no máximo, 12 horas. Todavia, desde que as enchentes causaram bloqueios em rodovias, como a BR-386, o transporte do produto está inviável dentro desse prazo.

— O problema é que os nossos produtos são marcados com flúor 18, então aproximadamente a cada 110 minutos ele vai perdendo metade da atividade radioativa. Com o passar do tempo vão perdendo a atividade radioativa e, além disso, após 12 horas ele perde a estabilidade do produto, deixa de ter a sua atividade e começa a inexistir — explica o coordenador do centro de produção de radiofármacos do Instituto do Cérebro, Frederico Werlang.

O Instituto do Cérebro e a clínica de Passo Fundo tentaram, através de transportadoras especializadas, rotas alternativas para que o FDG chegasse no norte do RS em tempo hábil. Todas as três tentativas fracassaram. Agora, as duas instituições tentam viabilizar o frete por via área.

O objetivo não é fácil de ser alcançado. Isso porquê o FDG é um radiofármaco, ou seja, é um produto nuclear. Por isso, o transporte precisa seguir parâmetros específicos. Uma das aprovações necessárias é por parte da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), outra, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

— Estamos tentando. Como se trata de um rádiofármaco, existe uma regulação pela CNEN, que é um órgão que se situa no Rio de Janeiro, um órgão nacional, e que determina as regras de transporte desse rádiofármaco. Então isso tem implicado em muitas dificuldades para que a gente consiga — explica o radiologista.

A Comissão Nacional de Energia Nuclear confirma que recebeu a solicitação do laboratório de Passo Fundo para o transporte do medicamento e afirma que avalia tecnicamente a possibilidade. Entretanto, o diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da CNEN, Alessandro Facure, diz que essa autorização deve partir da Anac.

— A CNEN impõe requisitos bem rigorosos para o transporte de material radioativo seguro no país. O plano de transporte deve conter várias informações que permitam a avaliação técnica da CNEM. Entre elas, quais são as rotas de transporte, o tipo de material radioativo que vai ser transportado, questões de proteção física e proteção radiológica, além da responsabilidade dos profissionais que estão envolvidos nessa operação. No entanto, cabe destacar que a responsabilidade por permitir transporte aéreo de material radioativo em aeronaves é uma prerrogativa da Anac — afirmou Facure.

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Gaúcha ZH