O número de casos prováveis de dengue no Brasil ultrapassou meio milhão, com 75 mortes pela doença comprovadas e outras 350 sendo investigadas.
Os dados são do relatório mais recente do Ministério da Saúde divulgado no dia 12 de fevereiro,
Durante as seis primeiras semanas epidemiológicas deste ano, foram registrados 512.353 casos – um número quase quatro vezes maior do que o registrado no mesmo período em 2023 (128.842).
Enquanto a dengue clássica, mais comum, costuma ser autolimitada e pode ser controlada com tratamento para aliviar os sintomas, o tipo mais grave da doença, requer intervenção médica imediata, monitoramento rigoroso e, em alguns casos, cuidados intensivos para prevenir complicações potencialmente fatais.
Como diferenciar a dengue clássica da dengue grave
Os sintomas iniciais da dengue clássica e da forma grave são semelhantes nos primeiros dias. De acordo com o Ministério da Saúde, qualquer pessoa com febre súbita (com temperatura alta, entre 39°C e 40°C) e pelo menos duas das seguintes manifestações – dor de cabeça, fadiga, dores musculares ou articulares, e dor nos olhos – deve procurar assistência médica imediatamente.
Para todos os que têm o diagnóstico confirmado, a hidratação é fundamental para evitar o agravamento do quadro.
A distinção entre os diferentes quadros – dengue clássica e dengue grave – geralmente ocorre entre o terceiro e o sétimo dia, especialmente quando a febre diminui.
É nesse período que começam a surgir sinais de alerta específicos.
A forma grave antes era conhecida como ‘dengue hemorrágica’, mas o termo caiu em desuso pela comunidade médica, já que a hemorragia não é o único e nem o principal sintoma do quadro.
“Os pacientes que só procuram os sintomas de hemorragia podem demorar a perceber que os sintomas estão se agravando”, aponta André Ribas Freitas médico epidemiologista e professor da Faculdade São Leopoldo Mandic de Campinas.
A dengue grave é rara, mas pode levar ser fatal. A principal causa de morte por dengue é o chamado “choque”, que se refere ao estado de choque circulatório. Nele, há uma queda acentuada da pressão arterial seguida de insuficiência circulatória grave.
O quadro acontece quando líquidos escapam dos vasos sanguíneos e vão parar nos tecidos ao redor. Esse processo resulta em uma redução significativa da quantidade de sangue em circulação, o que pode causar complicações graves, incluindo a falência de múltiplos órgãos.
Segundo Freitas, um dos sintomas do choque é a hipertensão postural, caracterizada pela sensação de tontura ao ficar em pé.
“Outra forma de identificar esse fenômeno é quando a pessoa faz menos xixi devido à diminuição do volume sanguíneo, o que resulta na insuficiência de volume para urinar.”
Outros sintomas são dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes, manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade, insuficiência cardíaca e até problemas respiratórios.
c”Uma forma de identificar a dengue é a prova do laço positivo, quando o médico aperta o braço da pessoa com um torniquete e surgem pequenas petéquias [manchas avermelhadas] na pele, indicando sinal de hemorragia”, aponta o virologista Flávio Fonseca, professor no CTVacinas (centro de pesquisas em biotecnologia) e do Departamento de Microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
A hemorragia mencionada pelo especialista também pode se manifestar como sangramento espontâneo na gengiva, boca, nariz, ouvidos ou intestino – sintomas considerados graves, que não necessariamente aparecerão em todas as pessoas com dengue grave.
Por que a dengue grave acontece?
O vírus da dengue é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti e possui quatro sorotipos diferentes circulantes no Brasil.
Quando alguém é infectado por um deles, adquire imunidade contra aquele tipo específico, mas ainda fica suscetível aos demais. Por isso, uma pessoa pode pegar a doença mais de uma vez.
“A infecção secundária por qualquer sorotipo aumenta o risco de desenvolver formas mais graves da doença. Este fenômeno já foi comprovado por diversos estudos”, aponta Felipe Naveca, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz.
O quadro acontece porque os anticorpos produzidos contra o primeiro sorotipo da dengue podem facilitar a entrada do vírus na célula durante uma nova infecção por um sorotipo diferente, abrindo caminho para esse vírus causar sintomas mais graves.
De acordo com o Ministério da Saúde, todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença, mas idosos e pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, assim como aquelas com predisposição a hemorragias, têm maior risco de evoluir para casos graves e outras complicações que podem levar à morte.
“Quanto ao tratamento da dengue grave, não há uma abordagem específica. Focamos em tratar os sintomas e em repor líquidos. A administração de soro por via intravenosa é essencial para evitar a perda excessiva de sangue e líquidos, que são fatores que podem levar ao óbito”, explica Fonseca.
Controle da dengue
A principal medida contra a dengue é o controle do vetor, o mosquito que transmite a doença. Para isso, deve-se evitar o acúmulo de água parada dentro de casa, no quintal, em vasos de plantas ou qualquer recipiente com água, onde a fêmea deposita ovos que têm o potencial de se transformar em novos mosquitos adultos.
“Assim não apenas nos protegemos contra o vírus da dengue, mas também contribuímos para reduzir a quantidade desse vetor. Isso ajuda a proteger não apenas contra a dengue, mas também contra outros vírus, como o zika e o chikungunya. É uma única medida de cuidado dentro de casa, mas seu impacto se estende não apenas a você, mas também à comunidade como um todo”, diz Naveca.
Para proteção individual, a vacina QDenga está disponível no SUS (no momento, para crianças de 10 a 14 anos de municípios específicos) e no sistema privado para pessoas entre 4 a 60 anos. Outra opção do sistema privado é a vacina Dengvaxia, que é indicada apenas para quem já teve ao menos uma infecção pela doença.
As vacinas possuem eficácias distintas para cada sorotipo da dengue, mas podem representar uma proteção tanto contra a doença clássica quanto a sua forma mais grave.
O uso de repelentes também é um bom aliado contra a infecção. A Anvisa recomenda, para o combate ao mosquito da dengue, o uso de repelentes que contenham alguma das três substâncias a seguir:
- Repelentes com o ativo IR3535, como o RepelMax;
- DEET (N-N-dietilmetatoluamida), presente em repelentes como Off;
- Icaridina, presente em repelentes como Exposis.
A agência reforça que é necessário indicação médica específica para aplicar repelentes em crianças com menos de dois anos.
Receba as notícias do Três Passos News no seu celular:
https://chat.whatsapp.com/JYluchMp1Wf43mJY9aO3b3
BBC Brasil