Pesquisadores americanos desenvolveram uma vacina universal contra o vírus Influenza, causador da gripe, para conferir imunidade a todos os seus diferentes tipos, incluindo aquele que provoca a gripe aviária, e de forma vitalícia, sem demandar reforços.
O imunizante foi criado por pesquisadores da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon (OHSU, da sigla em inglês), nos Estados Unidos, e o estudo em que eles descrevem o potencial da dose foi publicado na revista científica Nature Communications.
O trabalho é inicial e avaliou a vacina entre um pequeno grupo de macacos. Porém, os cientistas celebraram os resultados positivos como um passo para proteger a população de uma só vez contra múltiplas versões do Influenza, algumas potencial pandêmico, algo que descrevem como “urgentemente necessário”.
“É empolgante porque, na maioria dos casos, esse tipo de pesquisa científica básica faz com que a ciência avance muito gradualmente; (geralmente) em 20 anos, ela pode se tornar algo. Mas isso (a nova abordagem) pode se tornar uma vacina em cinco anos ou menos”, diz o autor do trabalho Jonah Sacha, professor e chefe da divisão de Patobiologia do Centro Nacional de Pesquisa de Primatas da OHSU, em comunicado.
Nos testes, os cientistas expuseram 17 macacos, 11 deles vacinados, ao vírus da gripe aviária de alta patogenicidade H5N1. O patógeno costumava circular apenas em aves, mas tem se disseminado entre mamíferos, como furões, leões-marinhos e vacas, e acendido o alerta para a possibilidade de se adaptar a humanos e provocar uma nova crise sanitária como a da covid.
No estudo, após a exposição ao H5N1, todos os seis que não foram imunizados morreram. Já entre os que receberam a vacina, 6 deles (54,5%) sobreviveram. Segundo os pesquisadores, a sobrevivência foi relacionada ao nível da resposta imunológica no animal após a vacinação.
Porém, o mais interessante é que a vacina não foi desenvolvida para o H5N1. Na realidade, ela foi construída baseada na versão do vírus H1N1 de 1918, que foi responsável pela gripe espanhola – uma das últimas pandemias causadas por um Influenza e que deixou milhões de mortos pelo mundo.
O método inovador envolve a inserção de pequenos fragmentos do Influenza dentro de um outro vírus, o citomegalovírus (CMV). Os cientistas explicam que o CMV infecta a maior parte das pessoas durante a vida e, geralmente, não produz sintomas ou causa queixas leves. Nessa estratégia, ele é usado como um vetor, uma espécie de transporte, para levar os fragmentos do patógeno-alvo, o Influenza, até o sistema imunológico.
A diferença, porém, é que esse vetor é projetado para induzir uma parte do sistema imunológico mais ampla, composta pelas chamadas células T. Enquanto isso, as doses comuns utilizadas hoje são criadas para induzir anticorpos, que são específicos para a versão mais recente do vírus.
“O problema com a gripe é que ela não é apenas um vírus. Assim como o vírus SARS-CoV-2, ele está sempre evoluindo para a próxima variante e sempre somos levados a perseguir onde o vírus estava, não onde ele estará”, diz Sacha.
Os anticorpos reconhecem proteínas da superfície do vírus, o que leva a uma identificação rápida para que se liguem a elas e impeçam a infecção. Mas essas proteínas são as que mais sofrem mutações ao longo do tempo, justamente para que o Influenza consiga escapar dessas defesas.
Já as células T nos pulmões são uma resposta mais profunda, mas que reconhecem proteínas estruturais que ficam dentro do vírus, e que não sofrem constantes mutações. Por isso, conseguem atacar diversos tipos diferentes do vírus Influenza.
Para testar essa teoria, os pesquisadores desenvolveram uma dose baseada no vírus H1N1 da gripe espanhola de 1918 que induzia as células T. Em seguida, aplicaram o imunizante nos animais e o expuseram à versão mais recente e preocupante do vírus, o H5N1, da gripe aviária.
“Funcionou porque a proteína interna do vírus estava muito bem preservada. Tanto que, mesmo depois de quase 100 anos de evolução, o vírus não pode mudar essas partes extremamente importantes de si mesmo”, celebra Sacha.
“A imunidade induzida pela vacina foi suficiente para limitar a infecção pelo vírus e os danos aos pulmões, protegendo os macacos dessa infecção muito grave”, complementa Simon Barratt-Boyes, professor de doenças infecciosas, microbiologia e imunologia da Universidade de Pittsburgh.
Sacha explica ainda que a técnica foi testada para o Influenza devido à alta carga do vírus e suas múltiplas variantes, mas que a abordagem é “muito viável” até mesmo para outros patógenos. “Para vírus com potencial pandêmico, é fundamental ter algo como isso. Nós nos propusemos a testar a gripe, mas não sabemos o que virá depois”, afirma.
Receba a notícias do Três Passos News no seu celular:
https://chat.whatsapp.com/GD1P1RTEpXKIWUSRQLhdsM
O Sul