Saúde
Foto: Divulgação

Em uma operação realizada pela primeira vez no Rio Grande do Sul, o jovem Jessé Luis Azeredo de Oliveira, de 31 anos, passou por um transplante duplo de coração e rim vindos do mesmo doador em 27 de janeiro. As duas cirurgias, feitas em um intervalo de 29 horas, contaram com uma força-tarefa das equipes cardiologia, nefrologia, enfermagem, psicologia, nutrição e fisioterapia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), instituição responsável pelo procedimento.

Já em casa em processo de recuperação, Jessé conta que a cirurgia oferece esperança de retomada da vida normal. Ele descobriu uma meningite em 2014, detectou problemas renais logo em seguida e, em 2021, passou a conviver com problemas cardíacos.

“Quando tudo começou, eu tinha 24 anos, e a primeira restrição, beber água à vontade [por conta do problema nos rins]. Agora posso tomar água sossegado, inclusive é o recomendado”, relata.

Desde lá, atividades cotidianas como subir escadas, carregar a filha pequena no colo e beber um copo d’água se tornaram desafios.

“Tem muitas coisas que eu quero voltar fazer, como correr, fazer exercícios, jogar futebol. Para mim, é um milagre”, comemora o paciente.

Operação inédita contou com força-tarefa

Se o começo da nova vida de Jessé se deu em 27 de janeiro, quando ele entrou na sala de cirurgia onde receberia sem novo coração, as dificuldades remontam a 2014, quando ele descobriu uma meningite.

Posteriormente ao diagnóstico, o paciente começou a desenvolver quadros de insuficiência renal e insuficiência cardíaca. A primeira fez com que ele precisasse passar por hemodiálise, enquanto a segunda causou fraqueza e limitação física – com uma pressão que chegava a 7 por 4, Jessé passou a ter dificuldade para realizar tarefas básicas, como falar por muito tempo, pegar a filha no colo ou subir escadas sem ter tontura ou falta de ar.

Quando a insuficiência renal chegou ao ponto em que se tornou necessário o transplante, o quadro cardíaco era grave a ponto de a cirurgia ser muito arriscada. Seria necessário, portanto, um procedimento duplo.

“É o que chamamos de transplante simultâneo sequencial. Simultâneo por ser do mesmo doador, sequencial porque não é feito em uma única cirurgia. A cirurgia cardíaca é muito grande e de recuperação delicada. Agregar a cirurgia do rim aumenta o risco, então o rim fica em uma máquina de preservação e o transplante é feito na manhã seguinte. Requer uma grande sincronia entre equipes e central captador de órgãos, tudo precisa funcionar como uma orquestra”, explica a cardiologista da equipe de Insuficiência Cardíaca e Transplante Cardíaco do HCPA, Lívia Goldraich.

A equipe médica indicou realizar primeiro o transplante cardíaco, avaliar a recuperação por algumas horas e, na sequência, partir para o transplante do rim. Um coração não dura mais do que 6h fora do corpo, enquanto rins podem ficar até 48h em condições especiais de preservação. Jessé entrou na sala de cirurgia em 27 de janeiro para receber um novo coração e, cerca de 29h depois, voltou ao mesmo local para receber o rim. Em menos de 30 minutos, o novo órgão já funcionava e produzia urina, o que é sinal de sucesso.

Para o paciente, o que poderia gerar medo surgiu como esperança. O fato de ser o primeiro a passar pelo procedimento no estado não gerou receito, ele garante.

“Fiquei com esperança de fazer logo e resolver. Tem que transplantar, vamos transplantar. E aí fui informado que seria o primeiro. Vamos ser o primeiro, então, vamos lá!”, conta.

Sucesso abre porta para avanços

Agora, além de uma nova vida para Jessé, o primeiro transplante duplo do RS apresenta novas perspectivas científicas. Se o procedimento é considerado altamente complexo, o sucesso da cirurgia realizada no HCPA mostra que o sistema existente é capaz de atingir êxito.

“Pessoas acometidas por falência de dois órgãos vitais muitas vezes acabam não tendo chance, porque essa situação é considerada contraindicação para transplante. Se não fosse possível realizar esse transplante duplo com o Jessé, infelizmente o tratamento dele seria bastante limitado. Poder realizar transplantes de muitos órgãos indica uma maior complexidade do sistema como um todo. Certamente abre portas”, comemora Lívia.

Para o paciente, fica a mensagem de que a doação de órgãos pode significar esperança de sobrevivência em um contexto de dificuldade:

“A doação de órgãos salva pessoas. Antes de ter problemas de saúde, não tinha conhecimento sobre o assunto. As pessoas às vezes não doam porque nunca conversaram, e tem que ser mais estimulado. Conheci muita gente esperando anos por um órgão. Que meu caso sirva de exemplo de como a doação salva”, diz Jessé.

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G1 RS